tag:blogger.com,1999:blog-29862418261643580452024-03-12T23:10:04.346-03:00Era uma vez no meu bairroRENATA VS: Editora e Ombudswoman da periferia. Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/08337348869621152552noreply@blogger.comBlogger45125tag:blogger.com,1999:blog-2986241826164358045.post-53262270721245215402019-01-15T11:52:00.002-02:002019-01-15T12:20:12.997-02:00Comece a dar bola para sua fala, antes que ela lhe deixe a pé<br />
<h3>
Entrevista
com Samuel Soares</h3>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEix_uUM2frfm6C35HhrqCAhb5eYzhN9nGzymDJoBPCo4XzsTZW3XnRQbhc1jHyX5_19ch3SSe_RUo9p2LUuDNMgMzdUHcNApaCZtoVGFkYglkQ5S1caWmekSXilgYSmTjJ9OmRWgkfkNGQ/s1600/Sa.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="512" data-original-width="779" height="262" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEix_uUM2frfm6C35HhrqCAhb5eYzhN9nGzymDJoBPCo4XzsTZW3XnRQbhc1jHyX5_19ch3SSe_RUo9p2LUuDNMgMzdUHcNApaCZtoVGFkYglkQ5S1caWmekSXilgYSmTjJ9OmRWgkfkNGQ/s400/Sa.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Entrevistei para o grupo Dicas: Língua Portuguesa o eterno militante Samuel Soares, Samuca para os íntimos, que, como um d. Quixote, está sempre pronto para defender uma causa humanitária. Nos conhecemos nos idos dos anos 80, quando ele, na luta contra a ditadura, realizava trabalhos de conscientização de porta de fábrica e no movimento social. Muita água passou por debaixo dessa ponte chamada vida, mas o eterno lutador continua firme em sua disposição. Casado e pai de uma inteligente adolescente, corre a cidade em palestras contra a dependência química. Porém, a fala, quase o deixou na mão. Por isso hoje ele reserva parte importante de sua rotina nos cuidados com a voz e com a linguagem - o que justifica esta entrevista ao Dicas e a esta repórter que vos fala por escrito nestas mal traçadas letras Times New Roman corpo 12.</i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Renata:
Samuca, nos conhecemos há muitos anos. Quando o conheci, a comunicação oral
para você era muito importante, pois você, militante ativo do antigo Partidão,
realizava trabalho de conscientização junto a operários e movimentos populares.
Você teve um grave problema, um câncer bucal seriíssimo. Como foi para você
enfrentar isso e recuperar a voz?</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Samuel: Para
mim a voz é essencial, pois sou vendedor, e essa profissão depende da
comunicação. Porém, acima de tudo, eu entendo a voz como um elemento de
transformação. A palavra, principalmente a palavra dita, tem uma força muito
grande. E isso foi a minha maior motivação, depois que eu perdi o palato mole –
aquele finzinho do céu da boca –, eu fui fazer o trabalho de fono e,
sinceramente, a própria equipe de Fonoaudiologia do Hospital das Clínicas não
acreditava muito que eu voltasse a engolir e a falar. Mas eu fui fazendo os
exercícios, insistindo. Nesse particular, a persistência e o ânimo foram
fundamentais em minha recuperação, pois de uma coisa eu tinha certeza: eu não
poderia ser vencido por uma coisa pequena. Eu lutei contra o câncer e luto até
hoje com as sequelas que ficaram.</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Renata: Que
tipos de dificuldades você passou a enfrentar quando o câncer foi detectado e
após a operação. Como foi seu período de recuperação, quanto tempo isso durou?</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Samuel: O
período mais difícil mesmo durou um ano, um ano e meio, quando fiquei sem poder
me alimentar normalmente. Sem poder engolir, uma sonda descia pelo nariz e
levava o alimento líquido diretamente para o estômago. Isso interferia no uso
da voz, também, pois eu engasgava e tinha dificuldade de articular as palavras.
Depois, a sonda foi instalada diretamente no estômago, isso durou mais outro
ano mais ou menos também. Foram assim dois anos, dois anos e meio de uma luta
muito intensa, o primeiro dos quais o mais crítico. Algo que eu tenho que
ressaltar é o empenho e a competência da equipe de Fonoaudiologia, do
departamento de Pescoço e Garganta do Hospital das Clínicas, um grupo muito
atuante, que infelizmente acabou sendo extinto. Quando foi possível remover a
sonda e eu consegui voltar a engolir, a chefe da equipe comemorou pelo Whatsapp
no respectivo grupo, tal o envolvimento dos profissionais na conquista
alcançada por mim e por todos.</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Renata: Como
foi para você esse período?</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Samuca:
Outra coisa que é fundamental, e eu ia esquecendo de mencionar, é a questão da
aceitação. Enquanto a gente não aceita que tem um problema, nada dá certo.
Mesmo na época em que eu bebia muito, e você sabe a que me estou referindo, eu
não achava que tinha problema. Para mim era normal, e não previa nenhuma
consequência para meu abuso de álcool e tabaco. Enquanto eu não encarei que
esses dois vícios eram problemas e não fui buscar ajuda, minha vida não andou.
Aceitar que eu tinha esses vícios me permitiu encará-los de frente, sem
subterfúgios, e ir direto ao foco: esses são os problemas, vamos em busca das
soluções.</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Renata:
Assim que recuperou a fala, você passou a se dedicar com mais intensidade à
luta contra a dependência química, particularmente do álcool, por meio de
reuniões que organizava e palestras que ministrava (e ainda ministra). Essas
atividades também o estimularam a vencer as dificuldades da fala, para
contribuir com outras pessoas a partir de suas próprias exeperiênicas?</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Samuca:
Exatamente. Esse câncer que eu tive foi decorrência do meu abuso do álcool e do
tabaco. Eles, particularmente o álcool, causam danos imensos na vida de todo o
mundo. O diagnóstico da doença me motivou a intensificar uma batalha que eu já
travava contra a dependência química. A necessidade de comunição que essas
atividades impõem, me obrigam a trabalhar essa questão da voz, porque eu não
posso ministrar uma palestra em que ninguém entenda o que eu falo. A voz tem
que ser nítida. O mesmo vale para os vídeos que posto em meu canal do YouTube (Barato Louco):
as pessoas têm que entender a mensagem, senão o próprio vídeo fica sem sentido.
Assim, para mim, a necessidade de cuidados com a voz e com a linguagem está
intrinsecamente ligada à minha batalha de educação contra a dependência
química: o que eu não quero para mim, eu não quero para os outros.</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/gGnQw_tN07k/0.jpg" frameborder="0" height="266" src="https://www.youtube.com/embed/gGnQw_tN07k?feature=player_embedded" width="320"></iframe></div>
<br />
Renata: Em
seus vídeos, há uma preocupação de conteúdo (a prevenção das drogas), outra com
a qualidade da voz, mas há também uma preocupação com a linguagem. Você emprega
algumas expressões de teor mais popular, informal, mas no geral usa o padrão
culto do idioma, com modulações típicas do discurso oral. Você estuda a
gramática?</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Samuca:
Olha, sinceramente, não. Como dirijo meu discurso principalmente para
jovens, não tenho me preocupado com o estudo da gramática. É uma falha minha,
reconheço, que eu preciso enfrentar.</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Renata:
Embora você não estude sistematicamente a gramática normativa, a gente
observa que em seus vídeos você busca o vocabulário padrão, a concordância
correta, a linguagem clara, a seleção das palavras, de maneira que elas se
ajustem ao que você pensa e quer comunicar. Isso é intuitivo ou é consequência
de sua educação formal, de suas leituras – você lê muito, eu sei –, você, que
chegou a cursar Sociologia na Escola de Sociologia e Política?</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Samuca: Eu
procuro empregar nas palestras e vídeos a linguagem que uso no dia a dia. Tenho
uma certa formação acadêmica, porém isso é mais familiar. Meu pai cobrava muito
o uso correto do português, o vocabulário mais elegante, a concordância correta etc. Lá em casa ninguém
jamais comprou “dois pão”. Eram dois pães. Então é uma coisa mais entranhada
culturalmente, por meio da família. Quanto a gente toma café, você pode
observar que é a mesma linguagem que emprego nos vídeos. O cuidado com o uso do
verbo, saber escolher as palavras, é essencial. O verbo tem um poder muito
grande. Ele não pode ser inadvertidamente posto para fora da boca,
principalmente porque, depois que ele saiu, para a boca ele não volta mais.</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Renata: No
início desta entrevista, você falou do poder transformador da palavra, da
linguagem, pode se deter mais um pouco nesse particular?</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Samuca:
Dificilmente se vai encontrar um grande líder que não seja um bom orador. A
força do verbo é gigantesca, assim como seu poder de ensinar, de transformar,
de revolucionar – ou de destruir. Com a palavra, você salva ou mata uma pessoa.
Podemos destruir um futuro gênio da pintura, por exemplo, menosprezando por
palavras seus desenhos em idade infantil. Aliás, destruir com palavras é a
coisa mais fácil. Porém podemos fazer o inverso: desenvolver grandes talentos
por meio do incentivo veiculado por palavras de estímulo. Não podemos jamais
esquecer do poder da palavra. Ela não tem apenas o papel de comunicar, ela tem
o papel de educar, de transformar, de revolucionar.</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Samuel Soares
(26/01/62). Escola de Sociologia e Política (1982-1984). Membro dos Alcoólicos
Anônimos desde 1999. Tem trabalhos contra a dependência química em instituições
públicas e escolas de Ensino Fundamental e Médio.</div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhRXCAMmCh24wtUefdVZyyq5Hgxx0u9rM9ipd5y1ln_Y61jtnvjRpMUKkl_akr0aXq_VUTwBhXlF2UaJsyr5cjbSFGeUbXJJEf44NyHZ4QjjatDFhymgpwEK4ZDZACOLVmAj1rHDbisSgs/s1600/Renata.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="595" data-original-width="646" height="183" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhRXCAMmCh24wtUefdVZyyq5Hgxx0u9rM9ipd5y1ln_Y61jtnvjRpMUKkl_akr0aXq_VUTwBhXlF2UaJsyr5cjbSFGeUbXJJEf44NyHZ4QjjatDFhymgpwEK4ZDZACOLVmAj1rHDbisSgs/s200/Renata.png" width="200" /></a></div>
<i>Renata Sabrina é jornalista com especialização em mídias digitais. Administra vários sites e blogs, muitos dos quais com identidade oculta ou em nome de outros proprietários, uma vez que há entre eles os que prefiram o anonimato. Free lancer, PJ, como se diz nestes dias de escravidão assalariada, só não aceita trabalhos que envolvam pornografia, por questão de princípios, e agenciamento funerário, por questão de superstição. Contato estritamente profissional para : renatavilasabrina@gmail.com. Grata.</i>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/08337348869621152552noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2986241826164358045.post-21044264337132155952014-10-14T10:06:00.000-03:002015-06-24T20:50:30.441-03:00Polícia mata mais DOIS jovens no Morro Doce, a imprensa é coautora de mais esse crime<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgHXgj4ZpSRKQ9__juv0w1mXL9XO37A_ffwkgCoLlX9X3Md8-pnfENkNfFWZpDVHiXva5UwloLhziSSQBPbbZzlFmu9cprMfxOV4ozf3rzPUKETQINCXkxgXMoe1u9XcaS8sptRbFKYiIw/s1600/Alckmim-Rota.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="500" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgHXgj4ZpSRKQ9__juv0w1mXL9XO37A_ffwkgCoLlX9X3Md8-pnfENkNfFWZpDVHiXva5UwloLhziSSQBPbbZzlFmu9cprMfxOV4ozf3rzPUKETQINCXkxgXMoe1u9XcaS8sptRbFKYiIw/s1600/Alckmim-Rota.jpg" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Na periferia, até falta d'água é caso de polícia.</td></tr>
</tbody></table>
Renata Sabrina informa abruptamente<br />
<br />
Na madrugada deste domingo (12/10/14) dois jovens de motocicleta, ao não atenderem a ordem de parar dada pela polícia, foram assassinados por ela friamente. A razão de ele não ter parado é óbvia: em nosso bairro, a polícia primeiro atira, depois pergunta. Ontem pela manhã, um ônibus foi queimado e durante o dia houve confrontos entre moradores (que protestavam contra mais esse o crime covarde cometido) e a polícia. À noite, não havia ônibus para voltar para casa. lá pelas 23h30, uma boa cidadã, vendo que eu era pessoa de bem, me deu carona para eu voltar para casa. Busquei notícias na imprensa hoje sobre o assunto. Resultado: Nada. Nesse bairro em que o hospital mais próximo fica a quilômetros, não há uma agência bancária sequer, sem biblioteca, nem cinema, praticamente sem opção de lazer, até para a falta d'água o governador manda a polícia. Não é de espantar mais essa atrocidade, mas não vou me calar. A imprensa é coautora de mais esse crime de nossa bela polícia, herdeira bandeirante dos caçadores de índios e escravos.<br />
<br />
<span style="color: red;"><b>EM TEMPO, EM BUSCA DA VERDADE:</b></span><br />
<b style="color: red;">SP - 21/10/14</b><br />
<span style="color: red;"><br /></span>
<span style="color: red;">Fui em busca de informações sobre essas mortes controversas. Apurei que o menino, sem carteira de habilitação, ficou com medo da blitz e, tentando fugir da perseguição, perdeu o controle da moto e colidiu, não se sabe ao certo, contra um poste ou a parede da padaria do bairro Canaã. Teve morte instantânea. Seu carona na garupa morreu no hospital na quinta feira (16/10/14). Jovens que acompanharam o velório afirmam que o piloto perdeu o controle da moto quando foi alvejado na cabeça pelos policiais. Não portavam armas, apenas voltavam de um baile. Dois jovens, antes dos 20 anos, perderam suas vidas de um modo absolutamente inadmissível. Ou a polícia matou, ou teria levado à morte sem necessariamente sacar o revólver - acredite quem quiser nessa versão. Naturalmente, não havia testemunhas, a não ser os próprios policiais.</span>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/08337348869621152552noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-2986241826164358045.post-6466698226709751552014-10-07T12:07:00.001-03:002014-10-07T12:27:27.681-03:00Romance Zona Sul, um capítulo seco<h3 style="text-align: justify;">
<a href="https://www.blogger.com/null" name="_Toc318204534">Renata Acácia interessada nas histórias antigas
da tia quase centenária relata a ela o episódio de sua difícil viagem de longa
distância ao interior baiano</a>.</h3>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhNY6GaD2EvJzYLZebhQGkA5JJ3I20zhjcAPtqY9h55PuMMLCnQfbT3YqtHcrIetrP4aWVj4WuWjRPs7TcoPYhkGJABF2hVPH_hKWotcKYVlb3nzm_ROjHIvsyO2v0aIkxE-QzUcs6kGKM/s1600/m1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhNY6GaD2EvJzYLZebhQGkA5JJ3I20zhjcAPtqY9h55PuMMLCnQfbT3YqtHcrIetrP4aWVj4WuWjRPs7TcoPYhkGJABF2hVPH_hKWotcKYVlb3nzm_ROjHIvsyO2v0aIkxE-QzUcs6kGKM/s1600/m1.jpg" height="412" width="640" /></a></div>
<div>
<span style="text-align: justify;"><br /></span></div>
<div>
<span style="text-align: justify;"><span style="color: #660000;"><i>Este é o capítulo 7 do romance </i><a href="http://lojanovaalexandria.com.br/era-uma-vez-no-meu-bairro-zona-sul.html" style="font-style: italic;" target="_blank"><b>Zona Sul</b></a><i>, do Jeosafá. A propósito de uma conversa que o autor teve com os artistas plásticos do </i><a href="https://www.facebook.com/groups/822255321129158/?ref=ts&fref=ts" target="_blank"><b>Projeto Vidas Secas</b></a><i>, no sábado (4/10/14) ele os desafiou a descobrir que obra de arte plástica é pano de fundo da descrição feita pela personagem.</i></span></span></div>
<div>
<span style="text-align: justify;"><br /></span></div>
<div>
<span style="text-align: justify;">Comigo o café sempre esfria no copo. Tomo devagar para não
queimar a língua, então, acaba sempre assim, frio. Não tem importância,
acostumei.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
– Vai ter uma bela gastrite.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Já tive e já curei. Só se vier outra no lugar. Minha tia,
você puxa um fio de história e ele vai se desenrolando inteiro. Eu não consigo.
Minha memória é quebrada, cheia de buracos, de vazios.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhTVRxczt-50elb7wyEIC6JftKATq58tJ4aHlrOlR0YBJIUy_Gi-xg7MPUJr7DRMhQYTdPLOhJ4lBTFp9FPVlImopIkLFOeYf36ORBr07keKlKs7TPdiItKWt44NYRXmzRs7U7mSHW7oag/s1600/mulher+5.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhTVRxczt-50elb7wyEIC6JftKATq58tJ4aHlrOlR0YBJIUy_Gi-xg7MPUJr7DRMhQYTdPLOhJ4lBTFp9FPVlImopIkLFOeYf36ORBr07keKlKs7TPdiItKWt44NYRXmzRs7U7mSHW7oag/s1600/mulher+5.jpg" height="253" width="400" /></a>– Com o tempo a gente aprende a preencher os vazios,
perguntando aos outros, anotando em papelinhos. E assim vai-se vivendo. O que
não pode é deixar que os vazios cresçam demais, isso não, pois nesse caso não
há remendo que baste. Tem que ir atrás de fios para coser e remendar os furos
da memória.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Agora, por exemplo, que você desenrolou uma meada distante
na Europa e longe no tempo, me veio, do nada, a primeira grande viagem que fiz.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
– Que foi mesmo...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Quando terminei o Colegial – hoje chamam de Ensino Médio.
Uma vizinha, com filho novo e uma menina de três anos de idade, ia viajar para
a Bahia, o marido era motorista de caminhão e não podia acompanhá-la, porque
tinha uma carga para o Rio Grande do Sul. Então, de presente pelo término dos
estudos, ganhei de meus pais o presente de ir com ela.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
– Joga fora esse café frio. Toma esse com um pouco de
leite...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ih, dona Pilar, leite me faz mal. Põe só café. Isso...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
– Está bom?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Chega.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
– Quando foi isso, mesmo?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Em 1982, o ano em que tudo desandou. São Paulo-Cruz das
Almas...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
– Vai contando...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O ônibus inacreditável, que foi quebrando pelo caminho na
ida e na volta, saiu do Glicério, de uma <o:p></o:p></div>
<div style="text-align: justify;">
ruela meio escondida, colada à zona
cerealista, cheio de engradados, caixas de bagagens, trouxas mal amarradas,
pacotes de formatos e tamanhos surpreendentes, tudo no corredor dos passageiros,
pois o bagageiro estava lotado, inclusive de galinhas vivas, cães, gatos,
coelhos e todo um zoológico. Foi em janeiro, no mesmo mês em que morreu Elis
Regina. Fiquei chocada, porque o Ronaldo adorava, idolatrava, salve, salve a
Elis Regina. Pensei: o Rona vai endoidecer. Soube da notícia quando estávamos
em Salvador. Deu na televisão, uma procissão de gente acompanhava o velório na
avenida Brigadeiro Luís Antônio. Meu Deus do céu, até hoje sinto uma pancada na
caixa craniana quando me vem nos olhos as imagens do jornal. O corpinho dela no
caixão de vidro, o rosto suave, rodeado de gente que não parava de cantar seus
sucessos e de gritar: “Elis, Elis, Elis”. Ah, tia, ela era tão nova... E o Rona
gostava tanto daquela voz de passarinho dela, daquela ironia, daquela força...</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgZvtIkm_KzG1dCdhsMKL9QlcLVis7hqD6xQ2cUeyh7dqqBprGbvAs-ejUA3-_gI3Qkev0RgKTUOl17q28kqCPLyTmzx-TaY1vRv48FBEJJIjqLuxPvAR4BODcXWUJqc0A-lY2DebNS8E0/s1600/filme+1-1.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgZvtIkm_KzG1dCdhsMKL9QlcLVis7hqD6xQ2cUeyh7dqqBprGbvAs-ejUA3-_gI3Qkev0RgKTUOl17q28kqCPLyTmzx-TaY1vRv48FBEJJIjqLuxPvAR4BODcXWUJqc0A-lY2DebNS8E0/s1600/filme+1-1.jpg" height="320" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Quando saí de São Paulo, o Rona terminava um vestido lindo
que ele preparava para mim. De Salvador a Cruz das Almas o trajeto foi
horrível, no ônibus caindo aos pedaços. Quando eu cochilava entre um solavanco
e outro, Rona, Elis no caixão de vidro, sorrindo, o vestido, Cruz das Almas se
misturavam num sonho colorido e musical que terminava em pesadelo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Onde ficamos, um lugar afastado do centrinho, não havia
nada, nem correio, nem telefone, nada. Estava tudo seco, esturricado. Água, o
pouco que tinha, era só para beber. Do início de janeiro a meados de fevereiro,
quando voltei a São Paulo, ficamos sem tomar banho. Usávamos um paninho
embebido em água salobra para nos limpar. O pouco dinheiro que levei, usei para
comprar mangas, uma por dia, do único pé que havia no povoado. Mas eu tinha
remorsos delas, tenho até hoje.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A gente só comia uma vez por dia, lá pelas seis da tarde,
quando escurecia. Durante o dia, era só tapear o estômago com um pouco de
farinha seca e um pedacinho de carne-de-sol. Cheirávamos a carne, comíamos a
pouca farinha e engolíamos meio copo d’água.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Com o dinheiro que o Rona me deu, lá pela uma da tarde, ia ao
quintal do moço dono da mangueira. Ele tirava uma fruta até grande do pé e me dava. Eu pagava, comia até a casca
e chupava o caroço até ele ficar branco.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A primeira vez que joguei o caroço no chão, meninos magricelas
e meninas esfarrapadas se atracaram, rolando pela poeira, para apanhá-lo.
Disseram que eu era “madame”, porque dispensava o caroço ainda bom de chupar, segundo
eles.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Depois disso, dividia minha manga em quatro pedaços, ficava
com um quarto dela e repartia o resto com as crianças que me seguiam numa
verdadeira procissão, que não parou de crescer até que entrei no ônibus arruinado
que nos levou de volta a Salvador.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Naquele mês e meio em que lá vivi, meus cabelos ficaram
parecendo cordas. Como a vizinha nunca falava em voltar, comecei a imaginar um
jeito de fugir. Mas como? Tive pesadelos que não se acabavam mais. Eu era a
vizinha, eu era o dono do pé de manga, eu era o motorista do ônibus, eu era
cada uma das crianças a brigarem por um caroço chupado até ele ficar liso como
mármore, só não era eu.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Na partida, ao fim de uma tarde de fevereiro, um dos meninos
que brigava pelos caroços chupados <o:p></o:p></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
ajuntou sua família para se despedir da
gente. Na verdade, tive a impressão, mesmo a certeza, os olhos diziam, de que
eles queriam ir com a gente. Me perdoe, minha tia, mas era um quadro
fantasmagórico, os retirantes sem ter para onde ir nem onde ficar, sombras claras,
soltas no espaço. Que assombrações eram,
que expressões tremendas tinham, que corpos secos, petrificados, de olhos perfurantes.<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjNQQyFAG66jwqODCS91bfMbkjPs8af5ciOQWW-W5RSvziUSg-glx40bXZ1CvTGtBMYDmKILJOKgAXxv07qrAZao8BR2e2WmiSaBzxIzmTwEWQvgotqQJFckYO6CnXZ2nc8FQ8oZtaxMZA/s1600/v20.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjNQQyFAG66jwqODCS91bfMbkjPs8af5ciOQWW-W5RSvziUSg-glx40bXZ1CvTGtBMYDmKILJOKgAXxv07qrAZao8BR2e2WmiSaBzxIzmTwEWQvgotqQJFckYO6CnXZ2nc8FQ8oZtaxMZA/s1600/v20.jpg" height="240" width="320" /></a>Da porta da frente do ônibus, que abria por meio de uma
alavanca mecânica empurrada com esforço <o:p></o:p></div>
pelo motorista, quando subi o primeiro
degrau, me virei para acenar ao menino. Mas desisti de qualquer movimento,
porque os olhos dele, os olhos dele, nossa, que olhos.<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
No quadro da família de retirantes pintado a minha frente, esse
menino de olhos indizíveis, negros como os de todos, de cabelos encaracolados,
queimados de sol, a camisa verde imunda, as pernas de fora e os pés descalços, como
os de todos, meio à sombra do pai, no braço do qual apoiava a face inclinada, estava
do lado direito, próximo da moldura da cena, logo atrás de um irmão mais novo,
também de cabelos encaracolados, igualmente tostados pela luz. A cor desses
cabelos cacheados como os de anjos renascentistas? Talvez bronze, talvez ouro
velho, de qualquer modo, metálica. Esse irmão mais novo do meu amiguinho
disputador de caroços chupados usava uma camisa xadrez onde o preto desbotara
em esverdeado e o branco dera em amarelado. Nalguns pontos, umas sujidades de
terra avermelhada tingira o quadriculado do tecido. Estranhamente, para a idade
e o tamanho, nu da cintura para baixo, esse menino trazia uma barriga enorme,
volumosa, triunfalmente esférica. A cabeça inclinada para o lado da moldura, em
sentido inverso ao do irmão postado atrás, também me encarava com seus olhos
tristes, também negros e ensombrados.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O pai, imediatamente à esquerda dos dois meninos, meio passo
à frente, vestia farrapos. Pés enormes sulcados como madeira cujos lenhos se
esturricaram, tinha as calças remendadas com panos coloridos. A camisa menos,
mas também remendada. Usava um chapéu oblongo de abas largas puxadas para
baixo. Com o rosto branco de cera, Deus me perdoe, mais parecia um palhaço
desses circos miseráveis que ambulam de povoado em povoado e pelas periferias
das nossas belas capitais. Palhaço, não, estava mais para um <i>clown</i> medievo, melancólico e vazio de
expressão. Com o braço esquerdo, em que uma mão geométrica mal se divisava, e em
que meu amiguinho dos caroços chupados apoiava o rosto, sustentava ao ombro um
cabo de enxada cuja lâmina fora substituída por uma trouxa branca. A outra mão
desse pai, enorme, bem definida, forte, expressiva, em contraste com o rosto
oco, segurava a mão de um outro filho, mais novo que os outros dois.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiJ0PsQQoEYe5evD2ols3IvLEQe5QbYKBZEI88qvzJLM0iIpoFo6OVjfW8MxB8leX2HN5FH2tnSqVV7s-oMnp9kaPmxP8nd-Fb-opD3rhDQwZmU3ZWHO13vEWIIpm8v4q9nOPaJLaGD67k/s1600/v11.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiJ0PsQQoEYe5evD2ols3IvLEQe5QbYKBZEI88qvzJLM0iIpoFo6OVjfW8MxB8leX2HN5FH2tnSqVV7s-oMnp9kaPmxP8nd-Fb-opD3rhDQwZmU3ZWHO13vEWIIpm8v4q9nOPaJLaGD67k/s1600/v11.JPG" height="206" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Este, nanico, vestido em uma camisa de adulto verde e imunda
que lhe deixava de fora os braços velhos e as pernas muito magras e feias, sob
um chapéu semelhante ao do pai e que o afundava em sombra intensificando assim
o tom escuro de sua pele mortiça, dona Pilar, me perdoe, tinha a face de um
cadáver de adulto cujo corpo se atrofiara. Da máscara parda que era seu rosto,
seus olhos, como os dos dois irmãos e os do pai, também me fitavam. Porém,
diferentemente deles, eram olhos mortos, ocos, quase buracos esculpidos em
madeira, em que toda luz se perdia. Num circo sobrenatural, o pai seria o
palhaço assustado e esse filho o anão-deformidade, morto-vivo, sem alma, zumbi.
São impressões tia, me perdoe, mas quem fica diante de um quadro desses, nunca
mais o esquece.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Atrás desse menino de pesadelos estava a mãe em vestido claro
sem mangas, sujo, mas estranhamente bonito e digno. Alta, barriga esférica,
cabelos castanhos volumosos e soltos, rosto negro e forte clareado pela poeira
e pela luz, expressão firme, nariz literalmente triangular, boca elíptica de um
marrom vivo e carnudo, olhava para um ponto à frente do ônibus estacionado no
meio do chão seco, poento e cheio de pedras, fora do leito da rua de terra. Sustentava
com o braço esquerdo potente uma enorme trouxa, que ameaçava cair-lhe da cabeça,
e com o direito um bebê muito novo, carequinha, saudável, sob uma manta branca,
fofa e limpa. Este, branco como farinha e exalando tranquilidade, olhava para a
filha mais velha do casal, mais à esquerda do quadro, um pouco separada do
grupo formado por mãe, pai e demais crianças.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Magra, cabeluda, bonita em seu vestido rosado também sem
mangas, só um pouco empoeirado e encardido, as pernas musculosas, essa
adolescente se parecia em gesto com a mãe. A luz chapada embranquecendo seu
rosto moreno, olhava firme para o irmão seminu de camisa xadrez e barriga protuberante.
Em seu colo, apoiado sobre o quadril, seguro por um braço direito longo, moreno
e duro como pau, levava um menino esquelético e nervoso, que lhe apertava o
pescoço com os braços em laço.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Atrás dela, um ancião esquálido, cabelos brancos e ralos, em
calças brancas encardidas, sem camisa,<o:p></o:p></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZwAUgikfEk7_WKXba6B3vvOM5EEOVGdhfb_M-TAOn-yq8rcWdFlFL2WD_bg7-SQIlv0LcpBDOq3YeKEKFv4XleJ4gPSFG2YyhVZ444MoR_I7FEfP9bocMYhBU6IV9_PnVVAkKSQfsdQ4/s1600/v10.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZwAUgikfEk7_WKXba6B3vvOM5EEOVGdhfb_M-TAOn-yq8rcWdFlFL2WD_bg7-SQIlv0LcpBDOq3YeKEKFv4XleJ4gPSFG2YyhVZ444MoR_I7FEfP9bocMYhBU6IV9_PnVVAkKSQfsdQ4/s1600/v10.jpg" /></a></div>
apoiado num cajado, me fitava com um
olho bom e o outro talvez cego ou de catarata avançada. Certamente era o avô
paterno das crianças em volta do casal.<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Na base dessa imagem, o marrom forte sob os pés das
personagens se esmaecia em direção ao horizonte, em que pontuava uma formação
rochosa um tanto apagada pela névoa seca dispersa atrás do velho. No céu, claro
no horizonte, mas em graus de azul até turvar-se no alto pela sombra da noite
que avançava, pontuavam, em equilíbrio, sobre o ancião, como sobre um santo de
gravura popular, as Três Marias e, do outro lado do quadro, sobre o menino dos
caroços chupados, uma lua poética, perdida nos graus de azul e na névoa esmaecente,
quase uma marca d’água, ou talvez um sinal de restauro em tela de pintor.
Nuvem, nenhuma, só pássaros enormes esvoaçando agourentos sobre a família de
retirantes.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
De Cruz das Almas a Salvador e de lá a São Paulo, passei a
água de torneira e a biscoito: de água e sal, de polvilho, de fubá, de farinha
branca, de farinha tostada... O suficiente para sentir falta das mangas, ainda
que elas viessem à lembrança com uma penca olhos acusadores pendurados, olhos
de crianças tintas de pó vermelho, do alto da cabeça às unhas dos pés rachados.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A primeira coisa que fiz quando cheguei em casa, em São
Paulo, foi tomar banho. Ninguém pode saber o prazer que tive, ninguém pode
sequer imaginar, minha tia! Depois fui ao guarda-roupa experimentar o vestido
que o Rona tinha terminado. Não era possível, mas ele tinha errado as medidas.
Estava largo, com os ombros caídos. Fiquei parecendo uma Maria-mijona dentro
dele. Quando mano chegou, à noite, reclamei para ele, antes mesmo de abraçá-lo
de saudade e perguntar sobre como ele ficara com a morte da Elis.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEirXc9EOnSPLhNditeZhOBrHoOrpZx4MgJaHYrLEqiNwS3PM8yG_eJL_aBx1Gx9ZTFVD_MxnRkymsgoGp3Dd2XPrVMQi5VINzBrRDB_MGWWkBOG7CGuiE704rAY1YdqygSgI7DYQkRCHCQ/s1600/v17.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEirXc9EOnSPLhNditeZhOBrHoOrpZx4MgJaHYrLEqiNwS3PM8yG_eJL_aBx1Gx9ZTFVD_MxnRkymsgoGp3Dd2XPrVMQi5VINzBrRDB_MGWWkBOG7CGuiE704rAY1YdqygSgI7DYQkRCHCQ/s1600/v17.jpg" height="255" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Daí – você sabe como o Rona era naquele tempo, ainda é – ele
cobriu o rosto com as mão e começou a soluçar. Pensei na hora: se a Elis fosse
irmã dele, ele tinha se matado. Mas não era por causa dela que ele chorava, era
por minha causa. “Renata, você virou esqueleto em um mês”. Era mesmo, não tinha
reparado. Eu estava só osso e pele. Ainda bem que não fiquei doente, porque, se
ficasse, morria. Não tinha energia para nada.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
– Talvez essa fome que passou aumentou sua resistência,
minha filha. Olha para você, está na metade dos cinquenta e ninguém te dá nem quarenta.
Além do mais, foi uma história para não se esquecer. Viva Cruz das Almas, que
te deu essa vacina tão forte!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Desse ponto de vista, né minha tia?, viva Cruz das Almas! Põe
mais café.<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/08337348869621152552noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2986241826164358045.post-85595117538741327642014-09-19T13:23:00.004-03:002014-09-19T13:23:44.472-03:00A situação falimentar da USP já virou até romance - e foi em 2012, hein!<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhrakg3CxDgm3kM4H9huekHDLfnySnuoTtQgYoNEPVmTX6vZUvTWVCkklDE7rR3zWS43ubKQWHJ65sCAt-PscN6w7XMvpbjd9UWrnhUis6J5sOfGbW7sfUFgJUw5HDrxy-vCHbBJ67aGyA/s1600/Greve+usp.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhrakg3CxDgm3kM4H9huekHDLfnySnuoTtQgYoNEPVmTX6vZUvTWVCkklDE7rR3zWS43ubKQWHJ65sCAt-PscN6w7XMvpbjd9UWrnhUis6J5sOfGbW7sfUFgJUw5HDrxy-vCHbBJ67aGyA/s1600/Greve+usp.jpg" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Assembleia de estudantes, professores e funcionário da USP.</td></tr>
</tbody></table>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i><span style="font-family: inherit;">Em homenagem aos professores, estudantes e funcionários da USP que puseram a nu o a situação falimentar da Universidade sob o império tucano, o autor oferece este trecho de seu romance Zona Oeste. Com sarcasmo, o autor </span>narra<span style="font-family: inherit;">, na ficção, o afundamento e desabamento da estátua do Borba Gato, símbolo da cultura bandeirante e escravista da elite paulitana, na Zona sul de São Paulo. Nesse episódio, o governador e o reitor da USP tentam salvar as sagradas aparências da Revolução de 32 dando, in loco, entrevistas à imprensa, enquanto outros personagens assistem, em meio ao tumulto, à patacoada dos dois.</span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiEoqaRKvZ3nZtMpWtYRX3IMFBGkMTPmtvdiSX0UzPtS3ZW8tjzmMKpdjEYgH1byb0x46H984zPQglO1akmJ1lAczIxHowSfqfE3dvdNEv9FE6CUL_ZI899MB-W-w_mPORhrvbgnngZ_DI/s1600/Sul.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiEoqaRKvZ3nZtMpWtYRX3IMFBGkMTPmtvdiSX0UzPtS3ZW8tjzmMKpdjEYgH1byb0x46H984zPQglO1akmJ1lAczIxHowSfqfE3dvdNEv9FE6CUL_ZI899MB-W-w_mPORhrvbgnngZ_DI/s1600/Sul.jpg" height="320" width="200" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><a href="http://lojanovaalexandria.com.br/era-uma-vez-no-meu-bairro-zona-sul.html" target="_blank">Clique aqui a vá para o livro.</a></td></tr>
</tbody></table>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Os andaimes de contenção e as barras de escoramento não
estão servindo de nada. Ele [o Borba Gato] continua a girar e, se não sou analfabeto em pontos
cardeais, está de frente para o Leste.</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
– Que doido, está mesmo! E não dá para fugir às evidências: afundou
vários palmos. Parece que está sofrendo uma torção... sendo sugado por um
vórtice. Quem é aquele engravatado ali?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
– Qual, tem vários no perímetro. O que está sendo
entrevistado?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
– Isso.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
– É o reitor da Universidade de São Paulo. Vamos chegar mais
perto para ouvir o que ele está dizendo...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i><span style="font-family: inherit;">– É exatamente a isso que me refiro: esse monumento faz
parte do mesmo espírito que originou nossa Universidade. Por isso estamos aqui
acompanhando com expectativa o andamento dos trabalhos. </span><span style="font-family: inherit;">Nossos técnicos, na
verdade os melhores do país e entre os melhores do mundo, emprestarão todos os
seus melhores esforços intelectuais para preservar esse patrimônio inestimável
dos paulistanos. Isso que ocorre agora com o monumento em homenagem à
intrepidez dos paulistas é uma violência. Universidade é, por definição, diversidade
e debate de ideias. Há mais de dez anos, contudo, instalou-se um embate com
calendário prefixo e concorrência cada vez mais frequente. Muitas vezes rareou
o respeito mínimo indispensável entre os segmentos da universidade, tendo a
força/violência sido utilizada de maneira corriqueira. Chega de violência, que
sempre gera violência. É importante rememorar, entretanto, que todos os
segmentos da universidade devem renunciar ao uso da força, não sendo lógico nem
factível exigir que somente o outro lado, no caso nós, desista dela.</span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><i><br /></i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><i>– Mas a que o senhor se refere, Magnífico reitor?<o:p></o:p></i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><i><br /></i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><i>– Ora, isso [o afundamento da estátua do Borga Gato] só pode ser obra de tertúlia universitária,
passível de punições severas.<o:p></o:p></i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><i><br /></i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><i>– Por exemplo, Ó Magnífico?<o:p></o:p></i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><i><br /></i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><i>– Considerando que a Universidade reconhece que as
penalidades eventualmente sugeridas por <table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEihQjSc52mN9Qz3zwrFBifWfEsyww7akVBA0eqVoohL1hoqAtHmUbBs6Tb0wzoJa4tBDZbvecUaE4YEKVL5rbwU4a6TO69pBW5zbliwi-rFgzuAt4UnEx1aTUTDxenjlEvC_5BqhJFNRrg/s1600/Borba+Gato.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEihQjSc52mN9Qz3zwrFBifWfEsyww7akVBA0eqVoohL1hoqAtHmUbBs6Tb0wzoJa4tBDZbvecUaE4YEKVL5rbwU4a6TO69pBW5zbliwi-rFgzuAt4UnEx1aTUTDxenjlEvC_5BqhJFNRrg/s1600/Borba+Gato.jpg" height="207" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Monumento do Borba Gato. Foto do autor.</td></tr>
</tbody></table>
comissões relativamente aos atos
praticados por docentes, servidores técnico-administrativos e discentes,
deverão ser aplicadas de acordo com a maior ou menor gravidade dos mesmos em
cada caso e após sua efetiva comprovação nos autos da devassa. Mesmo que, por
hipótese, não houvesse, nas normas internas da USP, qualquer referência ao
poder disciplinar, o dirigente dessa Universidade, no caso eu, não teria como
não observá-lo sob pena de responsabilidade.<o:p></o:p></i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><i><br /></i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><i>– O que isso quer mesmo dizer, Ó Magnífico?<o:p></o:p></i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><i><br /></i></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><i>– Ora, que comprovadas as responsabilidades “sob” o que vai
minando nossos valores, com risco presumido de desabamento total deles na
figura do bandeirante ofendido, não hesitarei em disciplinar exemplarmente os
suspeitos.</i></span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
– O que é que ele está dizendo mesmo?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
– Que se os curiosos se aproximarem demais do cordão de
isolamento, a polícia vai descer o cacete em todo mundo, tenha cara de operário
ou tenha cara de estudante.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-g9M0WKNjpdRHbguCCcZ0GXozM9bpOuhLbsm4zhjtpqhyrgQX2vg2zCw5Lz5C4l3iQrshzBcv7onqAJPOPrx9hSJfJJAmUV36H6LHg-eddYExNubi4wyWNyq7IVgln1w82L3pwIj2xWA/s1600/zjeosa.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-g9M0WKNjpdRHbguCCcZ0GXozM9bpOuhLbsm4zhjtpqhyrgQX2vg2zCw5Lz5C4l3iQrshzBcv7onqAJPOPrx9hSJfJJAmUV36H6LHg-eddYExNubi4wyWNyq7IVgln1w82L3pwIj2xWA/s1600/zjeosa.jpg" height="138" width="200" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">O autor, doutor em Literatura USP.</td></tr>
</tbody></table>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
– Quer dizer então que a situação está periclitante mesmo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
– Não quero ser pessimista nem otimista, mas se esse joão-bobo
de concreto e pastilha vai mesmo para a cucuia, abre-se espaço para um belo <i>shopping center</i>, com área de sobra para
estacionamento e tudo mais a que a Zona Sul tem direito.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
– Poxa, não tinha pensado por esse ângulo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
– Não queria um <i>boom </i>imobiliário
na região? Essa é sua chance: estação de metrô embaixo com centro de compra nos
pisos superiores.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
– Martins, tu é um gênio! Não sei como ninguém pensou nisso
antes. Sendo assim, vamos torcer pelo pior acontecer, uhu!<o:p></o:p></div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/08337348869621152552noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2986241826164358045.post-24366392645548660552014-08-26T09:25:00.000-03:002014-08-26T09:46:58.768-03:00Há 60 anos Getúlio Vargas se suicidava<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiUdapUwHtoGYkoRA4xUzo3LB_cnuuCyLXa6WbWESH9eCam8RPDEIjOBbHxrvhuSwqZpkOxHQhZR4BK9qXhgxXMRwWOGnhoO8IW19ZojBXixiJlx0Izp5rLfU0PAG3xZ3DfFfkF6boWH8E/s1600/foto-oficial-do-presidente-eurico-gaspar-dutra.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiUdapUwHtoGYkoRA4xUzo3LB_cnuuCyLXa6WbWESH9eCam8RPDEIjOBbHxrvhuSwqZpkOxHQhZR4BK9qXhgxXMRwWOGnhoO8IW19ZojBXixiJlx0Izp5rLfU0PAG3xZ3DfFfkF6boWH8E/s1600/foto-oficial-do-presidente-eurico-gaspar-dutra.jpg" height="320" width="240" /></a></div>
<h3>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: inherit; font-size: small;"><span style="font-weight: normal;">No dia 24 de agosto de 1954 o mês de
agosto justificava sua fama de aziago. Mas isso não impediu que o </span><a href="http://www.mercadaodalapa.com.br/mercadomunicipal.html" target="_blank">Mercado
Municipal da Lapa</a><span style="font-weight: normal;">, em São Paulo, fosse inaugurado na mesma data. O autor da
série </span><a href="http://lojanovaalexandria.com.br/nova-alexandria/colecao-era-uma-vez-no-meu-bairro.html" target="_blank">Era uma vez no meu bairro</a><span style="font-weight: normal;">, o incansável Jeosafá, disponibiliza aqui um capítulo
do romance Zona Oeste, em que a questão é abordada com história e arte, senão,
vejamos.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: inherit; font-size: small; font-weight: normal;">Assina: Renata VS.</span><o:p></o:p></div>
</h3>
<h3>
<a href="http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/cultura/bibliotecas/bibliotecas_bairro/bibliotecas_m_z/marioschenberg/index.php?p=173" target="_blank">Lapa</a> - Sermão da inauguração</h3>
<h4>
<o:p></o:p></h4>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Eu tinha acabado de comprar um Chevrolet Bel Air do ano, meu primeiro
carro novo, coisa de um mês antes, na verdade um pouco mais, porque a
inauguração foi mais para o final de agosto, e eu e minha patroa fizemos o
primeiro passeio naquela maravilha no início de julho de 1954.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Quando recebemos as chaves do Bel Air azul-escuro, foi um acontecimento
de sonho. Era um dia claro, embora frio. Passeamos o dia todo pela cidade,
começando pelo Cambuci, onde apanhamos o carro, e terminando em nossa casa,
aqui na Lapa mesmo, na Afonso Sardinha. Sabe que idade tínhamos? Vinte e um
anos. Nossos pais nos ajudaram a pagar a
casa e a comprar o carro. Eram previdentes. Nós também fomos com nossos filhos,
mas hoje em dia, bem, isso não vem ao caso. Se é esse parado atrás do ponto de
ônibus? É esse mesmo. Tivemos outros, mas preservamos esse, que foi o primeiro.
Era uma joia quando compramos, e agora é um tesouro de valor inigualável. Só
saio com ele no sábado, para passear e levar flores para minha companheira, que
está no cemitério da Consolação.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvwkKdjhtZTrVdpBGbWncCkHNKDQxacTLuivGEnon9Nn5UsTwvAyHGfSryIDYO1C05vQezXEoFrXJ8-v3PHwTP4X6uJozMrkPEoi-WP5Js0FMyP515qyWcyK5zImNtWwu_B9e0ooMB_mg/s1600/Mercad%C3%A3+Lapa.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvwkKdjhtZTrVdpBGbWncCkHNKDQxacTLuivGEnon9Nn5UsTwvAyHGfSryIDYO1C05vQezXEoFrXJ8-v3PHwTP4X6uJozMrkPEoi-WP5Js0FMyP515qyWcyK5zImNtWwu_B9e0ooMB_mg/s1600/Mercad%C3%A3+Lapa.jpg" height="400" width="362" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><br /></td></tr>
</tbody></table>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
É o que digo: no dia em que apanhamos o carro e passeamos com ele pela
primeira vez, era um dia mavioso. O sol anêmico do inverno banhava o azul do
Bel Air com um tom perolado, quase oleoso. O céu, limpo e profundo, não azul,
mas violeta. Parávamos o automóvel em jardins públicos ou em pontes e ficávamos
admirando a beleza de se estar vivo e de se ter vinte e um anos, e de se estar
iniciando juntos, num Bel Air, uma longa jornada.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Porém, no dia da inauguração do Mercado da Lapa não foi assim. Tínhamos
nos programado para ir de carro, embora a distância fosse pouca. Afinal, da
altura do cruzamento da D. João V com a Afonso Sardinha até aqui não é nada,
coisa de um quilômetro, se tanto. Durante a semana, venho a pé em dez minutos,
parando para tomar café no meio do caminho. Acontece que o dia amanheceu muito
feio, nublado, frio, úmido, embora o chuvisco não chegasse a molhar o chão. Não
quisemos tirar o carro da garagem, pois nossa intenção era voltar para casa e
não sair dela novamente nesse dia cinzento. Lembro-me até hoje de meus pés
congelados dentro dos sapatos, ainda que eu os tivesse forrado com jornal, e do
vento desconfortável durante o trajeto a pé.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Saímos cedo de casa, para circundar a bela construção triangular do
mercado, até chegar a hora da abertura. Mas as pessoas na rua estavam agitadas,
umas falando alto, outras andando atordoadas, a agitar a cabeça como se uma
grande desconformidade as tivesse atingido. O bar em que costumávamos tomar um
rápido café estava estranhamente lotado, com gente do lado de fora, mas quieta.
A maior parte composta de homens, alguns operários, estranhamente fora da
fábrica àquele horário, mas também muitos funcionários públicos e trabalhadores
administrativos das fábricas da região, com seus paletós abotoados até a última
casa e seus chapéus de feltro na mão.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgvQ-CB_ryZ7fihcI1pYvNkgndadpYuLmoJjHF9hYDdkuKJdbPShn0V2I8pz3zxKMkY0G8cbpJPhCzFi73LBQi6ivN8r_76u4cSJd1Au-sDZQjha7LgPw4YnBFQwnNWbIejPtxQFtlPWxM/s1600/mercadomunicipal.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgvQ-CB_ryZ7fihcI1pYvNkgndadpYuLmoJjHF9hYDdkuKJdbPShn0V2I8pz3zxKMkY0G8cbpJPhCzFi73LBQi6ivN8r_76u4cSJd1Au-sDZQjha7LgPw4YnBFQwnNWbIejPtxQFtlPWxM/s1600/mercadomunicipal.jpg" /></a></div>
<br />
Minha esposa me cutucou com o cotovelo, pois observou que várias lojas
da rua Doze de Outubro encontravam-se fechadas, o que era incomum, àquele
horário de uma terça-feira. Disse a ela que talvez fosse por causa da
inauguração do Mercado da Lapa, algo importante para o bairro e a comunidade. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
No entanto, ao nos aproximarmos do bar superlotado mas silencioso,
observamos que todos ouviam notícias no rádio que o balconista pusera no último
volume, porém, com pouca serventia, pois a voz do repórter mal era percebida em
meio aos ruídos da estática e das válvulas superaquecidas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEghGdz8UAh2pzPMssYgVcRyu6WuZ01MHd5oqgo-h_FiqWVmuOPu6ZQvV68E4K1LxlUh1WsmUp_-E_aFcG2ZIZe-uBay6Ev4jxH_Hgf7yl8Lo8tV67swyp1fDyiOujcR0CJDB1EEu7YAVto/s1600/Zona+Oeste.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEghGdz8UAh2pzPMssYgVcRyu6WuZ01MHd5oqgo-h_FiqWVmuOPu6ZQvV68E4K1LxlUh1WsmUp_-E_aFcG2ZIZe-uBay6Ev4jxH_Hgf7yl8Lo8tV67swyp1fDyiOujcR0CJDB1EEu7YAVto/s1600/Zona+Oeste.jpg" height="320" width="214" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><a href="http://lojanovaalexandria.com.br/nova-alexandria/colecao-era-uma-vez-no-meu-bairro/era-uma-vez-no-meu-bairro-zona-oeste.html" target="_blank"><b>ZONA OESTE: Lançado em 2013.</b></a></td></tr>
</tbody></table>
Os homens amassavam as abas de seus chapéus nervosamente. Uma moça
chorava de dar dó. O português, dono do bar, coçava a calva como se previsse
acontecimentos terríveis. Deixei minha esposa afastada e me aproximei para
investigar a razão da aglomeração, em comunhão visivelmente dolorida. E o que
aconteceu, sabe o que foi? O Getúlio Vargas tinha se matado. Enfiado uma bala
no coração. Não é possível, pensei, mas as pessoas me confirmaram. Voltei para
minha moça de vinte e um anos de idade apreensiva, e disse a ela que
voltássemos para casa, pois um evento terrível se dera e eu precisava fazer
alguma coisa, senão explodiria, teria um colapso ou ficaria louco. Quando disse
a ela o motivo, ela passou mal. Sentou-se na guia da calçada e demorou um pouco
para estar em condições de voltar a caminhar. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Se inauguraram o Mercado assim mesmo? Lógico, os governantes e os ricos
de São Paulo nunca gostaram do Getúlio. Quem gostava dele eram os pobres, os
trabalhadores. Nem a classe média paulistana gosta dele, ao menos a maioria. Pouco
importa que tenha morrido há tanto tempo, continua odiado. Voltamos para casa.
Lá, pintei uma faixa: “Morra Lacerda”, e fui para o centro da cidade, onde um
monte de gente raivosa se amontoava por todos os lados. Foi assim que
participei da inauguração do Mercadão da Lapa, em 24 de agosto de 1954. Sou um
freguês tão antigo daqui que vivem me procurando para dar entrevistas sobre o
Mercado e sobre a Lapa velha. Vamos andando, que a levo até os peixes, onde a
deixo e de onde parto para cuidar da vida, ou da morte, pois, já disse, estou
indo levar flores amorosas lá no cemitério da Consolação.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p></o:p></div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/08337348869621152552noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2986241826164358045.post-75814361446989310942014-05-16T15:29:00.000-03:002014-05-16T15:29:12.018-03:00Juventude do Jardim Guarani se prepara para pesquisar sua história<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhktBM0ezvaxJwL1kCYbWebBXUEVhmPsf4X478IkpAO2opwIm_fJ20_On5Y7WqBGeQcJdYlHRz7cl289qW3wevZ3B8PFXBKsEET5LWEqM38iZcaguhRZgRq7HhYaRMXZov027VNYCITwQA/s1600/14mai-6.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhktBM0ezvaxJwL1kCYbWebBXUEVhmPsf4X478IkpAO2opwIm_fJ20_On5Y7WqBGeQcJdYlHRz7cl289qW3wevZ3B8PFXBKsEET5LWEqM38iZcaguhRZgRq7HhYaRMXZov027VNYCITwQA/s1600/14mai-6.JPG" height="425" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Com jovens dos cursos noturnos da EMEF Jd. Guarani, no distrito da Brasilândia, Zona Norte de São Paulo.</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<span style="background-color: white; border: 0px none; color: #444444; font-family: inherit; font-size: 14px; line-height: 22.399999618530273px; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">A jornalista Renta Vila entrevista o autor de ZONA NORTE, da série Era uma vez no meu bairro, que na noite de 14 de maio entrevistou e foi entrevistado por alunos dos cursos noturnos da <span style="border: 0px none; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: center;">EMEF Jd. Guarani - Prof. José Alfredo Apolinário. A partir desse conversa com o autor, jovens realizarão pesquisa sobre história das pessoas do bairro.</span></span><br />
<div style="text-align: right;">
</div>
<br style="background-color: white; border: 0px none; color: #444444; font-family: Oxygen, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial; font-size: 14px; line-height: 22.399999618530273px; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;" />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjebMLlDqLnNFHZiY3883upOTR84pscVmH9Wzpjf97IVGDkyvGegvP32lEHoqZqoUTq0zJ3RU2KO7eHGPe9r5m63VhqzL0ejf6euprem5wnN9T0Tqcvrujiq2qnlz0is2wH9uAVuf3X-F4/s1600/14mai-0.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjebMLlDqLnNFHZiY3883upOTR84pscVmH9Wzpjf97IVGDkyvGegvP32lEHoqZqoUTq0zJ3RU2KO7eHGPe9r5m63VhqzL0ejf6euprem5wnN9T0Tqcvrujiq2qnlz0is2wH9uAVuf3X-F4/s1600/14mai-0.JPG" height="213" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Documentário exibido antes das entrevistas.</td></tr>
</tbody></table>
<div style="background-color: white; border: 0px none; color: #444444; font-family: Oxygen, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial; font-size: 14px; line-height: 22.399999618530273px; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify;">
<b style="border: 0px none; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Renta Vila</b>: Bem, entrevistá-lo já não é novidade, não é mesmo?</div>
<div style="background-color: white; border: 0px none; color: #444444; font-family: Oxygen, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial; font-size: 14px; line-height: 22.399999618530273px; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify;">
<br style="border: 0px none; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;" /></div>
<div style="background-color: white; border: 0px none; color: #444444; font-family: Oxygen, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial; font-size: 14px; line-height: 22.399999618530273px; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify;">
<b style="border: 0px none; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Jeosafá</b>: Não, parece que não, estamos caindo na rotina (rs rs rs).</div>
<div style="background-color: white; border: 0px none; color: #444444; font-family: Oxygen, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial; font-size: 14px; line-height: 22.399999618530273px; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify;">
<br style="border: 0px none; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;" /></div>
<div style="background-color: white; border: 0px none; color: #444444; font-family: Oxygen, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial; font-size: 14px; line-height: 22.399999618530273px; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify;">
<b style="border: 0px none; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Renta Vila</b>: Mas em seu blog Amplexos do Jeosafá tem coisas que não posso perguntar, aqui, vale tudo.</div>
<div style="background-color: white; border: 0px none; color: #444444; font-family: Oxygen, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial; font-size: 14px; line-height: 22.399999618530273px; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify;">
<br style="border: 0px none; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;" /></div>
<div style="background-color: white; border: 0px none; color: #444444; font-family: Oxygen, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial; font-size: 14px; line-height: 22.399999618530273px; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify;">
<b style="border: 0px none; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Jeosafá</b>: Opa, não é bem assim...</div>
<div style="background-color: white; border: 0px none; color: #444444; font-family: Oxygen, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial; font-size: 14px; line-height: 22.399999618530273px; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify;">
<br style="border: 0px none; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;" /></div>
<div style="background-color: white; border: 0px none; color: #444444; font-family: Oxygen, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial; font-size: 14px; line-height: 22.399999618530273px; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify;">
<b style="border: 0px none; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Renta Vila</b>: Tudo bem, sem perguntas proibidas.</div>
<div style="background-color: white; border: 0px none; color: #444444; font-family: Oxygen, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial; font-size: 14px; line-height: 22.399999618530273px; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify;">
<br style="border: 0px none; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;" /></div>
<div style="background-color: white; border: 0px none; color: #444444; font-family: Oxygen, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial; font-size: 14px; line-height: 22.399999618530273px; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify;">
<b style="border: 0px none; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Jeosafá</b>: Isso.</div>
<div style="background-color: white; border: 0px none; color: #444444; font-family: Oxygen, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial; font-size: 14px; line-height: 22.399999618530273px; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify;">
<br style="border: 0px none; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;" /></div>
<div style="background-color: white; border: 0px none; color: #444444; font-family: Oxygen, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial; font-size: 14px; line-height: 22.399999618530273px; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify;">
<b style="border: 0px none; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Renta Vila</b>: Com foi sua visita à EMEF Jd. Guarani?</div>
<div style="background-color: white; border: 0px none; color: #444444; font-family: Oxygen, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial; font-size: 14px; line-height: 22.399999618530273px; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify;">
<br style="border: 0px none; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;" /></div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjEA10wM1_Fcz3hgq6NZBlEokrgnR8iZNFnbsVtUAp8JI7la14wRNY-X3HRze4dWcF2bNupnq1SsyIaiCu6Eg-ksOrW8jP-DmeCX8C2hR6n2ie_hzwjuFsFEuw3W00SIFQIrSiLVhgoKbg/s1600/Norte.png" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjEA10wM1_Fcz3hgq6NZBlEokrgnR8iZNFnbsVtUAp8JI7la14wRNY-X3HRze4dWcF2bNupnq1SsyIaiCu6Eg-ksOrW8jP-DmeCX8C2hR6n2ie_hzwjuFsFEuw3W00SIFQIrSiLVhgoKbg/s1600/Norte.png" height="320" width="215" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Capa da 2a. edição de ZONA NORTE.</td></tr>
</tbody></table>
<div style="background-color: white; border: 0px none; color: #444444; font-family: Oxygen, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial; font-size: 14px; line-height: 22.399999618530273px; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
</div>
<b style="border: 0px none; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Jeosafá</b>: Foi ótima, os professores me receberam super bem, e os estantes foram muito legais também.</div>
<div style="background-color: white; border: 0px none; color: #444444; font-family: Oxygen, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial; font-size: 14px; line-height: 22.399999618530273px; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify;">
<br style="border: 0px none; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;" /></div>
<div style="background-color: white; border: 0px none; color: #444444; font-family: Oxygen, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial; font-size: 14px; line-height: 22.399999618530273px; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify;">
<b style="border: 0px none; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Renta Vila</b>: Em que sentido...</div>
<div style="background-color: white; border: 0px none; color: #444444; font-family: Oxygen, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial; font-size: 14px; line-height: 22.399999618530273px; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify;">
<br style="border: 0px none; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;" /></div>
<div style="background-color: white; border: 0px none; color: #444444; font-family: Oxygen, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial; font-size: 14px; line-height: 22.399999618530273px; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify;">
<b style="border: 0px none; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Jeosafá</b>: Bem, como sabe, para a coisa não ficar chata, sempre procuro entrevistar alunos e professores. Os dois entraram no jogo, tanto respondendo às perguntas, às vezes cheias de segundas intensões, que fiz, às vezes perguntando.</div>
<div style="background-color: white; border: 0px none; color: #444444; font-family: Oxygen, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial; font-size: 14px; line-height: 22.399999618530273px; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify;">
<br style="border: 0px none; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;" /></div>
<div style="background-color: white; border: 0px none; color: #444444; font-family: Oxygen, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial; font-size: 14px; line-height: 22.399999618530273px; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify;">
<b style="border: 0px none; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Renta Vila</b>: Que palavras usaria para descrever os estudantes...</div>
<div style="background-color: white; border: 0px none; color: #444444; font-family: Oxygen, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial; font-size: 14px; line-height: 22.399999618530273px; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify;">
<br style="border: 0px none; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;" /></div>
<div style="background-color: white; border: 0px none; color: #444444; font-family: Oxygen, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial; font-size: 14px; line-height: 22.399999618530273px; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify;">
<b style="border: 0px none; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Jeosafá</b>: Eles são muito divertidos, alguns, engraçados, mesmo. E quando falam sério, suas perguntas e afirmações vão direto aos problemas verdadeiramente importantes.</div>
<div style="background-color: white; border: 0px none; color: #444444; font-family: Oxygen, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial; font-size: 14px; line-height: 22.399999618530273px; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify;">
<br style="border: 0px none; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;" /></div>
<div style="background-color: white; border: 0px none; color: #444444; font-family: Oxygen, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial; font-size: 14px; line-height: 22.399999618530273px; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify;">
<b style="border: 0px none; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Renta Vila</b>: Tipo...</div>
<div style="background-color: white; border: 0px none; color: #444444; font-family: Oxygen, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial; font-size: 14px; line-height: 22.399999618530273px; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify;">
<br style="border: 0px none; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;" /></div>
<div style="background-color: white; border: 0px none; color: #444444; font-family: Oxygen, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial; font-size: 14px; line-height: 22.399999618530273px; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify;">
<b style="border: 0px none; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Jeosafá</b>: Tipo... violência, condições de moradia, saúde, drogas, lazer, ou seja, aquilo que verdadeiramente importa para qualquer ser humano ser feliz nos dias de hoje.</div>
<div style="background-color: white; border: 0px none; color: #444444; font-family: Oxygen, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial; font-size: 14px; line-height: 22.399999618530273px; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify;">
<br style="border: 0px none; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;" /></div>
<div style="background-color: white; border: 0px none; color: #444444; font-family: Oxygen, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial; font-size: 14px; line-height: 22.399999618530273px; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify;">
<b style="border: 0px none; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Renta Vila</b>: Você foi lá para falar sobre bairros de São Paulo, em particular, o deles, já que o eixo da discussão era seu livro <i style="border: 0px none; color: #666666; list-style: none; margin: 0px 5px 0px 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Zona Norte</i>, da série Era uma vez no meu bairro. O que eles falaram?</div>
<div style="background-color: white; border: 0px none; color: #444444; font-family: Oxygen, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial; font-size: 14px; line-height: 22.399999618530273px; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify;">
<br style="border: 0px none; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;" /></div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEimXcu6J7jAUfvqYKs5glMhH0TLhDN-VPAXXBOMEbfhuKCNPLqv0W9iULIbwpqJuAbHCJjqH_lFf9MU2FCQy6mQx9LkFGA7wxecrgCkZ1An577nAzKZ_-T5DlbOyv61ItD4nhXIQIzSMPc/s1600/14mai-9.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEimXcu6J7jAUfvqYKs5glMhH0TLhDN-VPAXXBOMEbfhuKCNPLqv0W9iULIbwpqJuAbHCJjqH_lFf9MU2FCQy6mQx9LkFGA7wxecrgCkZ1An577nAzKZ_-T5DlbOyv61ItD4nhXIQIzSMPc/s1600/14mai-9.JPG" height="213" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Com alunos, após as entrevistas.</td></tr>
</tbody></table>
<div style="background-color: white; border: 0px none; color: #444444; font-family: Oxygen, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial; font-size: 14px; line-height: 22.399999618530273px; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify;">
<b style="border: 0px none; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Jeosafá</b>: Bem, no início, tudo mundo fica um pouco inibido. Mas acho que fui feliz ao procurar demonstrar que histórias feias ou bonitas, trágicas ou comoventes ocorrem o tempo todo perto de nós mesmos. Tanto que houve um momento, quando eu contava uma história real que registrei em meu livro, em que o silêncio no auditório, que estava lotado, foi total. Eu mesmo fiquei um pouco incomodado com esse silêncio.</div>
<div style="background-color: white; border: 0px none; color: #444444; font-family: Oxygen, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial; font-size: 14px; line-height: 22.399999618530273px; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify;">
<br style="border: 0px none; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;" /></div>
<div style="background-color: white; border: 0px none; color: #444444; font-family: Oxygen, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial; font-size: 14px; line-height: 22.399999618530273px; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify;">
<b style="border: 0px none; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Renta Vila</b>: E...</div>
<div style="background-color: white; border: 0px none; color: #444444; font-family: Oxygen, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial; font-size: 14px; line-height: 22.399999618530273px; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify;">
<br style="border: 0px none; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;" /></div>
<div style="background-color: white; border: 0px none; color: #444444; font-family: Oxygen, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial; font-size: 14px; line-height: 22.399999618530273px; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify;">
<b style="border: 0px none; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Jeosafá</b>: E, quando terminamos nossa entrevista mútua, uma porção de estudantes veio me contar, ainda que</div>
<span style="background-color: white; color: #444444; font-family: Oxygen, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial; font-size: 14px; line-height: 22.399999618530273px;">rapidamente, algumas histórias de suas vidas, de suas famílias ou de gente que mora no bairro.</span><br />
<div style="background-color: white; border: 0px none; color: #444444; font-family: Oxygen, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial; font-size: 14px; line-height: 22.399999618530273px; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify;">
<br style="border: 0px none; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;" /></div>
<div style="background-color: white; border: 0px none; color: #444444; font-family: Oxygen, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial; font-size: 14px; line-height: 22.399999618530273px; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify;">
<b style="border: 0px none; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Renta Vila</b>: Tipo...</div>
<div style="background-color: white; border: 0px none; color: #444444; font-family: Oxygen, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial; font-size: 14px; line-height: 22.399999618530273px; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify;">
<br style="border: 0px none; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;" /></div>
<div style="background-color: white; border: 0px none; color: #444444; font-family: Oxygen, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial; font-size: 14px; line-height: 22.399999618530273px; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify;">
<b style="border: 0px none; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Jeosafá</b>: Tipo: mulher de coragem que cuidou de cinco filhas sozinha, na raça; tipo: idoso de mais de oitenta anos que faz poesias e mostra para a neta etc. Ou seja, eles tem um mundo de histórias para contar.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgnPDXbXyZPT4Xkfm-HCxB96MmGxC4ktZNLpFdGyz8SZox-Bk-fKRxmmhtPM6hK7cQtNjFfr9AthUZQQZ3rekst7HkABfyQATNR0kk31y1-wStYoPd7YDNDLS0t1LAdUba5Qir_4Wclhv4/s1600/14mai-8.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgnPDXbXyZPT4Xkfm-HCxB96MmGxC4ktZNLpFdGyz8SZox-Bk-fKRxmmhtPM6hK7cQtNjFfr9AthUZQQZ3rekst7HkABfyQATNR0kk31y1-wStYoPd7YDNDLS0t1LAdUba5Qir_4Wclhv4/s1600/14mai-8.JPG" height="213" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Com alunos, após as entrevistas.</td></tr>
</tbody></table>
<div style="background-color: white; border: 0px none; color: #444444; font-family: Oxygen, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial; font-size: 14px; line-height: 22.399999618530273px; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify;">
<b style="border: 0px none; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Renta Vila</b>: E o que você espera?</div>
<div style="background-color: white; border: 0px none; color: #444444; font-family: Oxygen, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial; font-size: 14px; line-height: 22.399999618530273px; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify;">
<br style="border: 0px none; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;" /></div>
<div style="background-color: white; border: 0px none; color: #444444; font-family: Oxygen, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial; font-size: 14px; line-height: 22.399999618530273px; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify;">
<b style="border: 0px none; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Jeosafá</b>: Espero que o projeto que estou bolando com a prof.a Regina Lino, Orientadora da Sala de Leitura, vá para frente. Ela se esforça para que eles reflitam mais sobre o local me que moram e estudam. No dia 26 vai haver um café cultural, é um outro momento em que esse mergulho na realidade local vai ocorrer.</div>
<div style="background-color: white; border: 0px none; color: #444444; font-family: Oxygen, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial; font-size: 14px; line-height: 22.399999618530273px; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify;">
<br style="border: 0px none; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;" /></div>
<div style="background-color: white; border: 0px none; color: #444444; font-family: Oxygen, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial; font-size: 14px; line-height: 22.399999618530273px; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify;">
<b style="border: 0px none; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Renta Vila</b>: Então você tem expectativas de que os jovens escrevam suas histórias...</div>
<div style="background-color: white; border: 0px none; color: #444444; font-family: Oxygen, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial; font-size: 14px; line-height: 22.399999618530273px; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify;">
<br style="border: 0px none; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;" /></div>
<div style="background-color: white; border: 0px none; color: #444444; font-family: Oxygen, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial; font-size: 14px; line-height: 22.399999618530273px; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify;">
<b style="border: 0px none; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Jeosafá</b>: Sim, escrevam, fotografem, filmem, pois hoje em dia qualquer celular faz um bom filme-minuto. No que depender de mim, podem contar comigo para aprender a recolher, registrar e dar forma às histórias deles que eles julgam valer a pena. Demonstrei a eles que ouvir a história dos outros é uma foram de contarmos a nossa própria história.</div>
<div style="background-color: white; border: 0px none; color: #444444; font-family: Oxygen, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial; font-size: 14px; line-height: 22.399999618530273px; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify;">
<br style="border: 0px none; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;" /></div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiT8oDqU5ePPBVcKy0l0x3Ajrsn574BVO_-poT41orycFpONDYdknVjiFnqCRCRiwVlUnoM_c1EzXkzfY5GD8YuqtwXQsLqW1OKdteSieo8Crf7QlFwZFO_ZWniAdBiR5u2GxhdqyR_MhI/s1600/14mai-4.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiT8oDqU5ePPBVcKy0l0x3Ajrsn574BVO_-poT41orycFpONDYdknVjiFnqCRCRiwVlUnoM_c1EzXkzfY5GD8YuqtwXQsLqW1OKdteSieo8Crf7QlFwZFO_ZWniAdBiR5u2GxhdqyR_MhI/s1600/14mai-4.JPG" height="213" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Auditório, durante as entrevistas.</td></tr>
</tbody></table>
<div style="background-color: white; border: 0px none; color: #444444; font-family: Oxygen, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial; font-size: 14px; line-height: 22.399999618530273px; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify;">
<b style="border: 0px none; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Renta Vila</b>: Então você vai voltar lá por esses dias...</div>
<div style="background-color: white; border: 0px none; color: #444444; font-family: Oxygen, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial; font-size: 14px; line-height: 22.399999618530273px; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify;">
<br style="border: 0px none; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;" /></div>
<div style="background-color: white; border: 0px none; color: #444444; font-family: Oxygen, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial; font-size: 14px; line-height: 22.399999618530273px; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify;">
<b style="border: 0px none; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Jeosafá</b>: Sim, dia 26 estarei lá e levarei alguns exemplares do Zona Norte para a Biblioteca e outros para serem sorteados. O Zona Norte pode servir de referência para eles fazerem a recolha das histórias deles, que podem ir para o Facebook ou, melhor ainda, para um blog que cada um pode criar para essa finalidade, como eu fiz com a série Era uma vez no meu bairro, que tem um blog específico (para ir ao blog, clique <b style="border: 0px none; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;"><a href="http://eraumaveznomeubairro.blogspot.com.br/" style="-webkit-transition: all 0.2s ease-in-out; border: 0px none; color: #111111; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-decoration: none; transition: all 0.2s ease-in-out;" target="_blank">aqui</a></b>).</div>
<div style="background-color: white; border: 0px none; color: #444444; font-family: Oxygen, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial; font-size: 14px; line-height: 22.399999618530273px; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify;">
<br style="border: 0px none; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;" /></div>
<div style="background-color: white; border: 0px none; color: #444444; font-family: Oxygen, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial; font-size: 14px; line-height: 22.399999618530273px; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify;">
<b style="border: 0px none; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Renta Vila</b>: Noutras palavras...</div>
<div style="background-color: white; border: 0px none; color: #444444; font-family: Oxygen, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial; font-size: 14px; line-height: 22.399999618530273px; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify;">
<br style="border: 0px none; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;" /></div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg41qHNnBWBYTuPeAUzDFMbfJV8hkbbYcTqTx_bzdt7hum9rwG9ohxZ_OklsnnSEri8eCDiGhwZUjkTfH1PnfpzMnxsZCELhbOFNzzV3e8urokarQQBouMpuEofz_XY8QQqJUCEKTy4Jl8/s1600/14mai-11.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg41qHNnBWBYTuPeAUzDFMbfJV8hkbbYcTqTx_bzdt7hum9rwG9ohxZ_OklsnnSEri8eCDiGhwZUjkTfH1PnfpzMnxsZCELhbOFNzzV3e8urokarQQBouMpuEofz_XY8QQqJUCEKTy4Jl8/s1600/14mai-11.JPG" height="213" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Com educadores, após entrevistas.</td></tr>
</tbody></table>
<div style="background-color: white; border: 0px none; color: #444444; font-family: Oxygen, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial; font-size: 14px; line-height: 22.399999618530273px; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
</div>
<b style="border: 0px none; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Jeosafá</b>: Noutras palavras, no que depender de mim, o projeto pode ir para o bairro. Gostaria muito de ser convidado para ouvir ou contar histórias nas casas das pessoas. Todo mundo tem belas histórias para contar e, contando, recupera memórias de família, o bairro, do país e do mundo... porque, sem conhecermos nossa própria história, somos facilmente manipulados e feitos de...</div>
<div style="background-color: white; border: 0px none; color: #444444; font-family: Oxygen, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial; font-size: 14px; line-height: 22.399999618530273px; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify;">
<br style="border: 0px none; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;" /></div>
<div style="background-color: white; border: 0px none; color: #444444; font-family: Oxygen, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial; font-size: 14px; line-height: 22.399999618530273px; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify;">
<b style="border: 0px none; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Renta Vila</b>: Feitos de...?</div>
<div style="background-color: white; border: 0px none; color: #444444; font-family: Oxygen, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial; font-size: 14px; line-height: 22.399999618530273px; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify;">
<br style="border: 0px none; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;" /></div>
<div style="background-color: white; border: 0px none; color: #444444; font-family: Oxygen, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial; font-size: 14px; line-height: 22.399999618530273px; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify;">
<b style="border: 0px none; list-style: none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Jeosafá</b>: Idiotas, a palavra é forte mas é essa. Quem não conhece a história de si, de sua família, de seu bairros, de sua cidade, de seu país, do mundo, enfim, é passado para trás facilmente.</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/08337348869621152552noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2986241826164358045.post-55405222302246099582014-04-14T12:09:00.001-03:002014-04-14T12:21:02.973-03:00Comédia de pobre é igual a filme do Chaplin: tem sempre um fundo triste<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhzNeo42JqTGPjt8G4L9N2pVElJs1vRMsqgNXsSMd9UB5OgHXl9lc5v31Txpb2LzHhCFfw39pc3dXb9Cy29I-QqC7tuRd4bAvZ-czA1vxuL6oudSI98FcUNoa-gjORc8fGOkq8fl3QUMEY/s1600/Quixote.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhzNeo42JqTGPjt8G4L9N2pVElJs1vRMsqgNXsSMd9UB5OgHXl9lc5v31Txpb2LzHhCFfw39pc3dXb9Cy29I-QqC7tuRd4bAvZ-czA1vxuL6oudSI98FcUNoa-gjORc8fGOkq8fl3QUMEY/s1600/Quixote.jpg" /></a></div>
<br />
Tem histórias que não cabem no livro do meu patrão. Essas, ele libera para eu contar aqui neste livroblog que vai crescendo enquanto tanta coisa no mundo fica parada, tipo trem do metrô, que já foi nosso orgulho paulistano e que hoje dá engulho no estômago.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O caso ocorreu na Freguesia do Ó, ontem, e não é um fato, mas uma narração de fato.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Estávamos eu e outra encalhada (a mesma que emprestou uma de suas histórias, a do caroço de manga, para o romance Zona Sul) comendo pizza na Lareira - estabelecimento comercial situado à avenida Emílio Carlo, 718 -, quanto esta, não eu nem a pizzaria, a a amiga não vem ao caso encalhada, proferiu a seguinte sentença:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
"Enquanto a pizza não chega, deixa eu contar um caso".</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Foi aí que a coisa desandou.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O caso é que ela tem um irmão. Esse irmão tem um filho. Esse filho do irmão, portanto, sobrinho, já na casa dos 40, tem seis, não duvidem, SEIS filhos! E não gosta de trabalhar, de maneira que o pai o empregou em sua oficina de bombas hidráulicas mediante o ordenado não registrado em carteira de R$ 300,00 por semana.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Coisa de um mês, vai o pai, no sábado do pagamento semanal, ao final do expediente, que nesse dia é 13 horas, e diz ao filho:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
"Toma seu ordenado e vai direto para casa, pois com tantos de filhos e mulher desempregada, esse valor tem que em investido em segurança alimentar, saúde, educação e moradia do coletivo."</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Na verdade o velho usou outros termos mais populares e mais uns xingamentos nas orelhas do filho vagabundo, mas eu não vou reproduzir o que minha amieeeega falou em alto e bom som para toda a pizzaria ouvir, mesmo as mesas mais distantes, já perto do forno à lenha e debaixo do monitor de TV onde o Santos levava um sacode do Ituano.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O filho vagal se mandou com a grana. Não demora, antes de o velho ter tempo de baixar a porta do estabelecimento comercial do ramo metalúrgico de consertos e afins, aparece MONTADO EM UM CAVALO PANGARÉ! (assim exaltou-se minha amieeega).</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Quando as mesas da pizzaria ouviram seu grito em letras maiúsculas acima reproduzido, estourou em gargalhadas. Minha amieeeegga, os olhos injetados de indignação, tentava provar a mim e aos ocupantes das mesas circundantes que seu sobrinho era um desonesto, vagabundo, sem coração etc. etc. etc. Mas alguém perto do forno berrou entre gargalhadas:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
"Tia, esse cara não é isso aí que tá dizendo não: É LOUCO! Quiá quiá quiá. INTERNA!"</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ninguém me tira da cabeça que quem pôs lenha no forno foi o pizzaiolo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Minha amiga se estressou, subiu na mesa e falou cobras, lagartos e cavalos pangarés como troco das gargalhadas que vitimavam seu pobre sobrinho fraco das ideias. O estresse só acabou quando a grande torcida do Ituano na Freguesia do Ó começou a estourar rojões pela vitória épica do time do interior.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Foi a deixa para que saíssemos de fininho sem provocar maiores tumultos do que o até ali ocorrido. Voltei para casa pensando: quantos anos esse matusquela de sobrinho de minha amiga encalhada teria ruminado e recalcado o desejo de montar em um cavalinho?<br />
<br />
Cheguei à conclusão de que a culpa era do velho, que não levou o coitado, quando criança, em parque infantil para brincar no carrossel de cavalinhos, o que causou-lhe um trauma profundo que foi dar nesse pangaré de R$ 250,00 - sim, porque o malandro dever ter pechinchado, para ficar com os R$ 50,00 do troco que acenou ao velho de cima do animal, arrasado pelos anos e cheio de bicheiras.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Comédia de pobre é igual a filme do Chaplin: tem sempre um fundo triste.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
</div>
<br />
<div style="-webkit-text-stroke-width: 0px; color: black; font-family: 'Times New Roman'; font-size: medium; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; letter-spacing: normal; line-height: normal; orphans: auto; text-align: justify; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: auto; word-spacing: 0px;">
<div style="margin: 0px;">
<br /></div>
</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/08337348869621152552noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2986241826164358045.post-65345122785675090202014-04-05T10:42:00.000-03:002014-04-09T20:38:41.407-03:00Zona Norte à venda<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEis7iB0Nv2kt2xbh1q6s8iJ9_tpgL0whzVIzjrywIUGVSuTZO5VNRaTMyqpIg0bMyeDiFBpp6Tbbg-gdogncpEIf7p9uHRV7RB2xZ6R2tVawDaBJikHEk0yc_IkjkGVM08cIeSnmf2QOnM/s1600/Mapa+santana.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEis7iB0Nv2kt2xbh1q6s8iJ9_tpgL0whzVIzjrywIUGVSuTZO5VNRaTMyqpIg0bMyeDiFBpp6Tbbg-gdogncpEIf7p9uHRV7RB2xZ6R2tVawDaBJikHEk0yc_IkjkGVM08cIeSnmf2QOnM/s1600/Mapa+santana.png" height="241" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Já me enviaram mensagem malcriada, já me elogiaram e quase me pediram em casamento por causa do que escrevo neste espaço cheio de segundas intenções, mas não posso fazer nada se as palavras escorregam e o que digo pode ser entendido de miles manières, e a salada idiomática já se mete neste parágrafo que é bom terminar logo, senão não termina bem.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O caso é que "Zona Norte" à venda em questão aqui não é o romance do cara que me paga de vez em quando - e cada vez mais de vez em quando - para eu administrar este blog. Ele diz: "Atualiza que eu pago"; eu digo: "Paga que eu atualizo". Como podem ver, venci essa disputa. E é com o dindim no bolso que que reafirmo: Zona Norte aqui não é o romance, mas Zona Norte mesmo, no duro, entre o rio Tietê e a serra da Cantareira de São Paulo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Fui dar um rolê com um amigo outro sábado pela cidade. Estava vazia, pois era uma tipo assim emenda de feriado. Deem uma olha no calendário do mês passado e vão localizar o dito sábado, por que agora estou com preguiça.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Batendo pernas e falando adoidado, fomos do Centro dar em Santana, rumo ao Jardim São Paulo. Meninas! - Meninos também, que nem eu nem este blog é preconceituoso! - Ei vi! Da rua Conselheiro Saraiva, para cima, rumo ao Mirante de Santana, até o Jardim São Paulo, está tudo à venda. Casas ótimas, uma atrás da outra:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbbyvkhKAiRZIP5STrvfzZdqBBKR_WtkGk1oDrwzsHu5mo62JndUH-QlN5nXTupIWV3Cs8Tzo01TaATljuQ2WspcJ2Z0XGgo_76t9BRtR_bP6TV_k2JwWcOim6lQ3SHcpfmF9-PU5DPVg/s1600/Capa-Era+uma+vez-NorteFinal.png" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: justify;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbbyvkhKAiRZIP5STrvfzZdqBBKR_WtkGk1oDrwzsHu5mo62JndUH-QlN5nXTupIWV3Cs8Tzo01TaATljuQ2WspcJ2Z0XGgo_76t9BRtR_bP6TV_k2JwWcOim6lQ3SHcpfmF9-PU5DPVg/s1600/Capa-Era+uma+vez-NorteFinal.png" /></a><br />
<div style="text-align: justify;">
"Vende-se", "Vende-se", "Vende-se", "Vende-se", "Vende-se", "Vende-se", "Vende-se", "Vende-se", "Vende-se", "Vende-se", "Vende-se", "Vende-se", "Vende-se", "Vende-se", "Vende-se", "Vende-se", "Vende-se", "Vende-se", "Vende-se", "Vende-se", "Vende-se", "Vende-se", "Vende-se", "Vende-se", "Vende-se" ...</div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Perguntei ao meu amigo, cujo nome aqui omito, pois é comprometido e cuja namorada japa é lutadora de kung-fu: "Que tá ocorrendo no recinto, pode-se saber"?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ele ficou sorumbático, pois (embora tenha passado a infância, a adolescência e início da juventude na distante e mitológica vila Ede city, terra de Marlboro e mais ainda de Continental sem filtro, na década de 1970) adorava passear pelas ruas arborizadas, em meio a casas do entorno do Mirante, até o Jardim São Paulo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
"Tá surdo?", insisti com o namorado da japa. "Se falar de novo 'tá tudo à venda' mais uma vez, vou ter que te disciplinar mediante a um monte de pescoções no escutador de jazz". Acreditam, foi isso que o indivíduo me falou só porque o sonho de classe média dele, de morar numa dessas casas, tava indo para o buraco.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
"Cumé que é?", questionei-o firmemente, olhado-lhe os olhos pretos em meio àquela pretidão de homem já nos 50, mas cuja musculatura e altura ainda lembravam os treinos de box que jogara até os 30. "Você tava pensando em alugar uma dessas casas, por isso me convidou para o passeio, seu fidamã?"</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ele me olhou com aqueles olhões pretos. "Pra que esse nariz tão grande e esses boca tão...". Deixa pra lá, pensei. "Se era para procurar casa pra morar, por que não chamou aquela japa, seu... seu... seu... fidamã".</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O clima ficou pesado. Então, voltamos pelas ruas Padre Azevedo, Viveiro de Castro, Antônio Guganis, Amoroso Pedrosa, Machado da Costa, av. Leôncio de Magalhães: tudo à venda. Quem estiver interessado, vá lá, deve estar uma pechincha.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Perguntei ao namorado da japa por que alguém compraria uma casa em uma rua em que todas as casas estão à venda, ao que ele me respondeu: "Especulação: um capitalista virá, comprará um monte delas, porá tudo abaixo e contratará uma empreiteira para erguer uma torre igual àquela ali." E me apontou um prédio horrível em meio a casas antigas, tipo década de 50, lindas, mas marcas para a morte com a placa "Vende-se".</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Bom, ele e a namorada japa dele estragaram meu sábado.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/08337348869621152552noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2986241826164358045.post-63604439213103215512013-11-19T14:18:00.000-02:002015-04-22T12:40:36.207-03:00ZONA OESTE<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="MsoNormal">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgBxg35JrH67lNih7VIXati1NqQbnzYu_ygcGvCLhTOOeUqBzOZd2V_shCp4vRfUHALsYHV7ftm2yG-NNT0qBUFbcEFZl0OtI8y8OeyM0PhJJoDjlrZH9fAirTdHJSg6KGDhRu93QUaQaM/s1600/Zona+Oeste.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgBxg35JrH67lNih7VIXati1NqQbnzYu_ygcGvCLhTOOeUqBzOZd2V_shCp4vRfUHALsYHV7ftm2yG-NNT0qBUFbcEFZl0OtI8y8OeyM0PhJJoDjlrZH9fAirTdHJSg6KGDhRu93QUaQaM/s1600/Zona+Oeste.jpg" height="320" width="214" /></a></div>
<span style="font-family: inherit; text-align: justify;"><b><a href="http://lojanovaalexandria.com.br/era-uma-vez-no-meu-bairro-zona-oeste.html" target="_blank">ZONA OESTE</a></b> é o
quarto e penúltimo romance do ciclo </span><i style="font-family: inherit; text-align: justify;">Era
uma vez no meu bairro</i><span style="font-family: inherit; text-align: justify;">, do escritor paulistano Jeosafá Fernandez Gonçalves.
Resultado de mais de vinte anos de pesquisa sobre a violência, particularmente
contra crianças e jovens, em jornais, livros, documentos oficiais e a partir de
entrevistas em trabalho de campo, ZONA OESTE é a quarta estação de uma obra
cujo enredo, em forma de espiral, tendo partido da ZONA NORTE e passado por
ZONA LESTE e ZONA SUL, atingirá o CENTRO, estação derradeira, em 2014. Cada
região da metrópole, um romance enraizado na realidade e, como ela, cheio de
surpresas, expectativas e, naturalmente, sonhos.</span><br />
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
Quem por São Paulo ande sem destino certo pode ser que
encontre o que não espera – e isso pode ser bom, ou não. Talvez esta seja a
mensagem em torno da qual se articula o enredo deste <i>ZONA OESTE</i>. Neste romance – cujos personagens se movem pelas ruas da
Lapa e Pompeia, por regiões da Paulista e além do rio Pinheiros – as vozes se sucedem ao vivo, diante do
leitor que, convertido em testemunha, acompanha, em tempo real, fatos e dramas ainda
em processo, sem saber ao certo o rumo para o qual se encaminha a trama.<o:p></o:p></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
Aqui se está no terreno escorregadio do “tudo é possível”,
com a advertência de que o pano de fundo dessa geografia meio inventada, meio
real, é uma cidade que oferece as maiores singelezas e os maiores horrores – às
vezes simultaneamente.<o:p></o:p></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
A lógica aparentemente fantástica deste <i>ZONA OESTE</i> é a mesma que permeia os romances anteriores da série: a
partir de pesquisas bibliográficas, históricas, urbanísticas, documentais, de
reportagem fotográfica e de entrevistas com pessoas reais o autor teceu uma
teia em que o real parece absurdo (a exemplo de depoimentos de moradores e
ocupantes ocasionais de túmulos da necrópole homônima da cidade) e em que o
ficcional é contrabandeado para o interior do enredo como fato aceitável (uma
vez que, em São Paulo, cidade ou necrópole, nada é de duvidar).<o:p></o:p></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
Quando um organismo social de despedaça as consequências –
quem não sabe? – são sempre dramáticas. Quando esse organismo é uma família,
nem sempre sobra quem possa recolher os cacos, os escombros, os espólios.
Porém... às vezes sobra. Neste romance, com um dos pés fincados na realidade e
outro na possiblidade legitimada pela fantasia, a sobrevivente de um desses
eventos dramáticos, em busca de aquietar seu coração despedaçado, reinsere numa
narrativa mais humana e amorosa os cacos de vida que colecionou, em surdina,
durante os anos de aprendizagem e maturidade.<o:p></o:p></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/08337348869621152552noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2986241826164358045.post-28651348493013040202013-10-30T10:48:00.001-02:002013-10-31T14:36:27.662-02:00SÃO PAULO: ZONA NORTE SITIADA<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3_8clKvI6rPX9guUoiLgplfvTrGecfg6nI91uhKVLAKD9B9i2UAdn3LuW8_kSiY3pqCoeM3FgxDBa74UjVgdJWr0-UU0CBbg-cwUgJAgvNiIkQEtTyxFFpcBZgkLe7ituV0TBcBony9w/s1600/Por+que.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3_8clKvI6rPX9guUoiLgplfvTrGecfg6nI91uhKVLAKD9B9i2UAdn3LuW8_kSiY3pqCoeM3FgxDBa74UjVgdJWr0-UU0CBbg-cwUgJAgvNiIkQEtTyxFFpcBZgkLe7ituV0TBcBony9w/s400/Por+que.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Após o assassinato covarde pela polícia de mais um jovem trabalhador na Zona Norte, uma onda de quebra-quebras se espalhou do Jardim Brasil à Vila Medeiros, se estendendo do Jaçanã ao Parque Novo Mundo. Analistas apressados logo estabeleceram vínculo direto entre esses fatos e as ações dos black bloc. Os "black blocs", no Brasil DE HOJE, não são uma
homogeneidade, portanto, não são em bloco inocentes úteis. Quem participou
ativamente das manifestações e acompanha os acontecimentos dos últimos dias
observa pelo menos estes grupos encapuzados: anarco-punks; mauricinhos e
patricinhas; neo-nazistas, integralistas e skin heads; ocasionalmente bandidos
aproveitando ocasião; P2; simpatizantes ou militantes do PSTU, PCO e PSOL; e marias-vai-com- as outras. Destes todos, apenas o último pode ser chamado de
"inocente útil". As ações dos encapuzados criam o caldo de cultura do
fascismo, não enxerga quem não quer. Os ataques e saques na Zona Norte, desde domingo passado, estão ligados ao oportunismo do crime organizado, que pegou carona no sentimento de dor e de justiça da população pelo assassinato vil do jovem <span style="font-family: inherit;"><span style="background-color: white; line-height: 18px;"> </span><span style="background-color: white; line-height: 18px;"><b><a href="http://www.diariodocentrodomundo.com.br/por-que-voce-atirou-em-mim-a-vida-nas-franjas-de-sp-onde-douglas-foi-executado/" target="_blank">Douglas Rodrigues</a></b>, na tarde de domingo, em Jaçanã.</span></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiKTjXsVpJTdg4bd9v-vRC-wHA405HUQHgqbEYJb4O9HiUxrhSuk7UoUNoDl7uDtkd8_uRWwZiiPtUJgd3YEQ14qx0cqAgu_bByyKP5FpsJxpF1phZ9WnPqXxssj3Hgtbo5ZUQfURgUFV8/s1600/Douglas+Rodrigues.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiKTjXsVpJTdg4bd9v-vRC-wHA405HUQHgqbEYJb4O9HiUxrhSuk7UoUNoDl7uDtkd8_uRWwZiiPtUJgd3YEQ14qx0cqAgu_bByyKP5FpsJxpF1phZ9WnPqXxssj3Hgtbo5ZUQfURgUFV8/s320/Douglas+Rodrigues.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="background-color: white; line-height: 18px;">Porém, há mais de quarenta anos a população dessa região é vítima e refém tanto de criminosos quanto d</span></span><span style="background-color: white; line-height: 18px;">e políticos corruptos (e não menos bandidos) e </span><span style="background-color: white; font-family: inherit; line-height: 18px;">da polícia - que nessa região de São Paulo historicamente tem setores importantes associados ao crime. Como nessa região há o entroncamento de duas rodovias federais por onde escoa tanto o tráfico de drogas e armas para o interior da capital e dela para o restante do país, quanto o roubo de cargas, há aí um mercado em que, com frequência, policiais, "empresários", políticos e bandidos estão associados.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="background-color: white; line-height: 18px;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="background-color: white; line-height: 18px;">Em 2009 lancei ZONA NORTE, da série<b> Era uma vez no meu bairro</b>, em que trato desse assunto. O Capítulo 9 que ofereço aqui ao leitor é resultado recolha de história oral. A já distante década de 1970 está em foco. O cenário é exatamente a região que hoje ocupa as páginas dos jornais do país inteiro: a confluências das vias Dutra e Fernão Dias. </span></span><span style="background-color: white; font-family: inherit; line-height: 18px;">Nesse capítulo, um grupo de meninos presencia uma cena que, nessa região, não é novidade para ninguém. Tire o leitor suas próprias conclusões.</span></div>
<span style="font-family: inherit;"><span style="background-color: white; color: #333333; line-height: 18px;"><br /></span></span>
<br />
<span style="font-size: large;"><b>ZONA NORTE</b></span><br />
<span style="color: red; font-size: large;"><b>Capítulo 9</b></span><br />
<div>
<h3>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgiwh9ZhvGXe0nwlTHjOcVSdDdH9VLYDHdN0X1WFggFko_vwBGdeKcq_5sQs209KVtGyIqzRgbuFe5rLkOEEv0gx8gfVUQQ99588EhDfVXwq1UNwfT4uzKDlCvWg4ZUvJPX8Uib6mGLx1Q/s1600/ZONA-NORTE----em-baixa.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; font-size: medium; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgiwh9ZhvGXe0nwlTHjOcVSdDdH9VLYDHdN0X1WFggFko_vwBGdeKcq_5sQs209KVtGyIqzRgbuFe5rLkOEEv0gx8gfVUQQ99588EhDfVXwq1UNwfT4uzKDlCvWg4ZUvJPX8Uib6mGLx1Q/s200/ZONA-NORTE----em-baixa.jpg" width="132" /></a><br />
</h3>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– Esconde, esconde rápido.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– E se eles pegarem a gente? Matam a
gente também?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– Matam nada. Não tá vendo que isso é entre
eles?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– Fala baixo, porra.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">Na moita à beira do campo do varjão,
éramos quatro: Rosalva, Edson, Edilson e eu. Luz, nenhuma, lama, só.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– E se começar a chover de novo? Vai
encher e a gente morre tudo afogado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– Cala essa boca, daqui a pouco os caras
chegam.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– Mas já está dando uns pingos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– Alá, alá, alá as viaturas, meu!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– Ih, são uma pá, caraca!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">Era uma pá de viaturas da polícia.
Entraram no campo de terra preta e formaram em círculo, com os faróis acesos
para o centro dele.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– Desce aí, ô boca-aberta. Cadê o
tijolo?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– Deixa eu pegar, tá debaixo do banco.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– Demorou, demorou.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– Tá aqui, ó.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– Belezaça.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– Quanto tem?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– Dois redondo. Da pura.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– Quanto o cara vai dar?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– Aí é entre eu e ele, sabe como é,
né...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– Entre você e ele? Então tá. Dá aqui
essa porra. Pega aí, soldado, que esse vagabundo vai levar um corretivo, para
aprender o que é hierarquia.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– Opa, mas peraí, chefia, não é por
aí...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– Não é por aí o caralho, e vai tirando
essa farda, que o bonde do JB vai passar, tá passando, já passou procê, bacana.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">Não dava para ver direito, porque os
faróis das viaturas cegavam. As vozes vinham de perto e os vultos se mexiam
entre as luzes. O que tomou o pacote do outro deu nele uma coronhada que o pôs
no chão. O mandão falou:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– Tira a farda desse veado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">Na moita, ficamos com o cu na mão, não
passava nem arroz.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– Se eles pegarem nóis, tamos fodidos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– Fica quieto, meu, quer morrer junto
com o boca-aberta?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">Uma porção de policiais cercou o que
estava no chão.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– Uia, tão deixando o cara pelado, meu!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– Esse já era.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– Pô, polícia matar polícia é ruim, hem?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– Tão chutando a cara dele, caraca!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– Psst.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">A chuva engrossou forte. Dava para ver
os pingos brilharem na luz dos faróis. O sangue se misturava com a lama preta.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– Acaba logo com a parada, que o bacana
chegou.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">Um carro apagado estacionou ao lado da
moita em que a gente estava. Um gordão dentuço, alto, de paletó e gravata
desceu pela porta do carona com um saco de supermercado estufado de bufunfa,
com certeza, e ficou parado um tempinho.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– Puta, meu, olha só o carro do cara,
meu. Só pode ser importado, só pode ser.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– É, mas o gordo filho da puta parou bem
na nossa frente, não dá para ver mais nada.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– Só pode ser importado, só pode ser.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– Fala baixo, quer morrer? E se
continuar falando que nem matraca e repetindo o tempo todo a mesma coisa,
quando sairmos daqui vamos te cobrir na porrada, experimenta!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">Tenho uma mania de falar alto e me
repetir que dá nos nervos dos outros, mas não posso fazer nada, não consigo me
segurar. Quando vi, já falei. O gordo passou ao lado da moita, pela frente do
importado, e foi até as viaturas. Mudamos nossa posição na moita para ver
melhor, mas ficou ruim, quase do mesmo jeito. E ainda ficamos um pouco à
mostra, ainda bem que estava escuro para o nosso lado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– Está com vofês?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– Tá aqui, excelência, de primeira.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– E effe fidadão aí na lama?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– É um boca-aberta, doutor. Uma espécie
individualista, que não sabe trabalhar em equipe, não respeita ordem, nem
disciplina.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– Fe é affim, tudo bem, maf não fão deifar o lifo aí para a
comunidade recolher amanhã, não é mefmo?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– Imagina, doutor. Soldado, traz o galão
aqui.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– Meu, o cara fai gritar e não quero
fer a merda que fai dar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– Imagina, doutor, se íamos deixar a
excelência ouvir os miados desse veado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">Da moita, vimos o gordão voltar ao
importado com o tijolo na mão e todo ensopado, mas sem o saco de supermercado.
Entrou no carro, que deu partida, andou só um pouco e fez uma parada bem na
nossa cara. O gordo baixou o vidro e falou para nossa moita:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– Fão aprendendo, feus boftinhas: peife
grande come peife pequeno. Iffo aqui é o Brafil, ou pelo menof é o Jardim
Brafil. Quiá-quiá-quiá.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">Deu uma risada safa, fechou a janela do
carro e foi embora mandando chauzinho para a moita.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">Os policiais ficaram sem entender picas.
Então, o que tomara o tijolo do pelado caminhou enfiando as botas na lama preta
até a moita, fez uma puta cara de girafa, mexeu os ombros e voltou para a
frente das viaturas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">O pelado estava com a cara enfiada para
a lama.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– Soldado, caralho, cadê o galão que eu
pedi?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– Taqui.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– E as porras do pneus? Incompetentes.
Nem pra ladrão servem!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">Chegaram pneus aos montes de todas as
viaturas. O Cara de Girafa deu um só tiro no meio da caveira do pelado. O cara
deu um tremelão, se esticou todo e aquietou-se, a cara atolada na lama preta.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;"> Empilharam os pneus em cima do pelado.
Despejaram o conteúdo do galão por cima de tudo e tocaram fogo. As labaredas
subiram. As línguas de fogo amarelas e azuladas quase pegaram na nossa moita
quando o vento bateu.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– Soldado!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– Pronto!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– Amanhã cedo você atende a essa ocorrência,
compreendido?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– Mas amanhã é minha folga...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– Aí, gente, o “folgado” não quer
atender a uma ocorrência policial, que é que vocês acham?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– Se não é polícia, é bandido.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– Tá bom, tá bom. Eu atendo, tudo bem. E
para onde é que leva? Pro de sempre?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– Positivo operante. Ou acha que o
Cemitério de Perus foi inaugurado para ficar jogado às moscas? Tem que mostrar
serviço para a hierarquia, soldado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">As viaturas desligaram as luzes e
seguiram apagadas para fora do aterro. Sumiram no escuro e na chuva. No centro
do campo de terra preta, os pneus queimando mandavam para cima uma chama clara
e uma fumaça turva. Um cheiro misturado de carne, gordura e borracha torradas
embrulhava o estômago.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– Caralho, vamos embora que tou com
vontade de vomitar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– E eu tô com um frio da peúga e com
vontade de te lascar a mão.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– Que porra é essa, meu? Peúga?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– Sei lá, minha mãe é que fala.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– Tá, mas vamos pela beirada da rodovia.
Senão pegam a gente.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– Você é um puta cagão mesmo, Victor.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– Mas ele tá mais é certo. Meu, o Cara
de Girafa é cruel, meu!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– Viu só?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– Mas o gorducho é gente fina, podia ter
dedurado a gente e ficou na dele.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– Viu só?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– Mas, além de ignorante, é dentufo.
Aqui por acaso é o JB? É a Fabrina, e muito Fabrina.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– Fó.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– A Fabrina é soda, meu, parefe que nem
tá no mapa!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– Mãe diz que só existe porque tem uma
linha de ônibus com esse nome, senão, era um abraço.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– Só.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– Pô, só sabe falar “só”, seu inútil.
Aí, vamos pegar esse Victor, provocador do caralho, e jogar ele na lama para ele aprender uma
coisa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– Vamos nessa!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">Aproveitei para levar um monte de socos.
Depois, saímos correndo. Quando estávamos na avenida, cruzamos com as viaturas
paradas na padaria. Os guardas, as viaturas estacionadas, tomavam um café
financiado pelo portuga sangue ruim. Ficamos por ali para ver se faturávamos
umas fantas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– Isso é que é vida – falou o Cara de
Girafa ao português, dono da espelunca, dedando o nosso grupo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">O tigueis olhou para nós e pensei que
agora era que íamos faturar aquelas belas fantas geladinhas. Cai do cavalo:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– Ah, isso não vale nada. São todos uns
trombadinhas aí da Vila Sabrina, ô gajo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">Dávamos uns pulos na chuva e altas
gargalhadas, enfiando os pés na corrente de água cinza da enxurrada, que rolava
pela sarjeta quase invadindo a calçada.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– São nada – repreendeu a autoridade. –
São moleques, só não vão valer nada quando chegarem à nossa idade. Aí viram
tudo “função” nesse JB do caralho.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">O portuga fez uma careta e deve ter
pensado que esse milico tava mais era virando um boiola sentimental. Também,
com aquela cara de Girafa, o que se ia esperar? Tava mal a Vila Sabrina de
polícia. Ofereceu outro café. E, para mudar de assunto:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– Aqui não é o JB, ô gajo, é a Vila S,
de Sabrina.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– Vila Sabrina é só uma linha de ônibus,
ô tigueis. Da Vila Maria até a Vila Galvão, em Guarulhos, depois da Infernão
Dias, a imprensa chama tudo de Jardim Brasil.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 37.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">– Uma pinóia. Que é que tu chama de
imprensa? Esse jornal fuleiro que só vêm vender aqui quando tem assassinatos?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoBodyTextIndent">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> – Pelo menos o JB sai nele. E vai sair cada vez
mais, vai ver.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoBodyTextIndent">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> – Também, só tem bandido lá...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoBodyTextIndent">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> – Aí falou uma verdade. Agora, esse Edu Chaves, que
porra é essa, com umas casas metidas a besta, mas cheio de cortiços escondidos
lá para o fundão? Uma biboca de bocada só. Quando chove, esses sobrados metidos
ficam com água até o teto do primeiro andar. É outro bairro que só existe
porque tem uma linha de ônibus com esse nome, que demora uma vida para passar e
sai lotado, com gente caindo pelo ladrão, já do ponto final. A Sabrina só vai
existir quando sair na imprensa. Acho que nem no mapa a prefeitura põe. É isso
aí. Da Vila Maria até Guarulhos, só existe JB.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoBodyTextIndent">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> – Uma pinóia.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoBodyTextIndent">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Fiquei até meio simpático com o portuga depois desse
dia e até deixei de barato a regulagem dele em relação às fantas.<o:p></o:p></span></div>
<div align="center" class="MsoBodyTextIndent" style="text-align: center; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">* * *<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoBodyTextIndent">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> – Olha, quer saber? O Cara de Girafa pode ser o
maior sangue ruim e é mesmo. Acho até que tem mais é que morrer. Mas, numa
coisa estou com ele...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoBodyTextIndent">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> – Qual?</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoBodyTextIndent">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> – Tudo isso aqui, senhor Victor, tem a mesma cara! É
tudo JB!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoBodyTextIndent">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> – Uma pinóia.</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><o:p></o:p></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<br />
<div class="MsoBodyTextIndent">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> – Mixou o papo, que seu corte tá pronto. Dá uma
olhadinha no espelho, me passa o dindim e dá espaço na moita pra outro, senão
você vai aproveitar para levar um monte de tesouradas na fuça, que cortar
cabelo de pivete rende conversinha, mas lucro que é bom, ai-ai, só se for
depois do ano 2000. Mas aí eu já vou ser rainha velha.</span><o:p></o:p></div>
</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/08337348869621152552noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-2986241826164358045.post-72990116350917952172013-10-15T15:02:00.000-03:002013-10-17T10:39:00.089-03:00Geraldo Alckimin na mira do PCC: Será?<!--[if gte mso 9]><xml>
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<o:AllowPNG/>
</o:OfficeDocumentSettings>
</xml><![endif]--><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: red;">Autor da série <i>Era uma vez no meu bairro</i> fala à ombudswoman da periferia sobre a entrada triunfal do PCC em cena, fazendo dueto com o governador do estado.</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/EjQu-ouQZOc?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br />
RENATA VILA SABRINA (RVS): As recentes notícias sobre os planos do PCC colocaram
a cidade de São Paulo em uma situação tensa. Acha que têm algum fundo de
verdade as ameaças que deixaram vazar à imprensa por meio de escutas
telefônicas?</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
JeosaFÁ: Tenho certeza.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
RVS: De onde vem tanta certeza?</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
JeosaFÁ: Há alguns anos, o governador Alckimin decretou
por meio da imprensa que o <a href="http://noticias.uol.com.br/cotidiano/listas/10-fatos-indicam-que-pcc-permanece-ativo.jhtm">PCC
estava liquidado</a>. Acreditou quem quis votar nele. Como, para escrever meus
romances sobre a cidade de São Paulo, pesquiso uma grande quantidade de
material, acabo sempre visitando páginas da internet, jornais impressos,
bibliografia e estudos sobre a violência e a criminalidade. Ora, não é novidade
para ninguém que, com frequência, o <a href="http://mudarsaopaulo.blogspot.com.br/2013/06/ao-vencedor-o-povo-o-largo-da-batata.html">governador
perde o controle da corporação</a> - e as manifestações de junho deste ano não são caso
isolado. Aliás, <a href="http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2013/10/15/tenente-da-pm-e-preso-por-suspeita-de-envolvimento-com-o-pcc.htm" target="_blank">envolvimento de policiais com o crime</a>, infelizmente, é moeda corrente em São Paulo.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
RVS: Mas, agora, até ele é apresentado como alvo do
PCC.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
JeosaFÁ: Ele age como os republicanos nos EUA: sempre
que estão em situação difícil, arranjam um terrorista para pôr em foco, e se
apresentam como xerifes em condições de destruí-lo. Alckmin é candidato a
governador no ano que vem, porém seu partido está destroçado pela disputa entre
o ex-governador de São Paulo e o ex-governador de Minas. Seu vice, o abandonou e
foi para a base do governo Dilma, seu principal aliado, o DEM, minguou e a
parte maior foi parar no PSD, cujo chefe é seu desafeto sacramentado e está na
base de Dilma. Outro seu aliado, o PSB, agora lança candidato a presidente e, em
aliança com a natimorta Rede, quer lançar concorrente a governador contra ele mesmo. Isso sem falar no escândalo da <a href="http://eraumaveznomeubairro.blogspot.com.br/2012/04/fraude-na-linha-lilas-do-metro-nao-e.html" target="_blank">corrupção nas obras do Metrô</a>, de que tratei em no romance Zona Sul, publicano ano passado, cujas denúncias são feita não por nenhum petista ou comunista rancoroso, mas pelas próprias <a href="http://www.msrecord.com.br/noticia/ver/102926/siemens-brasil-esta-disposta-a-ressarcir-cofres-publicos-diz-presidente" target="_blank">empresas licitadas fraudulentamente</a>.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/Ofq7JHb1gSg?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: center;">
</div>
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
RVS: Está bem informado sobre política, não...?</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
JeosaFÁ: Só três tipos de escritores escrevem suas
histórias sem o concurso da política...</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
RVS: Que são...</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
JeosaFÁ: Os ignorantes, os cafajestes e os gênios.
Como receio não pertencer a nenhuma das três categorias, prefiro estar bem informado.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
RVS: E o que ganha com isso?</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
JeosaFÁ: Não me sinto idiota.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
RVS: Então acredita em uma armação para favorecer o
atual governador?</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
JeosaFÁ: Sim, embora acredite que essa armação envolve
efetivamente a ameaça real de um poder criminoso que cresceu não às sombras,
mas escancaradamente durante os vinte anos de governos tucanos em São Paulo.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
RVS: Não pode ser coincidência a baixa de prestígio do
PSDB em São Paulo e o fortalecimento do PCC?</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
JeosaFÁ: Uma amigo historiador diz: pode ser que haja
coincidências na natureza, mas na política... só sendo muito ingênuo para crer
nisso.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
RVS: Então concorda com ele, digo, seu amigo
historiador.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
JeosaFÁ: Concordo. No caso de São Paulo, há uma
relação direta entre caos na segurança pública, crescimento do crime organizado e
gestões tucanas, que agonizam e arrastam o estado em sua agonia. Não vê quem
não quer, nem precisa ser historiador.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
RVS: Já no primeiro romance da série, Zona Norte, a
questão da violência policial e do crime comparecem fortemente. Sendo assim, a situação já
era calamitosa na década de 1970, em que se situa o enredo. Então, não acha que é
forçar a barra jogar toda a culpa nas costas do atual governador?</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
JeosaFÁ: Na verdade, embora situe o enredo nessa
década, empreguei para montagem das cenas artigos de jornais, livros especializados e pesquisas
sobre a violência <b>desta década</b>. Embora a beirada da Fernão Dias e o trecho
entre ela e a via Dutra sejam áreas cronicamente violentas há décadas, usando
de<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>um expediente corriqueiro na
literatura (o anacronismo), montei os crimes antigos a partir da montanha de
crimes atuais.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
RVS: Então dá pra dizer que você lê um pelo outro.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
JeosaFÁ: Sim, como uma espécie de palimpsesto, mas
invertido: na superfície está o antigo texto, logo abaixo, o novo. Mesmo a cena
da enchente, a antiga enchente é montada com dados das atuais, cada vez piores.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
RVS: Então, não leva a sério essas gravações que estão
vazando na imprensa por estes dias...</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
JeosaFÁ: Ao contrário, levo a sério e as pessoas devem
levá-las também. Quando um grupo como o PCC deixa vazar que se infiltra em
manifestações de rua, na política, no legislativo e no próprio
judiciário, não está fazendo fanfarronice, não - e o <a href="http://www.rodrigovianna.com.br/outras-palavras/maierovitch-alckmin-perde-para-o-pcc.html">ano
de 2006</a> é um exemplo do que são capazes. E quando o governador decide se
apresentar à imprensa como xerife, também não se deve ignorar quais são seus
objetivos.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
RVS: A presença desse tipo de assunto em sua série de
romances é deliberada ou...</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
JeosaFÁ: Quando decidi escrever<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>a série Era uma vez no meu bairro, sobre a
cidade de São Paulo, o fiz não exatamente por uma deliberação intelectual, mas
por um impulso que vinha desde quando a escrita me atropelou. Acontece que é absolutamente
impossível escrever sobre essa cidade sem encarar a verdadeira situação de
guerra em que vivemos: guerra no trânsito (verdadeiro holocausto urbano em que
as principais vítimas são crianças, jovens e idosos), guerra na expansão do
crime organizado (cuja lógica é cruel e radicalmente capitalista), guerra na ação truculenta da
polícia (que se ufana de espalhar morte e terror entre a população pobre).</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
RVS: Então, para você, vivemos uma situação de
calamidade...</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
JeosaFÁ: Sim, crônica, que infelizmente nem comove
mais a maioria. Atropela-se uma pessoa, vem o IML, recolhe o corpo destroçado,
o trânsito é liberado. A a família e os amigos da vítima, que se virem com sua
tristeza e sua dor. Mata-se um jovem para roubar qualquer coisa, a imprensa
explora as imagens até ver os pontos do ibope subirem, e depois passa para o
próximo assassinato... E por aí vai. Isso é uma calamidade. E a cereja em cima
desse bolo é o nosso belo Judiciário.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
RVS: Que tem o Judiciário?</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
JeosaFÁ: Ora, é talvez o poder mais corrupto hoje da
nação. Os executivos e os legislativos em seus diversos níveis vivem sob as
câmeras da imprensa. Porém o Judiciário... É um escárnio.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
RVS: Pode ser mais claro.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
JeosaFÁ: Nem precisa. Quem não conhece um criminoso
favorecido pelos tribunais em todas as instâncias, seja o criminoso civil, de colarinho branco ou fardado?
Costumo até intensificar um pouco a figura de linguagem para conseguir produzir uma
dimensão ao menos aproximada do quanto nosso Judiciário colabora com a manutenção de
estruturas corruptas: as revoluções na história foram feitas contra
governantes: reis, presidentes etc., noutra palavras, o executivo. Uma revolução que pretenda realmente
democratizar o Brasil terá de ser feita contra o Judiciário.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
RVS: Realmente, nunca tinha ouvido falar de uma
revolução para derrubada do Judiciário.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
JeosaFÁ: Vou contar uma história, e esta não é
inventada. Quem quiser consulte livros sobre a história da França. Quando os
trabalhadores conquistaram o poder na Comuna de Paris, os reacionários recuaram
para Versalhes, onde recompuseram suas forças e de onde partiram para o
massacre contra os revolucionários.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
RVS: Onde entra nessa história no nosso “belo Judiciário”, para usar
sua expressão.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
JeosaFá: Pois bem, o nosso “belo Judiciário” é a
Versalhes da nossa elite reacionária.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
RVS: É uma metáfora bem contundente, tenho de
reconhecer. Mas e como ficam as mídias, que também têm sido alvo de suas ironias
e sarcasmos.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
JeosaFÁ: Sobre esse particular, costumo dizer: o
problema não é a mídia comprada latir, mas o Judiciário comprometido até à
medula com o poder econômico morder.</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/08337348869621152552noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2986241826164358045.post-17727934743894283652013-09-17T14:32:00.002-03:002017-07-20T22:40:42.692-03:00História, história e histórias: acredita quem quiser<!--[if gte mso 9]><xml>
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<br />
<div class="MsoNormal">
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<div class="MsoNormal">
<span style="color: red;"><i><br /></i></span></div>
<div class="MsoNormal">
RENATA VILA SABRINA: Você já falou que parte da história para escrever
seus romance, explica melhor esse conceito.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
JeosaFÁ: Na verdade, não parto da história, mas das
“histórias”.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
RENTA VS: Fiquei na mesma.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
JeosaFÁ: Entre “história” e “histórias” há sutis diferenças,
ainda mais quando a primeira vem com H maiúsculo.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
RENATA VS: Pode ser mais claro, por gentileza.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
JeosaFÁ: Posso, se parar de me interromper...</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
RENATA VS: Foi mal...</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
JeosaFÁ: No geral, a história se ocupa dos grande eventos,
das grandes transformações sociais ao longo do tempo. Eu me preocupo mais com
as pequenas histórias pelas quais ninguém dá um vintém furado: o cara que puxa
uma carroça entulhada de sucata num dia de sol insuportável e, por isso, trava
o trânsito da cidade inteira; o pai que perdeu o filho em um acidente idiota; a
flor que nasceu no quintal no exato instante em que uma mulher deu a luz...
essas coisas.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiHBgZ3pwpqajG3_oIhCoCx2S3xos-U0ecMBIydR6b5AxczkJ2HPNeGaeUv4S9Gi-bqD262Jt4h1jlTu3IYuYXS_CNVLV9Gc3X6QtW8Qag-fzAc5Nr9IpEz1V0KbrPhkr1sp_cVHX4r4t4/s1600/001.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="258" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiHBgZ3pwpqajG3_oIhCoCx2S3xos-U0ecMBIydR6b5AxczkJ2HPNeGaeUv4S9Gi-bqD262Jt4h1jlTu3IYuYXS_CNVLV9Gc3X6QtW8Qag-fzAc5Nr9IpEz1V0KbrPhkr1sp_cVHX4r4t4/s320/001.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
RENATA VS: Você acha que alguém se interessa por essas
histórias miúdas?</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
JeosaFÁ: Acho. Não tem um que não lê certos capítulos de Era
uma vez no meu bairro e não chore. Choram não porque eu seja lá essas coisas
como autor, mas porque arranquei, sempre com o máximo de delicadeza possível, a
casca dura e infeccionada que amortecia sua sensibilidade.</div>
<div class="MsoNormal">
RENATA VS: Quanta “delicadeza”... , no entanto, muitos
leitores choram.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
JeosaFÁ: Choram porque, mesmo com delicadeza, certos eventos
doem... às vezes muito... para sempre... A culpa não é minha: é desses eventos
dolorosos – e que, no entanto, são apenas “pequenas” histórias.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
RENATA VS: Dá para citar um exemplo.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
JeosaFÁ: Cito apenas um, mas na série, que chega em novembro
no quarto e penúltimo romance, Zona Oeste, há vários. No romance ZONA SUL, o
capítulo 28 chama-se “Quando é <span style="background: white;">chegada a hora de
se falar sobre Letícia, que em vida e em sonho perseverou em sua vocação de
enigma”.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white;">RENATA VS: Título longo.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white;">JeosaFÁ: É, nesse romance
empreguei a tradição medieval de dar títulos imensos às histórias. Letícia foi
dada pelo pai a um convento no início da adolescência, por ser rebelde. O
convento era um claustro, de maneira que ela ficou por mais de 50 anos privada
do convívio com a família, que seguiu seu destino. Diagnosticada com câncer
agressivo, é autorizada pela direção do claustro a visitar a família. Ela terá
um certo trabalho, pois sua mãe e seu pai já estão mortos e suas irmãs se
espalharam pelo mundo.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white;"></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj0NyiHEvuo_rkXICKBvdEhKB2_7fuoFLQ1NWJFFvwaTZlvn0g-A8SiSG9dPSH9UFtTXvtT4xC6duUwGZgzbes3b6LNE0Sj308XJAbFcZMhALwNBujp-0fNgoVG6RJ411AqiruwK4LGKk0/s1600/Gon%C3%A7alves+11.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj0NyiHEvuo_rkXICKBvdEhKB2_7fuoFLQ1NWJFFvwaTZlvn0g-A8SiSG9dPSH9UFtTXvtT4xC6duUwGZgzbes3b6LNE0Sj308XJAbFcZMhALwNBujp-0fNgoVG6RJ411AqiruwK4LGKk0/s400/Gon%C3%A7alves+11.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<i><span style="background: white;"> <span style="color: red;"><b>Madre Letícia</b> (à direita), com sua irmã, <b>Maria </b>(Década de 1970).</span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="background: white;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white;"><span style="background: white;">RENATA VS: Espera aí, mas
isso já é o romance ou...</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white;"><span style="background: white;"> </span> </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white;">JeosaFÁ: Não, infelizmente
isso é ainda a história real, da qual parti para escrever esse e outros
capítulos.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
RENATA VS: Então, Letícia houve realmente.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
JeosaFÁ: Houve. É essa que está na foto.<span class="null">Não
troquei nem o nome da freira, e a história é, em linhas gerais, a mesma. Penso
que as histórias mais importantes de serem contadas são, em ordem de
importância: as que aconteceram, as que deveriam ter acontecido e as que não
deveriam ter acontecido jamais. Apenas acentuei as eras, porque trato da
imigração espanhola para o Brasil e, por respeito à História (agora com H
maiúsculo), precisei ser fiel à cronologia.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="null">RENATA VS: Pode oferecer um trecho desse
capítulo para o leitor ter uma ideia dessa conversão de história real para
romance:</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="null">JeosaFÁ: Posso. Segue o início desse
capítulo 28:</span></div>
<h3 class="MsoNormal">
<a href="http://www.blogger.com/null" name="_Toc318204555"><span class="null"><span style="color: red; line-height: 115%;">CAPÍTULO 28: Quando é <span style="background-attachment: scroll;"><span style="background: none repeat scroll 0% 0% white;">chegada a hora de se falar sobre Letícia,
que em vida e em sonho perseverou em sua vocação de enigma.</span></span></span></span></a></h3>
<h3>
<span style="color: red;"><span class="null">
</span></span></h3>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: large;"><span style="color: red;"><span class="null">
</span></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="null"></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #660000;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="background: white;"><span style="color: #660000;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjyJ23wJUkwm4BuSPeEfTi4qBC48OEMMxo0uV7F75nk_33jqFz_fEJIsw4pbAZGddoPhmvdmk_uQ7kFMVrW2REhACoJ4cK_u3kZZAL1GeDO8RnGzwFUWoEsvmJTFHAGuPojn0xJ-X-Y83Y/s1600/Gon%C3%A7alves+10.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjyJ23wJUkwm4BuSPeEfTi4qBC48OEMMxo0uV7F75nk_33jqFz_fEJIsw4pbAZGddoPhmvdmk_uQ7kFMVrW2REhACoJ4cK_u3kZZAL1GeDO8RnGzwFUWoEsvmJTFHAGuPojn0xJ-X-Y83Y/s400/Gon%C3%A7alves+10.jpg" width="400" /></a></span> </span></i></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #660000;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="background: white;"> </span></i></span><span style="color: red;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="background: white;"><b>Madre Letícia</b></span></i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: red;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="background: white;">À
esquerda, sua irmã Emília e esposo, Francisco (com dedo nos lábios). Ao
fundo, de bigode, seu irmão Cíbio Bote e sua outra irmã, Maria, com
filha caçula no colo. À frente, outros quatro filhos de Maria e o
primogênito de Emília (com dedo indicador, na boca, como o pai, logo
atrás). Década de 1970.</span></i></span></div>
<br />
<span style="color: #660000;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="background: white;">A história de sua tia Letícia ficou sendo para nós um
mistério prolongado e doloroso. Depois que nosso pai levou-a pela mão quando ia
em sua jornada às barrancas do rio Paraná, nunca mais a vimos, até que...</span></i></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #660000;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #660000;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="background: white;">– Até que... dona Pilar?</span></i></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #660000;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #660000;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="background: white;">Até que um dia parou aqui em frente de casa uma perua
de um convento de clausura do interior de São Paulo. Eu já era esta velha que
está vendo, apenas trinta anos mais nova. Fui atender crente de que se tratava
de um belo engano. Afinal, não sou religiosa, nem seu tio Euclides tampouco.</span></i></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #660000;"></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="color: #660000;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjyJ23wJUkwm4BuSPeEfTi4qBC48OEMMxo0uV7F75nk_33jqFz_fEJIsw4pbAZGddoPhmvdmk_uQ7kFMVrW2REhACoJ4cK_u3kZZAL1GeDO8RnGzwFUWoEsvmJTFHAGuPojn0xJ-X-Y83Y/s1600/Gon%C3%A7alves+10.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"></a></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="color: #660000;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="background: white;"><br /></span></i></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #660000;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="background: white;">Dessa viatura branca, uma bela senhora, idosa, mas bem
conservada, magra alta, de olhos escuros como o passado, em trajes brancos de
freira, com um largo chapéu característico, desceu, ajudada por uma motorista,
também freira, porém jovem. Pensei imediatamente: “Que será que a madre
superiora vai nos pedir para seu orfanato?”.</span></i></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #660000;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #660000;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="background: white;">Mas a sacerdotisa de riso claro e voz sumida, ao
ver-me ao portão, ofereceu-me a mão com doçura e disse, voltando-se para a
motorista (dessas palavras não me esqueço, tampouco da candura do gesto em
oposição à minha impaciência para com mendicantes de portão): “Essa é minha
irmã”.</span></i></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #660000;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #660000;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="background: white;">Como minha irritação ainda não me abandonara, cheguei
a ruminar: “Ora, para vocês, todas são irmãs e irmãos”.</span></i></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #660000;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #660000;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="background: white;">– Era a tia Letícia!</span></i></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #660000;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: #660000;"><span style="background: white;">Era, minha querida Acácia renascida. Era minha irmã
Letícia, cuja face doce, ainda menina, vira pela última vez pouco antes de
fugirmos de nosso pai. Minha mãe e seu tio Ocíbio morreram sem vê-la novamente.</span></span></i></div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/08337348869621152552noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2986241826164358045.post-20431411533584316432013-08-14T12:14:00.000-03:002015-08-28T11:26:14.658-03:00Mozart das lavadeiras<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiIshzgLrFXwneXmNFrhdKw4jINFsrR90CI5zMn_jy1neS39G3_8SrrSewaergNZVjm-eUhBj7uPYg0At1q2d57UjYFOYtqmn2gHksreLIdGs2FWVvMK04QGHj1sMwjjBSd-CPueofQhrk/s1600/Mozart+das+lavadeiras.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="120" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiIshzgLrFXwneXmNFrhdKw4jINFsrR90CI5zMn_jy1neS39G3_8SrrSewaergNZVjm-eUhBj7uPYg0At1q2d57UjYFOYtqmn2gHksreLIdGs2FWVvMK04QGHj1sMwjjBSd-CPueofQhrk/s400/Mozart+das+lavadeiras.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: red;">Ilustrações de João Pinheiro</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: red;"><br /></span></div>
<i><span style="color: red;">Enquanto aguarda o lançamento, em novembro, de ZONA OESTE, da série Era uma vez no meu bairro, não custa nada ao leitor dar um visu no capítulo Mozart das lavadeiras, do ZONA LESTE.</span></i><br />
<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
JB foi despertado do flash back de entrevero socialista pela
música profundamente linda e profundamente melancólica que, através da
parede, chegava abafada a seus ouvidos, vinda do apartamento ao lado.<br />
<br />
Embalou-se por alguns segundos na névoa de notas melodiosas, plásticas e
entorpecedoras, levantou-se da banqueta, deu chauzinho para as
fotografias do espelho e foi à campainha da vizinha, importuná-la
talvez.<br />
<br />
- É você, Jão.<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /><iframe width="320" height="266" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/_KpIiI-bmp8/0.jpg" src="https://www.youtube.com/embed/_KpIiI-bmp8?feature=player_embedded" frameborder="0" allowfullscreen></iframe></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<br />
- Quem podia ser?<br />
<br />
̶- Fala<br />
<br />
- É essa música. Lembra de quando eu era pequeno e ficava vendo minha mãe lavar roupas no tanque.<br />
<br />
- Mozart lembra sua mãe lavadeira?<br />
<br />
- É. Ela punha LPs de música clássica numa vitrola portátil para ouvir
enquanto lavava roupas. Desde essa época, Mozart para mim combina com
sabão em pó e alvejante. Até hoje, quando ponho a roupa na máquina de
lavar, ligo o rádio em estação de música clássica para abafar o som da
trepidação dela.<br />
<br />
- Mas não estou lavando roupa, estou passando. Pega café na garrafa
térmica, senta em algum lugar e fica quieto, que gosto de passar roupa
ouvindo Mozart.<br />
<br />
- Tá.<br />
<br />
JB fez o que Nenê mandou. A mãe no tanque e a namorada na mesa de passar
roupas se sobrepunham, condensadas pela música diluente de Mozart.
Fosse qual fosse o dia da semana, aquele momento era um domingo à noite,
desmaiado, perdido no tempo, ou melhor, solto num lapso atemporal.<br />
<br />
Nenê, ali, concentrada nas volutas barrocas da sinfonia, a alisar a
roupa amorosamente era todas as mulheres de Itaquera, todas as mulheres
pobres do mundo, todas as mulheres trabalhadoras havidas e por haver, na
lida de tornar a roupa mais macia para se vestir e a vida mais digna
para se viver.<br />
<br />
Deu um nó na garganta do cineasta, que observava a companheira como se
ela fizesse parte da orquestra em transe na execução dos movimentos
sinfônicos.<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjmhWgBHRvWqnocMUNjncGs2fNlyzs8pjh9Nw6np_2Yne7K-HcjFMS0JYzeQwWpvGkhQZ0VZ5ndNHo9aqbXfnKCx8dCqCUxtGV4ulkKEl8Tynfrn8oVCFJOwiC_7t2n78pXpHj7KqRFXUk/s1600/Jo%25C3%25A3o.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="242" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjmhWgBHRvWqnocMUNjncGs2fNlyzs8pjh9Nw6np_2Yne7K-HcjFMS0JYzeQwWpvGkhQZ0VZ5ndNHo9aqbXfnKCx8dCqCUxtGV4ulkKEl8Tynfrn8oVCFJOwiC_7t2n78pXpHj7KqRFXUk/s320/Jo%25C3%25A3o.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
<br />
O primeiro andamento muito alegre da sinfonia número quarenta avançava
célere, com Nenê exibindo virtuosos solos de ferro quente sobre
camisetas de malha e calças de algodão. Jeans, regatas, camisas de todas
as cores, fronhas ganhavam aparência de novas. Que dignas, que macias,
que mozarteanas, que... humanas.<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<br />
Um toque do dedo indicador de Nenê fez a música saltar. Agora era a Pequena Serenata Noturna.<br />
<br />
As pilhas de roupas amassadas iam se reduzindo, enquanto as pilhas de
roupas alisadas iam crescendo. Peças mais delicadas iam direto para
cabides pendurados no varal provisório que cruzava a sala. Peças de
gaveta, iam sendo dobradas com mãos de violinista.<br />
<br />
Agora, a parte mais difícil, a que a mãe moça de João mais ouvia, ela
que chorava sobre a água do tanque nesse momento tão lindo e triste: o
do Andante do Concerto 21 para piano.<br />
Nenê, firme na lida do ferro quente, tornou-se vaga, distante,
nostálgica. Ou João estava efetivamente apaixonado, ou Nenê era a mulher
mais linda mundo, ou Mozart revelava a beleza escondida sob o pano
turvo da realidade, ou era tudo isso junto ao mesmo tempo.<br />
<br />
A namorada alisava o pano, erguia a face, olhava através da janela do
apartamento, cujo vidro aparava o chuvisco, e baixava novamente os olhos
para a tábua de passar roupas. Faltava pouco, mas a expressão de
cansaço somada à pungência do Andante tornavam o final de domingo uma
peça interminável de beleza, angústia e atemporalidade.<br />
<br />
As gotículas a cintilar no vidro da janela à luz de neon da rua
lembravam o braço da vitrola a deslizar nas faixas lustrosas do LP de
vinil, no qual um pouco de água da torneira sempre respingava.<br />
<br />
̶- Sabe por que ouço Mozart quando passo roupa, Jão?<br />
<br />
- Não dá pra saber o que uma mulher pensa, nunca.<br />
<br />
- Odeio passar roupa, mas Mozart torna tudo leve, tudo digno, tudo
suave. Quando desperto do transe, passei todas as pilhas. Com certeza,
Mozart amava as lavadeiras.<br />
João pensou que sua mãe também talvez odiasse lavar e passar roupa. Quem
garante que o que a fazia derramar lágrimas na água do tanque não fosse
a música do gênio barroco, mas o ódio da vida idiota em comparação com a
música celestial?<br />
<br />
- Vem cá.<br />
<br />
Nenê levou o namorado pela mão à janela, abriu o vidro para o reflexo
interno não atrapalhar a visão e apontou com o dedo indicador da mão
direita a noite de chuvisco.<br />
<br />
- Olha para todas aquelas janelas.<br />
<br />
Em cada uma, num conjunto habitacional apinhado de prédios, uma mulher
esfalfada, com pilhas maiúsculas de roupas para passar, encerrava o
domingo melancólico.<br />
<br />
- Elas não conhecem Mozart, Jão.<br />
<br />
João baixou os olhos, certo de que a vida sem arte verdadeira não tem a menor chance de ser digna:<br />
<br />
̶-Mas tem uma beleza de cinema nisso que elas estão fazendo, que você está fazendo...<br />
<br />
- Você só consegue pensar em termos de imagem, de cinema?<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgb9J7lltplW6JvWoZApNeWm0GxQmIlzIiNh1p4kt6H3nih7h2unaR45pHsU4gVsHZuXNX-vyXnpHfKAwKJBpVzV-5xQhbkect5LXfUIvNQBgbq7L7zu6ERf5JUrqTcN3x1SNzOHk9DGt0/s1600/Jeosa.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgb9J7lltplW6JvWoZApNeWm0GxQmIlzIiNh1p4kt6H3nih7h2unaR45pHsU4gVsHZuXNX-vyXnpHfKAwKJBpVzV-5xQhbkect5LXfUIvNQBgbq7L7zu6ERf5JUrqTcN3x1SNzOHk9DGt0/s1600/Jeosa.jpg" /></a></div>
<br />
<br />
- Acho que sim. Desde criança, quando o sol era para mim uma borra de
luz amarela, alaranjada, depois avermelhada, afundando entre os morros
do algodoal.<br />
<br />
No CDPlayer, o Segundo Movimento do Concerto para Clarinete estendia um
Mozart humano, morno, suave e tristonho. Tangidas pelo vento, gotículas
de chuvisco iluminavam-se próximo às luminárias de neônio, depois,
sumiam-se na sombra.<br />
<br />
<br />
Findo o Concerto para Clarinete, silêncio de prelúdio, quando a máquina
busca o início da próxima trilha. Pronto, o leitor digital encontrou o
que procurava, e um doce, gotejado, pungente som invadiu a atmosfera do
pequeno apartamento como um vapor de água subido de ferro quente.<br />
<br />
JB moveu-se lento no espaço exíguo e apanhou o estojo do disco. Parou os
olhos na trilha do Concerto para Piano em Dó Maior, KV 427, número 21,
Andante.<br />
<br />
Confirmada a dúvida que espiralara ao compasso da harmonia impregnante,
retornou a seu lugar, ao lado de uma Nenê cismada com as silhuetas
escuras e ágeis nas janelas semiluminadas.<br />
<br />
- Isso é cinema ou não é?<br />
<br />
- Não, não é não, Jão. Olha direito.<br />
<br />
Nas janelas dos prédios envoltos na noite, silhuetas dançantes entre
pilhas de roupas formavam um teatro mágico de sombras ao final de um
domingo chuvisquento, melancólico mas não perdido em vãs divagações.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/08337348869621152552noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-2986241826164358045.post-45005733915887529692013-04-11T17:44:00.000-03:002013-04-12T17:41:43.987-03:00Cemitério São Paulo recebe os pobres<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh04bx5d9JQ-Q4xJreE4QH3VmlPg9OZqSoikTCJTacDdESG-Tc8Vc3A32MkynsirkCgak8L9GGBX0PnHDCI_ZwMKDXkKy6ckHa78_tMqh61tNjGyTuccj3pxQQGLYvwaAOoU-Gv0PjF1Wo/s1600/ZZZZ.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh04bx5d9JQ-Q4xJreE4QH3VmlPg9OZqSoikTCJTacDdESG-Tc8Vc3A32MkynsirkCgak8L9GGBX0PnHDCI_ZwMKDXkKy6ckHa78_tMqh61tNjGyTuccj3pxQQGLYvwaAOoU-Gv0PjF1Wo/s320/ZZZZ.jpg" width="239" /></a></div>
Andar por São Paulo a caça de uma mísera entrevista não é fácil, mas, enfim, quem escolheu ou foi dar na profissão em que me meti, não costuma buscar os meios mais fáceis de ganhar dinheiro. Ao final do ano passado tive de entrevistar o autor de do ciclo de romances <b>Era uma vez no meu bairro</b> num cemitério. Enquanto colhia umas míseras palavras sobre o romance ZONA OESTE, que deve sair em outubro deste ano no Nossenhor de 2013, segundo o mesmo entrevistado, observava uma senhora a despir-se para se higienizar com um pano limpo, porém de pratos, com o qual ela havia enxugado uns objetos de cozinha mergulhados em uma bacia de lavar louças.<br />
<br />
Aliás, essa senhora, cujo nome omito, pois ela disse ter medo de ser expulsa do cemitério, no caso o São Paulo, entre as ruas Luís Murat e Cardeal Arcoverde, com muro para a avenida Henrique Schaumann, morava sob a lápide de um túmulo, segundo ela, havia dois anos - antes, fora expulsa do cemitério da Consolação por um egresso do sistema penitenciário, que ocupou seu lugar no jazigo, não sem antes partir um de seus pulsos.<br />
<br />
Enquanto o JeosaFÁ realizava sua reportagem fotográfica para fins de arremate da composição do cenário do dito ZONA OESTE, colhi migalhas de respostas dele e filões de respostas dela. Enfim, ele acabou "admentindo" - palavra que ele criou para responder a meus questionamentos - que também a moradora viva da cidade de mortos seria objeto de apreciação de suas viagens por mundos inventados da literatura, mas eclodidos a partir de entrevistas como aquela que, entre uma foto e outra, ele vinha fazendo com Cleonice Maria da Silva, moradora do jazigo, pronto, deixei escapar o nome da mulher.<br />
<br />
Bem eu tinha que por isso para fora. Está dito, ZONA OESTE gira em torno e dentro dessa Necrópole São Paulo, em que mais descansam os vivos sem ter onde morar do que os mortos para ela transladados para o descanso eterno.<br />
<br />
Pergunta, façam, que eu respondo, peço ao autor para responder, ou faço de conta que não foi conosco.<br />
<br />
Atenciosamente,<br />
Renata Vila Sabrina<br />
Ombudswoman da Periferia.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/08337348869621152552noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2986241826164358045.post-767050379083550792013-03-21T10:26:00.003-03:002013-03-21T10:33:55.621-03:00Vênus de barro: Tragédias que se repetem<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhO_i0QFdgi8RX5mmGugW6amzx9NJ_gxlXiH6GOx0tP8JFxxh2A_O5bclmAXW8BnJ5hjisvPtpB8D6iucb2uqtK_LbT2DfPjQPY2XwHAW3pXCshlDWSjLQei4VryiC2VH1fMC_YTo8iJ70/s1600/zz1981.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="245" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhO_i0QFdgi8RX5mmGugW6amzx9NJ_gxlXiH6GOx0tP8JFxxh2A_O5bclmAXW8BnJ5hjisvPtpB8D6iucb2uqtK_LbT2DfPjQPY2XwHAW3pXCshlDWSjLQei4VryiC2VH1fMC_YTo8iJ70/s400/zz1981.jpeg" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><span style="color: red;"><span style="line-height: 18px;"><span style="font-family: inherit;">Em 1981, quando deslizamentos mataram dezenas de pessoas em Petrópolis (RJ), </span></span><span style="line-height: 18px;"><span style="font-family: inherit;">Ja</span></span><span style="line-height: 18px;"><span style="font-family: inherit;">mil Luminato, então com 21 anos,</span></span><span style="font-family: inherit; line-height: 18px;"> transformou-se em símbolo da catástrofe e herói ao ajudar a salvar vítimas dos soterramentos. Na foto de Carlos Mesquita,recolhe o corpo sem vida de um bebê.</span></span></i></div>
<i><br /></i>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbmoSnRrlTf7QofmnYvqpEdH0L7cpvghssH1v7L0rNCe-ZAwzSkti4B6HTYTOC4Yne6YWBVG0whvJEdCcugwSgS-_XDD6d0YFa55lperx5ZRqKmvTeOR1GB0ZVy9hxgQMoIEoKymkVfcw/s1600/zz1981-2.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="246" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbmoSnRrlTf7QofmnYvqpEdH0L7cpvghssH1v7L0rNCe-ZAwzSkti4B6HTYTOC4Yne6YWBVG0whvJEdCcugwSgS-_XDD6d0YFa55lperx5ZRqKmvTeOR1GB0ZVy9hxgQMoIEoKymkVfcw/s400/zz1981-2.jpeg" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><span style="color: red;">Nos deslizamentos desta semana em Petrópolis, o mesmo Jamil, agora pedreiro, com 53 anos de idade, perdeu a filha e dois netos. O genro está internado em estado grave.</span></i></div>
<div style="text-align: left;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><span style="font-size: large;">O texto a seguir</span> é a parte final do capítulo 25 do romance ZONA LESTE, do ciclo Era uma vez no meu bairro.Quando estava finalizando esse livro ocorreu a tragédia dos deslizamentos e desmoronamentos nas serras fluminenses. No romance, a personagem Nenê é assistente social e atende as populações carentes. Porém essa personagem é fruto de entrevistas que realizei com a assistente social Ana de Alexandria, agora aposentada, da Prefeitura de São Paulo. Nas entrevistas, ela havia me relatado episódios realmente dramáticos da população na Zona Leste de São Paulo. As tragédias em Petrópolis ocorreram quando estava com minha família em visita a meus irmãos no Rio de Janeiro. Então, acompanhei de perto e com tristeza as notícias que dominavam o noticiário o dia todo. A cena da Vênus de barro, assim, decorre de realidades que me chegaram a partir de duas fontes: uma, os depoimentos de Ana de Alexandria sobre desmoronamentos e enchentes na Zona Leste de São Paulo, outra, acena real que assisti pela tevê, quando ainda no Rio de Janeiro,em 2011, do resgate do corpo sem vida de uma criança em meio à lama dos deslizamentos de Petrópolis. Infelizmente, neste ano de 2013, a cena se repete:</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEikg0YXTfxUbbyExlknas2e5ilSuW0MGf7irDf7DLeMN2qls8_Vkm2Hf2MPYXcKacIKEI7-Zvy8Thu3wBLsOsSm36peGmmU5oG2Om1kOYENuq_re27zMdmBr5C_ZFAa8TbFOAPjOR9HXxM/s1600/Z+-18mar2013.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEikg0YXTfxUbbyExlknas2e5ilSuW0MGf7irDf7DLeMN2qls8_Vkm2Hf2MPYXcKacIKEI7-Zvy8Thu3wBLsOsSm36peGmmU5oG2Om1kOYENuq_re27zMdmBr5C_ZFAa8TbFOAPjOR9HXxM/s400/Z+-18mar2013.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: red;">Moradores do bairro Independência em Petrópolis (RJ) procuram sobreviventes do deslizamento que soterrou uma família (18/03/2013)</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<span style="font-size: large;">Quando Nenê chegou ao local</span>, a situação era caótica. Do sopé
até a metade do morro a população tinha construído casas umas apoiadas nas
outras. No alto do morro passava uma rua. De lá de cima, os moradores atiravam
lixo, que se foi acumulando e sendo coberto por terra por décadas. Foi isso que
desceu ladeira abaixo, levando tudo, durante uma noite de chuva intensa, porém
não muito forte.<br />
<br />
Os moradores vagavam como zumbis sobre a lama, o entulho e o
lixo, em estado de choque, incapazes de se comunicar em língua humana.
Grunhidos, espasmos, prostrações misturavam-se às ordens da chefia do corpo de
bombeiros, mais preocupada com evitar novas perdas de vida do que em revolver os
escombros, sob os quais a possibilidade de sobreviventes era nula.<br />
<br />
Olhando para as pessoas a zanzarem sobre a lama, o lodo e o
lixo, arrasadas pela perda de filhos, pais, irmãos, parentes e amigos, a
assistente social tentava, pela lógica de luta de contrários de que lhe falara
o namorado, situar-se com o mínimo de estabilidade, as botas a afundarem na
pasta gelatinosa em que se misturavam detritos, barro e mãos humanas.<br />
<br />
– Mãos? Gente, ajuda a puxar estas mãos, ajuda!<br />
<br />
Eram de uma criança, uma menina, afogada pelo lodo vermelho.
Parecia dormir, serena. Sob um dos braços, um pequeno bicho de pelúcia
igualmente empapado pelo caldo grosso. Nenê ajoelhou-se junto do pequeno corpo
já frio e fez a única que coisa que cabia no momento: chorou, chorou, sim,
porque senão seu coração explodiria. Onde estava a justiça no mundo, pensou e
falou, onde?<br />
<br />
O bombeiro ouviu a assistente social, convencido de que
estava diante do pior. Puxou a menina do lodo e, borrando seu uniforme de lama,
acomodou no colo o pequeno corpo imóvel, que parecia dormir, que parecia alheio
à tragédia e ao drama.<br />
<br />
A visão congestionada, a assistente social teve ainda olhos
para ver o militar afastar-se entre escorregões, desconsolado com a pequena
Vênus Dolorosa em argila nos braços, as botas a sovarem a lama que lhe prendia as solas em sucções grotescas.<br />
<br />
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/08337348869621152552noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2986241826164358045.post-51799618505980554452013-03-14T19:19:00.000-03:002013-03-15T18:03:39.248-03:00ZONA NORTE VAI À ZONA SUL - PROJETO CASULO<i><b>Renata Sabrina New</b>s, ombudswoman da periferia entrevista o escritor
JeosaFÁ sobre encontro com jovens do Projeto Casulo, na comunidade do Real
Parque, Zona Sul de São Paulo.</i><br />
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiCe1EJYW98iNqtCZDLpDPnzvg8xvEOYFvUyP0dZV0fbOZVL-jLJBQZdeCngO7eJCFXYEMlzSh1hdls20sPD6IoD4nC0CuFHjxVvF2OuGrwkiEmPoQFMMn5MyRy1Bm2DEGk-Fz389V1kck/s1600/DSC_0006.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiCe1EJYW98iNqtCZDLpDPnzvg8xvEOYFvUyP0dZV0fbOZVL-jLJBQZdeCngO7eJCFXYEMlzSh1hdls20sPD6IoD4nC0CuFHjxVvF2OuGrwkiEmPoQFMMn5MyRy1Bm2DEGk-Fz389V1kck/s320/DSC_0006.JPG" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center;">
<i>Encontro com turma da manhã do Projeto Casulo</i></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center;">
<i>14 de março de 2013.</i></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<b>RENATA SABRINA</b>: Olá Jeosa, há algum tempo não dá as caras neste
livroblog, não é mesmo?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<b>JEOSA</b>: É, não tem dado tempo...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<b>RENATA</b>: Como foi esse projeto desenvolvido com os e as jovens do
Casulo?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<b>JEOSA</b>: É a quarta vez que estou com o pessoal do Casulo. No ano
passado, por duas vezes estive nos saraus que eles promovem, umas maravilhas.
No do final do ano, creio que em dezembro, falei o poema Navio Negreiro, do
Castro Alves. Aliás, hoje encontrei uma jovem que falou um poema de autoria
própria, conversamos um pouco à entrada da biblioteca.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<b>RENATA</b>: Duas coisa não entendi...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<b>JEOSA</b>: Vai falando...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<b>RENATA</b>: A primeira, por que marcou a entrevista aqui no café do Pão de
Açúcar, em frente à Ponte Estaiada da Marginal Pinheiros. A segunda, por que é
que falou com os jovens sobre o romance ZONA NORTE, se o ZONA SUL já foi
lançado e a galera do Encontro é toda da Zona Sul.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<b>JEOSA</b>: A primeira pergunta tem duas respostas: 1) Por que eu sabia que ia sair do Encontro com eles
morrendo de vontade de tomar café e de pôr alguma coisa doce na boca, e já
estive nesse café uma vez, faz tempo, e gostei. A resposta número 2) Há anos,
quando a ponte ainda estava em construção, fui buscar minha irmã que veio a
trabalho a São Paulo. Estávamos eu, meus dois filhos e ela. Então, como o hotel
em que se hospedou ficava perto, resolvi mostrar a ela a ponte. Acidentalmente,
descobri que o café do mercado da de frente para pela. O dia estava bonito.
Tomamos um café delicioso, olhando os operários erguerem essa maravilha. Viva a
classe operária e o cara que desenhou isso!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<b>RENATA</b>: Quanto à segunda pergunta que fiz...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<b>JEOSA</b>: Não esqueci dela, não. Usei o Zona Norte para conversar com os
jovens da Zona Sul porque do ciclo Era uma vez no meu bairro é o que fala diretamente
dos jovens, de seus sonhos e dificuldades. Também porque, em se tratando de
periferia, os jovens de todas a regiões de São Paulo passam por sufocos
semelhantes: transporte ruim, moradia ruim, saneamento básico péssimo, falta de
emprego ou empregos que pagam mal e não dão margem para sonhar muito alto,
violência, drogas etc.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<b>RENATA</b>: Mas os jovens de que você trata no ZONA NORTE estão no meio da
década de 1970 e no início da década de 1980... Não há muita diferença?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhnsN9Q-vmzfeKGfY7CY04GPlzZlKMAvLnLC9X6epYYm0hXl8nkanuMLMjEPgf9w5pSxSIN01PUGkS9xHucwkLfSpAZrqzZhZz0ZyzLF0mkDjQMZwz-ajKempvKP5UFf4FEE4vcXTeYSl4/s1600/DSC_0007.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhnsN9Q-vmzfeKGfY7CY04GPlzZlKMAvLnLC9X6epYYm0hXl8nkanuMLMjEPgf9w5pSxSIN01PUGkS9xHucwkLfSpAZrqzZhZz0ZyzLF0mkDjQMZwz-ajKempvKP5UFf4FEE4vcXTeYSl4/s320/DSC_0007.JPG" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center;">
<i>Encontro com a turma da tarde do Projeto Casulo.</i></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center;">
<i>14 de março de 2013.</i></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<b>JEOSA</b>: Há e não há.</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<b>RENATA</b>: Explica esse conceito, está meio confuso.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<b>JEOSA</b>: Há diferenças históricas óbvias: a juventude de 70 nem podia imaginar
em coisas parecidas com celulares, internet, laptops, iPad, Tablet, Facebook,
Blogosfera. Mas há também semelhanças tremendas: todo jovem sonha e quer
realizar seu sonho. Uma grande parte vai às baladas e bailes funk hoje, na
década de 70, ia aos bailes do Palmeiras, em que o genial Tim Maia batia cartão
com seus hits provocadores:<o:p></o:p></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center;">
<i>Ora
bolas<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center;">
<i>Não
me amole<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center;">
<i>Com
esse papo<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center;">
<i>De
emprego<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center;">
<i>Não
tá vendo<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center;">
<i>Não
tô nessa.<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center;">
<i>O
que eu quero?<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center;">
<i>Sossego.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<b>RENATA</b>: Tou ligada. Eu mesmo dancei muito nesses bailes. A gente ia de
turma lá do Jardim Brasil para curtir adoidado. O Tim era uma figuraça.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<b>JEOSA</b>: Pois então sabe do que estou falando. Assim como rolava
preconceito contra quem curtia Tim Maia, Jorge Bem e outros, rola preconceito
hoje contra os bailes funks.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<b>RENATA</b>: Mas é tem excesso pra garai aí, não é não?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<b>JEOSA</b>: Excesso tem em tudo que é lugar que junta muita gente.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<b>RENATA</b>: Mas a violência corre adoidado nesses bailes.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
JEOSA: Não nego, mas, radicalizando, em que baile funk se tem notícia
de terem morrido quase 250 jovens de uma vez?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<b>RENATA</b>: Mas dá para comparar?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<b>JEOSA</b>: Por que não dá? O meninos e as meninas da boate Kiss, em Curitiba,
pagaram uma grana alta para entrarem naquela ratoeira... Fala aí, em que baile
funk aconteceria uma calamidade dessas? Até porque, como não tem lugar na
comunidade para a rapaziada e a moçada se divertir, os bailes rolam todos na
rua.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<b>RENATA</b>: O assunto é complexo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-Sdb-xsu-Nq5_sLjKlFudGP558gcdias54GM3xyqv7w4Dnn1lpnW_1uWJU0G0lT7z5rKzNF_dWeCpA5I4YfReACiyStkKYY4tZ3wSxN0-g-_mObAizqFjsf_5XJ2CXAMdQ8uyBLBBxlA/s1600/DSC_0015.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-Sdb-xsu-Nq5_sLjKlFudGP558gcdias54GM3xyqv7w4Dnn1lpnW_1uWJU0G0lT7z5rKzNF_dWeCpA5I4YfReACiyStkKYY4tZ3wSxN0-g-_mObAizqFjsf_5XJ2CXAMdQ8uyBLBBxlA/s320/DSC_0015.JPG" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<b>JEOSA</b>: Concordo. Mas que juventude vai querer ficar eternamente dentro
de casa, sem sacudir o esqueleto, sem frequentar lugares em que pode ver os
amigos e descolar namoradas e namorados.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<b>RENATA</b>: Olhando por esse ângulo...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<b>JEOSA</b>: Ora, que não quer curtir
o social, que fique em casa, tem o direito, mas quem quer, tem o direito de
dançar, tomar seu birinaites socialmente.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<b>RENATA</b>: Mas e os excessos, isso é que dá medo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<b>JEOSA</b>: Aí entra o papel dos mais velhos: tem que ensinar a juventude a
curtir, sem prejudicar a curtição dos outros e sem pôr em risco seus sonhos,
sua saúde, sua vida, que aí também é roubada.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<b>RENATA</b>: E como se faz isso, dá pra explicar esse conceito.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhND_jxpJTeF7wIli2SMZ4j3FRqC2oCYqO7Bb5j16kuc_cS7MFgs_88CJvGHOq7KK4PD2iJIe-uPoRBXdybFOU2qP8DtXsmInT3FfP7M_KVs_finnrlu2DHWEDqWxNyuiqkNQfuOgv5zZo/s1600/Capa-Era+uma+vez-NorteFinal.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhND_jxpJTeF7wIli2SMZ4j3FRqC2oCYqO7Bb5j16kuc_cS7MFgs_88CJvGHOq7KK4PD2iJIe-uPoRBXdybFOU2qP8DtXsmInT3FfP7M_KVs_finnrlu2DHWEDqWxNyuiqkNQfuOgv5zZo/s320/Capa-Era+uma+vez-NorteFinal.png" width="215" /></a>JEOSA: Tem que conversar. A juventude tem que dialogar com a
comunidade, explicar, entender a reclamação dos outros, procurar ceder, mas
também sem abrir mão de seu direito de aproveitar essa idade, que passa e não
volta mais. Acho que o principal problema, nesse caso, é a violência. Tem que
resolver ESSE problema, e deixar rolar os bailes, que se tiverem apoio da
comunidade, são uma coisa espetacular. Não há melhor coisa do que gente na rua
festejando o que quer que seja. Mas tem que respeitar os outros: pode ter gente
doente na rua, idoso necessitando de repouso, dona com dor de cabeça. Então
cabe a quem organiza o movimento enfrentar essas dificuldades sem passar por
cima dos sentimentos dos outros, senão a comunidade fica contra.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
RENATA: Então é a favor de bailes funks, pancadão...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
JEOSA: Sou a favor de manifestações culturais de rua, ponto final. E
quem organiza tem obrigação de conquistar o apoio da comunidade, senão uma
coisa, cultural, de lazer, bacana mesmo, começa sofrer preconceito porque quem
comanda passa por cima dos outros. Rola preconceito até em cima de festa junina
na rua!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<b>RENATA</b>: Isso é verdade.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<b>JEOSA</b>: Mas se quem organiza a festa tomar cuidado de mobilizar,
convencer e abrir espaço para todos darem palpites e ajudarem, tudo rola às mil
maravilhas. Até a segurança da festa fica facilitada, pois todo mundo ajuda a
que tudo comece, transcorra e termine bem.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<b>RENATA</b>: Lidar com muita gente é super-difícil.<o:p></o:p></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhcO2QQzCxNWJe4l23mHqfKqlwBT2_nPn2L_wJhvx_bDatg9L5jmiEcvLTyncrrrq4P54CM93B_r43Wj_FbSvknqKbbFhDsAdt7fZrGjoHEOHeICuTTV1UkF_QAwUL_yzveTPRdPZsktDA/s1600/001+(2).jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhcO2QQzCxNWJe4l23mHqfKqlwBT2_nPn2L_wJhvx_bDatg9L5jmiEcvLTyncrrrq4P54CM93B_r43Wj_FbSvknqKbbFhDsAdt7fZrGjoHEOHeICuTTV1UkF_QAwUL_yzveTPRdPZsktDA/s320/001+(2).jpg" width="201" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<b>JEOSA</b>: Super-difícil e uma tremenda responsabilidade. Mas aí, o que se
diz aos organizadores de bailes de perifa, de festa junina, de cordão de
carnaval, vale também para donos de boates, que vivem causando tragédias. Na
Argentina também uma multidão de jovens morreu em um incêndio há poucos anos...
Para tratar com multidão, tem que respeitar a multidão...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<b>RENATA</b>: Que achou do jovens das duas turmas do Projeto Casulo com as
quais falou sobre o romance ZONA NORTE?</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<b>JEOSA</b>: São super-batalhadores, têm sonhos e vão atrás deles. Saí de lá
com a alma lavada e com a certeza de que um monte de problemas que o Brasil tem
hoje será superado por essa galera que vem vindo aí, firme e forte. Mas eles também contam com gente muito preparada lá. Aliás, não posso esquecer de agradecer à Joyce e ao Adelson pelo convite e à Antônia, pela ajuda na elaboração dos dois encontros.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<b>RENATA</b>: Algum recado para eles?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<b>JEOSA</b>: Sim. O compromisso que assumi, cumpro com prazer: escrevam que
eu respondo. E deem uma viajada pelas postagens. As mais antigas são do ZONA
NORTE, as mais recentes, do ZONA SUL. Para saberem mais sobre esses romances, entrem no site da editora <a href="http://novaalexandria.com.br/">Nova Alexandria</a>.<o:p></o:p></div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/08337348869621152552noreply@blogger.com15tag:blogger.com,1999:blog-2986241826164358045.post-78784783844090551912013-02-19T09:27:00.000-03:002013-02-19T09:33:51.564-03:00Era uma vez ZONA SUL - Capítulo 4 - Parte 6 (Última)<span style="font-size: large;">Renata Acácia descobre pela tia Maria del Pilar que o tempo não tem ponta, mas histórias sim.</span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgN1L8hbO86vs-bpKEG0eEJ4rck_IpxBfnrl6HSEixr1J5b-_PUSgrvELsR2jeYgaMaWph2T2AGoITisusgawgmri0SNbAQF2nWCG_bXIExNZ5Av9G_qY12pxD_y1J773yV5b3Y3EAs_1o/s1600/200px-William-Adolphe_Bouguereau_(1825-1905)_-_Young_Gypsies_(1879).jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-size: xx-small;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgN1L8hbO86vs-bpKEG0eEJ4rck_IpxBfnrl6HSEixr1J5b-_PUSgrvELsR2jeYgaMaWph2T2AGoITisusgawgmri0SNbAQF2nWCG_bXIExNZ5Av9G_qY12pxD_y1J773yV5b3Y3EAs_1o/s320/200px-William-Adolphe_Bouguereau_(1825-1905)_-_Young_Gypsies_(1879).jpg" width="189" /></span></a></div>
<div style="text-align: center;">
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: x-small;">Jovem Cigana (1879)<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: x-small;">William-Adolphe Bouguereau (1825-1905)</span><o:p></o:p></div>
</div>
<span style="color: red; font-size: large;">PARTE 6 - ÚLTIMA</span><br />
Cadê vovô? Está vendo a primeira carroça? Sim, mãe. Aquele
mais alto, ao lado do condutor, é seu avô. Onde estamos, mãe? Sevilha. Falta
muito, mãe? Não sei, filha, seu avô é quem sabe. Esperanza, Encarnación, estão bem? Sim, pai. Sim, vovô. Aqui
é Las Cabezas de San Juan. Falta muito? Se não chovesse tanto, faltaria pouco.
Mas com este dilúvio, ainda demora. Vovô, tenho medo dos relâmpagos e dos
trovões. Avô! Diga, minha neta. Onde estamos? O quê? Fala mais alto,
minha neta, este vento e estes trovões são o diabo! Não digas essa palavra,
avô! Não digo mais, minha neta. Onde estamos? Jerez de la Frontera. Está longe?
Não, Encarnación, mas demora, não te impacientes, para chegar logo, é ir
rápido, mas para chegar seguro, é ir de manso. Encarnación, Esperanza. Sim avô. Sim, pai. Entramos em La
Línea de la Concepción, chegamos, viva a Espanha, viva o Brasil. Viva! Viva!<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi82YGOjtObAtImZvEr4x9YG_cXNEwpfRhJ6VjGk4yRlcU4Vj9dH8Ke30knEr-L7WXZTkfHEhfTxtmlk6HvsxvNg69U-XAJXLBOtpuP8mO-KSNlw1q8STRiU4h-LMjpA7tuOJbomO0CUgE/s1600/marrocos-estreito-gibraltar-1310487492.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-size: x-small;"><img border="0" height="302" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi82YGOjtObAtImZvEr4x9YG_cXNEwpfRhJ6VjGk4yRlcU4Vj9dH8Ke30knEr-L7WXZTkfHEhfTxtmlk6HvsxvNg69U-XAJXLBOtpuP8mO-KSNlw1q8STRiU4h-LMjpA7tuOJbomO0CUgE/s320/marrocos-estreito-gibraltar-1310487492.jpg" width="320" /></span></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<i><span style="font-size: x-small;">Estreito de Gibraltar</span></i></div>
<div class="MsoNormal">
E
depois, vovô? Depois? Me leve no coração para o país encantado para onde vão,
com as histórias que sua mãe contar. Sim, avô. Senhor Bote, fique no alojamento
até a partida de sua filha e de sua neta, faço questão. Agradeço. Senhor Bote,
posso perguntar? Pergunte. De onde tira toda sua força? Do chão desta terra
pedregosa, regada de sangue, que viu muitas maravilhas e ainda mais injustiças,
muitas das quais, ai de mim, ainda estão por vir. Por isso envia as duas para
outras terras? Não, lá também há de haver glórias e sofrimentos. Então, por
quê? Sou de uma gente andarilha. Não é possível que minha filha e minha neta
nasçam, vivam e morram no mesmo lugar, precisam andar. Porém, ficas aqui...
Sim, gastando o que me resta de força para chegar ao ponto inicial de minha
jornada: Madrid. Mas é preciso uma arca cheia de dinheiro e muita sorte para se
viver em Madri. Sei disso, não vou para lá viver, vou para morrer. Então, dá-se
mais quatro anos, por que não mais? É o quanto preciso para pôr os pés no monte
Pio. E depois? Depois, não há depois, me deito, fecho os olhos e tiro deles
para sempre o três de maio de mil e oitocentos e oito. Esperanza, Encarnación. Sim, pai. Sim, avô. Veem este lenço
rubro? Sim. Sim. Quando estiverem no alto do navio, busquem-no com os olhos,
ele estará na ponta desta bengalinha.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjsibpj-jf2Q6H8gKkHAXyr1WNoUy0pTDUWh9LpoxrDbGK513LFHAI8z5zfy7ONJKdqBvv_8efxupS13sIBmcUtBE-6MszwoQyvfDpr-1wu9RpBalwFaZuXeJH6ssf_z3yPQoSmzBsMsGU/s1600/imigrantes_brasil.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-size: x-small;"><img border="0" height="220" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjsibpj-jf2Q6H8gKkHAXyr1WNoUy0pTDUWh9LpoxrDbGK513LFHAI8z5zfy7ONJKdqBvv_8efxupS13sIBmcUtBE-6MszwoQyvfDpr-1wu9RpBalwFaZuXeJH6ssf_z3yPQoSmzBsMsGU/s320/imigrantes_brasil.jpg" width="320" /></span></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<i><span style="font-size: x-small;">Navio de imigrantes</span></i></div>
<div class="MsoNormal">
Debaixo da bengalinha, estarei eu, se não
me virem, imaginem. Será a última vez, agora me abracem e não se descomponham
chorando, se chorarem, façam-no com dignidade, amem a terra para onde vão como
eu amo esta, de onde partem, vocês serão mais ricas, pois terão duas pátrias no
coração, enquanto eu só tenho esta Espanha pedregosa e luminosa em que, não
posso negar, sofri, mas fui feliz, muito feliz, graças a vocês duas, sejam
fortes, adeus. Adeus pai. Adeus avô. Mãe, só vejo o lencinho vermelho, ai minha mãe, que se
soltou da bengalinha e está a voar.. voar... voar... Feche os olhos, minha
Encarnación, imagine seu avô, lembra o quanto ele é alto? Sim, minha mãe.
Lembra-se de seus olhos escuros? Sim, minha mãe. Lembra-se da calva alta e dos
cabelos ainda pretos nos lados de sua cabeça? Sim, sim. Lembra-se da linda
roupa que ele vestiu só para se despedir de nós? Sim, sim. Então se recomponha,
e chore com dignidade. Sim, sim. Podes vê-lo agora? Sim, minha mãe, como é
lindo meu avô. Agora, abramos nossos olhos e levemos para nosso destino de
encantos e também de incertezas essa imagem final da nossa Espanha, que nos
será para sempre meu pai e seu avô imaginado sob um lenço rubro solto, solto,
solto demais no vento.</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<br />Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/08337348869621152552noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2986241826164358045.post-91114476942724370552013-02-14T11:56:00.000-02:002015-09-25T15:50:23.770-03:00Era uma vez ZONA SUL - Capítulo 4 - Parte 5<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Renata Acácia descobre pela tia Maria del Pilar que o tempo
não tem ponta, mas histórias sim.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: red; font-size: large;">PARTE 5</span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhvZdUZuelQxun4Qy1vkTucehd5se57arYxlF7sAreFtWQ92LL_NIXenanVzl83Pvcah1Cmh4GJq_IO7vxC-LGbc4o6yg6mwRl3_vYmVk5WQi9eeuJcDKA38ZM8vdWOdA0SDUvDIOHcOa4/s1600/TEMPESTADE+2.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: justify;"><img border="0" height="214" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhvZdUZuelQxun4Qy1vkTucehd5se57arYxlF7sAreFtWQ92LL_NIXenanVzl83Pvcah1Cmh4GJq_IO7vxC-LGbc4o6yg6mwRl3_vYmVk5WQi9eeuJcDKA38ZM8vdWOdA0SDUvDIOHcOa4/s320/TEMPESTADE+2.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
Esse aguaceiro que caí a bátegas acabaria com qualquer um
que não tivesse firme propósito de mover-se rumo ao sul. E esse Mediterrâneo
que não cessa de enviar para essas penhas todas as fortalezas de seus ventos
gordos de chuva, potência e neblina densa, como o pior dos aziagos presságios.
Numa tarde dessas, gris, fria e tormentosa, com suas carroças subindo e
descendo penhascos, os eixos ruidosos, não espantaria que desgraças ocorressem,
senão a esta viagem que vai cuidadosa e lenta, a outras cujas rotas menos
sabidas e mal escolhidas arriscam deitar rochedo abaixo toda gente com suas
malas pobres de viagem e com seus corações prenhes de esperança.</div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj2iYV544nQ2_bZaz2QrgiY1bUUxLp_fVCgPF3PFlLBvT-S3fo8pKAnl954DA75o23tvvN3Ux29kHvTT8snDM7IazKKJdBW6x9TXi7KOIszhckm5cKlMLrnP7x4U_MZYSLxoxescM0dy74/s1600/guerra+civil+de+espa%C3%B1a+0008.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: justify;"><img border="0" height="245" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj2iYV544nQ2_bZaz2QrgiY1bUUxLp_fVCgPF3PFlLBvT-S3fo8pKAnl954DA75o23tvvN3Ux29kHvTT8snDM7IazKKJdBW6x9TXi7KOIszhckm5cKlMLrnP7x4U_MZYSLxoxescM0dy74/s320/guerra+civil+de+espa%C3%B1a+0008.jpg" width="320" /></a><br />
<div style="text-align: justify;">
Porém quem sou eu? Um velho com pensamentos ruins a rumar
para o sul, para embarcar a carga mais preciosa que possui, e depois para o
norte, até a origem, a qual deixei com tremores de horror nos nervos e olhos de
espanto. Mas faz tanto tempo... Por que não me deixou esse susto em que ainda
vejo meu irmão jovem ao chão morto? Em Madri chego centenário. Que imagens de
desgraças futuras verei quando lá chegar? Talvez outros jovens cheios de
idealismo a tombar frente a pelotões de fuzilamento animados pela consigna <i>Viva la muerte!</i> Quem sabe um bom
ferreiro, um bom operário e até um grande poeta a gritar <i>Viva la vida!</i>, antes de
desabar sobre a poeira fértil de sangue, tal como meu irmão? Oh! Espanha, Oh!
Madri, que desgraças futuras imaginarei quando aí chegar com meus olhos
estranhamente sem cataratas, curados por lágrimas de um século?</div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEia8Gh-CX08peezIUO-uT_WoFTzvPhJknhKvJjzojiNm5-gj0HmpALiwB9asMB0RgZT7bCuKuAPU28ieeUJcRw6mDi-fpL8m16nFAf9KrI9fOcdayZq6goX2TDb-8neNHP_EUKNba9zzEo/s1600/franquismo-guerra-civil.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: justify;"><img border="0" height="217" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEia8Gh-CX08peezIUO-uT_WoFTzvPhJknhKvJjzojiNm5-gj0HmpALiwB9asMB0RgZT7bCuKuAPU28ieeUJcRw6mDi-fpL8m16nFAf9KrI9fOcdayZq6goX2TDb-8neNHP_EUKNba9zzEo/s320/franquismo-guerra-civil.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
E agora esta roda que atola e não se fazem mais condutores
como em meu tempo, do qual talvez reste somente eu. Força resta-me pouca, essa
pouca será empregada na ida a Gibraltar e, depois de lá, por quatro anos, até
Madri, subindo sem pressa por outras rotas diferentes desta por que vim, pela
graça dos que pelos caminhos vão. Se querem salvar a carroça, com esta chuva
que o Mediterrâneo manda, verdadeira provação, lembrança última da península a
quem a deixará e nunca mais a ela regressará, então desatem os cavalos, antes
que eles assustados pelos raios e pela tormenta – que neste momento parece
testar os nervos de todos, inclusive os deles – saltem para o nada, levando
consigo malas no rolar de pedras e no estalar de ferraduras, gente, carroça,
esperanças.</div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiCeuCZ1i5tAPMQ8QuZdGS3Z1i1J3pCp_B0c03oCpVRF-wnuuZyiVm4315JbUjzYO9ZE3PL9SLR8lMeA5nnbJ6FljWnKKXEtYJaFQyd22UUoGAx5Gist-298aB4w-9DZ0dg7YS6oe4DUCU/s1600/Carro%C3%A7a+1.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: justify;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiCeuCZ1i5tAPMQ8QuZdGS3Z1i1J3pCp_B0c03oCpVRF-wnuuZyiVm4315JbUjzYO9ZE3PL9SLR8lMeA5nnbJ6FljWnKKXEtYJaFQyd22UUoGAx5Gist-298aB4w-9DZ0dg7YS6oe4DUCU/s1600/Carro%C3%A7a+1.jpg" /></a><br />
<div style="text-align: justify;">
Porém, isso não será suficiente, porque essas antigas
carroças são da melhor madeira, que pesam o quanto valem. Levem os cavalos
assustados para o fim da fila, deem a eles esse pó de açúcar que aqui trago,
antes que morram de colapso, parece incrível, mas isso também ocorre aos
animais, minha gente, tenham pena deles, que não podem se queixar e dependem do
nosso bom entendimento para cessar de sofrer.</div>
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
Esvaziada a carroça, agora peguem este jogo de polias que
trouxe comigo. Para que servem quase cem anos de vida, se não for para ter
aprendido um pouco de coisa que torne a vida minha e dos mais próximos um pouco
mais aliviada? Pois, então, mexam-se, amarrem esta ponta de corda no eixo da
carroça em vias de rolar penhasco abaixo, que sou velho, caso contrário eu
mesmo o faria, pois, quando tive músculos assim fortes como os seus, ah, que
prazer infindo era pô-los em movimento. Passem a outra ponta pelo jogo de
polias fixados no potente carvalho, podem puxar. Parece magia, é certo. Como
pode uma carroça assim pesada ser puxada como se de pena fosse? Mistérios da
engenhosidade humana. O jogo de polias faz com que o peso da carroça suma nas
cordas e nos puxões. Se esse velho não tivesse vindo conosco é agora que a
borrasca nos envolvia em seu amplexo de bruxa.</div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjWCQp8egQ6DZUjRNjksT2vrH1CxF07so3eUl0xE1q9LjUgchc0pUBgi1qxnrmUzAO3jDGF_tRXlp_5raMAisHjctCBZiHW9noSYx6YDrHX62OMXCAtjI30zDQSdRAx1IlDvOfgT8oYTz0/s1600/garcialorca.jpeg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: justify;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjWCQp8egQ6DZUjRNjksT2vrH1CxF07so3eUl0xE1q9LjUgchc0pUBgi1qxnrmUzAO3jDGF_tRXlp_5raMAisHjctCBZiHW9noSYx6YDrHX62OMXCAtjI30zDQSdRAx1IlDvOfgT8oYTz0/s320/garcialorca.jpeg" width="252" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
Já quanto a isso nada posso fazer, nem com meus quase cem e
nem que vivesse mil anos, essa massa d’água quando cai e essa horda de vento
quando sopra pedem casa de pedra e telhado calafetado. Mas quem somos nós para
tanto, nós, que rumo a Gibraltar decidimos afrontar as forças conjuntas da
massa d’água e da horda dos ventos? Agora o que nos cabe é esse chicote frio na
face e esse jorro gelado a descer pela roupa. Pior ficará quando descer de vez
a noite que vem próxima, se não atingirmos o outro lado do pico a tempo de
acomodar toda essa procissão de carroças, cavalos e gente em situação protegida
dos vórtices do vento e da chuva impiedosa. Mas quanto a isso fiquem
sossegados, que para alguma coisa servem quase cem anos de um giramundo a
esculpir movelaria para os senhores destes chãos pedregosos de Cáceres e
Andaluzia. Lá está o pico, força de expressão, pois mais se trata de uma suave
semicircunferência calva após o que nos aguarda um doce declive que leva à
clareira salvadora. Estar assim tão próximo do abrigo traz uma sensação de
conforto tão especial que o próprio abrigo, em face dela, se revelará um tanto
decepcionante. E agora que nele estamos, ajeitemo-nos e durmamos em paz, que
pela manhã esta carroça será a primeira a ganhar posição no estreito caminho de
cascalho que leva, declive abaixo, à sonora Andaluzia, que tanto ficará
conhecida pelo século vindouro e afora, para o bem e para o mal, por suas
guitarras ciganas e por seus poetas trágicos a caírem abatidos por balas sobre
chão, oh! Espanha, dia virá que cessarás sangrar.</div>
<div style="text-align: center;">
Clique e vá para o<br />
<span style="color: blue; outline: none; text-decoration: none;"><b><a data-id="7878478384409055191" data-item-type="post" href="http://eraumaveznomeubairro.blogspot.com/2013/02/era-uma-vez-zona-sul-capitulo-4-parte-6.html" itemprop="url" rel="bookmark" style="outline: none; text-decoration: none;">Era uma vez ZONA SUL - Capítulo 4 - Parte 6 (Última)</a></b></span><br />
<span style="color: blue; outline: none; text-decoration: none;"><br /></span>
<span style="color: blue; outline: none; text-decoration: none;"></span><br />
<div style="background-color: #fafafa; color: #333333; font-family: 'Helvetica Neue Light', HelveticaNeue-Light, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.6px; margin: 0px; outline: none; padding: 0px; text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; line-height: 21.7778px; margin: 0px; outline: none; padding: 0px; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPy6EN6wUrVjMa_9yDI4NbwLGvxtJOx-UANDVAJwAGFdw5374coEhIEtFalmCvBZL8SckSdSdVFh6zoMG9Nmsp4k2gL3GT9kKQVxfvO2h66IwcokdEVfcMO7m0-MgSJbizRRQnSceqTZDL/s1600/Jeosa-Estadao.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; color: #009eb8; display: inline; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; outline: none; text-decoration: none; transition: color 0.3s;"><img border="0" height="138" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPy6EN6wUrVjMa_9yDI4NbwLGvxtJOx-UANDVAJwAGFdw5374coEhIEtFalmCvBZL8SckSdSdVFh6zoMG9Nmsp4k2gL3GT9kKQVxfvO2h66IwcokdEVfcMO7m0-MgSJbizRRQnSceqTZDL/s1600/Jeosa-Estadao.jpg" style="-webkit-border-image: url(data:image/png; border-image-repeat: stretch; border-image-slice: 9; border-image-source: url(data:image/png; border-image-width: 9px; border: 9px none; box-sizing: border-box; display: inline-block; height: auto; margin: 10px auto; max-width: 100%; padding: 8px; position: relative;" width="200" /></a></div>
<div style="line-height: 19.6px; margin: 0px; outline: none; padding: 0px;">
<br /></div>
<b style="line-height: 21.7778px;"><a href="http://amplexosdojeosafa.blogspot.com.br/" style="color: #009eb8; display: inline; outline: none; text-decoration: none; transition: color 0.3s;" target="_blank">Jeosafá </a></b><span style="line-height: 21.7778px;">é escritor e professor Doutor em Letras pela Universidade de São Paulo. Autor de mais de 50 títulos por diversas editoras, é também autor d' </span><i style="line-height: 21.7778px;"><a href="http://amplexosdojeosafa.blogspot.com.br/2014/02/o-jovem-mandela-entrevista-galileu.html" style="color: #009eb8; display: inline; outline: none; text-decoration: none; transition: color 0.3s;" target="_blank"><b>O jovem Mandela</b></a></i><span style="line-height: 21.7778px;"> e </span><a href="http://amplexosdojeosafa.blogspot.com.br/2015/02/evoe-malcolm-x-ha-50-anos-malcolm-x-era.html" style="color: #009eb8; display: inline; line-height: 21.7778px; outline: none; text-decoration: none; transition: color 0.3s;" target="_blank"><i><b>O jovem Malcolm X</b></i></a><span style="line-height: 21.7778px;">, ambos pela </span><span style="line-height: 21.7778px;">Editora Nova Alexandria</span><span style="line-height: 21.7778px;">.</span></div>
<div>
<span style="line-height: 21.7778px;"><br /></span></div>
</div>
</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/08337348869621152552noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2986241826164358045.post-17712867968908113872013-02-07T10:14:00.001-02:002015-09-25T15:50:04.387-03:00Era uma vez ZONA SUL - Capítulo 4 - Parte 4<br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 0cm;">
<span style="color: red; font-size: large;">Renata Acácia descobre pela tia
Maria del Pilar que o tempo não tem ponta, mas histórias sim.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;">PARTE 4</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 0cm;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgk4xSKwl60xTL4V58xFgln_ivjgMc5D66AiFQbm-wEcXOQmXAcwHluXJ_BlihK3w2nRLNisFD4jm1p1eYvYM4IoxUveG8J_YBhnKHwEHvJExgO47IPb7YrBDbojgtliN6XTzP_V1CFitc/s1600/400px-Cerco_de_Badajoz_1812.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgk4xSKwl60xTL4V58xFgln_ivjgMc5D66AiFQbm-wEcXOQmXAcwHluXJ_BlihK3w2nRLNisFD4jm1p1eYvYM4IoxUveG8J_YBhnKHwEHvJExgO47IPb7YrBDbojgtliN6XTzP_V1CFitc/s320/400px-Cerco_de_Badajoz_1812.jpg" width="260" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 0cm;">
<span style="text-indent: 0cm;">Meu pai, até La Línea de la Concepción são mais de
quinhentos quilômetros. Sei disso, minha filha, ai de mim se não soubesse.
Então? Então o quê, julga que não consigo? Chove, pai, faz frio, há lama e
pedra, cimos e baixios que nem sei se eu e Encarnáción suportaremos. Com oito
anos, Esperanza, atravessei estas terras pedregosas descalço, em farrapos, sem
comida e sem água, com a desgraça nos olhos e com a tragédia no coração, não
duvide de seu pai. Não duvido, temo. Não tema, se temer não chega a seu
destino, falha consigo e com Encarnación. Está bem. Ótimo, então dê meu
dinheiro para o líder do comboio, fico no porto. Mas isto só dá para ir, como
voltará a Castañar? Não voltarei. Morrerei em Madrid. Tenho quatro anos para
chegar até lá. Subo por rotas que imaginei e que nunca vi. O senhor é quem
sabe, pai, viu tanta infelicidade lá, por que isso agora, vem com a gente para
o Brasil, uma terra nova. Sou velho, quero a velha Espanha, levem um pouco
desta velha terra, destas velhas angústias, destas velhas alucinações com
vocês. O senhor é quem sabe. Sim. Vovô, vem com a gente. Não, minha neta, no
porto as deixo, façam esse novo país. Pisando no chão dessa nova terra, guardem
lembranças, mas aprendam a língua de lá, falem essa língua, vivam essa língua,
senão tudo será mais difícil, nem imaginam o quanto, isso peço. Sim, pai. Sim,
avô.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 0cm;">
</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhOkhg7_uUu6W6UFFBPKvqRvpJipSKvpTJ1PjCDftTSH1ZCX5heqwp1Y3jnJf8ZFtwUw1QqhmLQgX0Vm74BtbW9Aaa_VFwdZJIf0Dnp_XiHmNnoyAAIeEgX-XBt1KeGJ8sfvUd_BucjKg4/s1600/Badajoz+2.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="207" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhOkhg7_uUu6W6UFFBPKvqRvpJipSKvpTJ1PjCDftTSH1ZCX5heqwp1Y3jnJf8ZFtwUw1QqhmLQgX0Vm74BtbW9Aaa_VFwdZJIf0Dnp_XiHmNnoyAAIeEgX-XBt1KeGJ8sfvUd_BucjKg4/s320/Badajoz+2.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
Esse inválido não vai nesta carroça, está cheia. Mas ele
pagou. Não interessa, tome o dinheiro dele de volta. Não quero o dinheiro,
quero ir, tenho direito, paguei. Não estamos indo a passeio, tenho que apanhar
mais gente para trabalhar no Brasil, você, velho, vai ocupar espaço de quem
precisa trabalhar, maldita seja esta chuva, alguém aí sabe como contornar as
enxurradas e os morros que despencam, desmilinguem, liquefazem nessa época? Eu
sei. Você não conta, velho. Tem alguém aí que conheça um caminho prestável,
senão perdemos o embarque. Não seja idiota, se o velho sabe, leve o velho, é
velho, mas é forte. Como sabe se ele sabe ou se não mente só para ir no
comboio? Pergunte a ele. Que diz, velho? Não precisa perguntar segunda vez, o
melhor caminho dou de graça: Navalvillar de Pela, Orellana la Vieja,
Campanario, Zalamea de la Serena, Llerena, Castilblanco de los Arroyos,
Sevilha, Dos Hermanas, Las Cabezas de San Juan, Jerez de la Frontera, La Línea
de la Concepción. Pronto, já deu o caminho, então não precisamos mais dele.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjjQK-jHCmzCDnfa027d3Kzunc1581LxUDngrOVn5E5LLqTXQR-I89Ncg1peRng_X4CmrHPGB-M5LYcfJ3isDSKPvZYLAkxQZuYLL0QrWjgINAJD1qdjPVarLHJ2ovPQeMkUx0EBIElw4U/s1600/Sevilha.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="239" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjjQK-jHCmzCDnfa027d3Kzunc1581LxUDngrOVn5E5LLqTXQR-I89Ncg1peRng_X4CmrHPGB-M5LYcfJ3isDSKPvZYLAkxQZuYLL0QrWjgINAJD1qdjPVarLHJ2ovPQeMkUx0EBIElw4U/s320/Sevilha.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
Isso é o que pensa, dei a melhor rota, mas os trechos seguros, para saber, tem
que me levar, e na carroça da frente, senão todo mundo rola precipício abaixo,
não é à toa que gastei minha juventude entalhando madeira por este sul, este
sul cujo vento gretou esta face tal como gretou os vales, os topos, a visão
alucinada de Gibraltar. Moço, meu pai é necessário. Tá, tá, tá, arrumem lugar
para ele na primeira carroça. <span style="text-indent: 0cm;">Então, “vovô”, para onde? Aqui neste comboio só
uma pessoa autorizo a me chamar de “vovô”, e não é você. Desculpa, seu...
Ocíbio Del Pilar Bote.</span><span style="text-indent: 0cm;"> </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="text-indent: 0cm;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="MsoNormal">
<span style="text-indent: 0cm;">Passamos hoje
direto por Navalvillar de Pela e dormimos em Orellana la Vieja. Mas é muito
pouco para um dia de jornada. Sei disso, mas entre Orellana la Vieja e
Campanario é preciso passar com tempo senão firme ao menos de chuva pouca, caso
contrário, ninguém chega vivo a Zalamea de la Serena, não é comum, mas estas
chuvas quando desabam, por Deus, é o fim do mundo, é preciso ter vivido os meus
noventa e seis anos para ver algumas delas. Eu mesmo, uma assim, tal como
agora, nunca vi, seu Pilar. Me chame de Bote. Seu Bote. Igual a essa, eu também
não vi muitas, se é que vi mais de uma além desta, e dou por certo que iremos
debaixo de aguaceiro até Gibraltar. Então acha que o navio atrasa a partida?
Com certeza. Então precisaremos esperar o embarque em La Línea... Também dou
por certo. Parece que o velho sabe das coisas. Não muitas, apenas o suficiente
para ver raiar o ano de mil e novecentos.</span><br />
<div style="text-align: center;">
<span style="text-indent: 0cm;">Clique abaixo e vá para o</span><br />
<span style="color: blue; outline: none; text-decoration: none;"><b><a data-id="9111447694272437055" data-item-type="post" href="http://eraumaveznomeubairro.blogspot.com/2013/02/era-uma-vez-zona-sul-capitulo-4-parte-5.html" itemprop="url" rel="bookmark" style="outline: none; text-decoration: none;">Era uma vez ZONA SUL - Capítulo 4 - Parte 5</a></b></span><br />
<span style="color: blue; outline: none; text-decoration: none;"><br /></span>
<span style="color: blue; outline: none; text-decoration: none;"></span><br />
<div style="background-color: #fafafa; color: #333333; font-family: 'Helvetica Neue Light', HelveticaNeue-Light, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.6px; margin: 0px; outline: none; padding: 0px; text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; line-height: 21.7778px; margin: 0px; outline: none; padding: 0px; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPy6EN6wUrVjMa_9yDI4NbwLGvxtJOx-UANDVAJwAGFdw5374coEhIEtFalmCvBZL8SckSdSdVFh6zoMG9Nmsp4k2gL3GT9kKQVxfvO2h66IwcokdEVfcMO7m0-MgSJbizRRQnSceqTZDL/s1600/Jeosa-Estadao.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; color: #009eb8; display: inline; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; outline: none; text-decoration: none; transition: color 0.3s;"><img border="0" height="138" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPy6EN6wUrVjMa_9yDI4NbwLGvxtJOx-UANDVAJwAGFdw5374coEhIEtFalmCvBZL8SckSdSdVFh6zoMG9Nmsp4k2gL3GT9kKQVxfvO2h66IwcokdEVfcMO7m0-MgSJbizRRQnSceqTZDL/s1600/Jeosa-Estadao.jpg" style="-webkit-border-image: url(data:image/png; border-image-repeat: stretch; border-image-slice: 9; border-image-source: url(data:image/png; border-image-width: 9px; border: 9px none; box-sizing: border-box; display: inline-block; height: auto; margin: 10px auto; max-width: 100%; padding: 8px; position: relative;" width="200" /></a></div>
<div style="line-height: 19.6px; margin: 0px; outline: none; padding: 0px;">
<br /></div>
<b style="line-height: 21.7778px;"><a href="http://amplexosdojeosafa.blogspot.com.br/" style="color: #009eb8; display: inline; outline: none; text-decoration: none; transition: color 0.3s;" target="_blank">Jeosafá </a></b><span style="line-height: 21.7778px;">é escritor e professor Doutor em Letras pela Universidade de São Paulo. Autor de mais de 50 títulos por diversas editoras, é também autor d' </span><i style="line-height: 21.7778px;"><a href="http://amplexosdojeosafa.blogspot.com.br/2014/02/o-jovem-mandela-entrevista-galileu.html" style="color: #009eb8; display: inline; outline: none; text-decoration: none; transition: color 0.3s;" target="_blank"><b>O jovem Mandela</b></a></i><span style="line-height: 21.7778px;"> e </span><a href="http://amplexosdojeosafa.blogspot.com.br/2015/02/evoe-malcolm-x-ha-50-anos-malcolm-x-era.html" style="color: #009eb8; display: inline; line-height: 21.7778px; outline: none; text-decoration: none; transition: color 0.3s;" target="_blank"><i><b>O jovem Malcolm X</b></i></a><span style="line-height: 21.7778px;">, ambos pela </span><span style="line-height: 21.7778px;">Editora Nova Alexandria</span><span style="line-height: 21.7778px;">.</span></div>
<div>
<span style="line-height: 21.7778px;"><br /></span></div>
</div>
</div>
<br />Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/08337348869621152552noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2986241826164358045.post-30324097167699963272013-02-05T09:26:00.000-02:002015-09-25T15:49:35.188-03:00Era uma vez ZONA SUL - Capítulo 4 - Parte 3<span style="font-size: small;"><i>Há um momento em que a origem das histórias se perde na neblina do tempo. Esse é o instante exato em que se alcança uma ponta rompida da corda do passado, em que, desatados os elos entre os fatos, o encadeamento desfeito lança tudo para um abismo esfumaçado de deduções. Aqui, no melhor dos casos, podemos fazer suposições, umas legítimas, outras nem tanto. </i><a href="http://eraumaveznomeubairro.blogspot.com.br/">Era uma vez no meu bairro - ZONA SUL</a><i>,</i></span><span style="font-size: small; font-style: italic;"> neste capítulo, atingiu esse ponto, a partir do qual, para trás no tempo, tudo é hipótese ou simplesmente invenção.</span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhr5S-6RNEa7LTNsb2OoQim7cNJ3s4ifdcJq-1bW2HBAB9LIzrHwM6HE0Zst1amPfAYkr-IZVfOItSbRObuF6tdAfAOxWyBkZp8Lkrekhmc2y9HdcDN5ee8e1KVj8GkhnlxK22d51Duzzw/s1600/dehesa-extremadura-espana.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="211" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhr5S-6RNEa7LTNsb2OoQim7cNJ3s4ifdcJq-1bW2HBAB9LIzrHwM6HE0Zst1amPfAYkr-IZVfOItSbRObuF6tdAfAOxWyBkZp8Lkrekhmc2y9HdcDN5ee8e1KVj8GkhnlxK22d51Duzzw/s320/dehesa-extremadura-espana.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-style: italic; font-weight: normal;"><span style="font-size: x-small;">Extremadura - ESPANHA</span></span></div>
<h1>
<span style="font-family: inherit; text-indent: 0cm;"><span style="color: red; font-size: large;">Renata Acácia descobre pela tia
Maria del Pilar que o tempo não tem ponta, mas histórias sim.</span></span></h1>
<h1>
<span style="font-family: inherit; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: large;">PARTE 3</span></span></h1>
<h1>
<span style="font-size: 11pt; font-weight: normal;"><span style="font-family: inherit;">Esse menino não esperou a descarga,
arrastou-se de volta pelo caminho de onde viera, a cena trágica impregnada em
seus olhos para sempre. Longe, ergueu-se e correu em disparada até cair de
cansaço à beira da estrada e dormir sobre o orvalho da manhã que repousava nas
folhas da relva.</span></span></h1>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: 11pt;">Caminhou durante dias por mais de duzentos quilômetros, a pé,
na poeira e na pedra, no charco e no cascalho, vivendo do que apanhava pelo
caminho, comendo o que davam e bebendo a lambidas o sereno goticulado nas
folhas das plantas.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-size: 11.0pt;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-size: 11.0pt;"><span style="font-family: inherit;">Foi dar em Castañar de Ibor, onde virou
menino de trabalhos miúdos, depois moço lavrador, depois, homem feito, artesão;
onde se casou tardiamente, já entrado nos sessenta, onde teve uma única filha,
Esperanza, onde enviuvou, no nascimento da menina, e onde talvez morreu.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-size: 11.0pt;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhJ3nmp-Bya_tL6z-EMcDcpLOXvM6cNddPMR0z_vmvGfQTD4Y4XDCBRFewh0XyyIxRton7u2NeRTF_TGx6UkYfINpFwREOqUVOyT28f1nnV9IH-Ijc36Fd5f7flk2OjZiPpPJY5T9zvhrQ/s1600/images.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhJ3nmp-Bya_tL6z-EMcDcpLOXvM6cNddPMR0z_vmvGfQTD4Y4XDCBRFewh0XyyIxRton7u2NeRTF_TGx6UkYfINpFwREOqUVOyT28f1nnV9IH-Ijc36Fd5f7flk2OjZiPpPJY5T9zvhrQ/s1600/images.jpg" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-size: 11.0pt;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: 11pt;">“Talvez” porque depois de, aos noventa e seis anos de idade, embarcar a filha
de trinta e cinco, mãe solteira, e a neta de nove, Encarnación, no navio
ancorado em Gibraltar com destino ao “país encantado”, não se teve mais
notícias dele. Perdeu-se no escuro do desconhecimento. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-size: 11.0pt;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-size: 11.0pt;"><span style="font-family: inherit;">Quem sabe voltou a
Madri, para tentar apagar dos olhos com imagens novas a imagem que o perseguiu
durante toda a vida e que transmitiu à filha e à neta em cores vívidas?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-size: 11.0pt;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-size: 11.0pt;"><span style="font-family: inherit;">Essa é ponta mais antiga conhecida de
nossa história, e se chama Ocíbio del Pilar Bote. É seu trisavô.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-size: 11.0pt;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-size: 11.0pt;"><span style="font-family: inherit;">– Posso imaginar como deve ter sido essa
segunda jornada dele rumo ao sul.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-size: 11.0pt;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-size: 11.0pt;"><span style="font-family: inherit;">Pois imagine o quanto quiser, pois sobre
isso sua bisavó e sua avó nunca mencionaram uma vírgula. Seu café esfriou.</span><o:p></o:p></span><br />
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: 11.0pt;"><span style="font-family: inherit;">Clique abaixo e vá para o</span></span><br />
<span style="color: blue; outline: none; text-decoration: none;"><b><a data-id="1771286796890811387" data-item-type="post" href="http://eraumaveznomeubairro.blogspot.com/2013/02/era-uma-vez-zona-sul-capitulo-4-parte-4.html" itemprop="url" rel="bookmark" style="outline: none; text-decoration: none;">Era uma vez ZONA SUL - Capítulo 4 - Parte 4</a></b></span><br />
<span style="color: blue; outline: none; text-decoration: none;"><br /></span>
<span style="color: blue; outline: none; text-decoration: none;"></span><br />
<div style="background-color: #fafafa; color: #333333; font-family: 'Helvetica Neue Light', HelveticaNeue-Light, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.6px; margin: 0px; outline: none; padding: 0px; text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; line-height: 21.7778px; margin: 0px; outline: none; padding: 0px; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPy6EN6wUrVjMa_9yDI4NbwLGvxtJOx-UANDVAJwAGFdw5374coEhIEtFalmCvBZL8SckSdSdVFh6zoMG9Nmsp4k2gL3GT9kKQVxfvO2h66IwcokdEVfcMO7m0-MgSJbizRRQnSceqTZDL/s1600/Jeosa-Estadao.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; color: #009eb8; display: inline; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; outline: none; text-decoration: none; transition: color 0.3s;"><img border="0" height="138" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPy6EN6wUrVjMa_9yDI4NbwLGvxtJOx-UANDVAJwAGFdw5374coEhIEtFalmCvBZL8SckSdSdVFh6zoMG9Nmsp4k2gL3GT9kKQVxfvO2h66IwcokdEVfcMO7m0-MgSJbizRRQnSceqTZDL/s1600/Jeosa-Estadao.jpg" style="-webkit-border-image: url(data:image/png; border-image-repeat: stretch; border-image-slice: 9; border-image-source: url(data:image/png; border-image-width: 9px; border: 9px none; box-sizing: border-box; display: inline-block; height: auto; margin: 10px auto; max-width: 100%; padding: 8px; position: relative;" width="200" /></a></div>
<div style="line-height: 19.6px; margin: 0px; outline: none; padding: 0px;">
<br /></div>
<b style="line-height: 21.7778px;"><a href="http://amplexosdojeosafa.blogspot.com.br/" style="color: #009eb8; display: inline; outline: none; text-decoration: none; transition: color 0.3s;" target="_blank">Jeosafá </a></b><span style="line-height: 21.7778px;">é escritor e professor Doutor em Letras pela Universidade de São Paulo. Autor de mais de 50 títulos por diversas editoras, é também autor d' </span><i style="line-height: 21.7778px;"><a href="http://amplexosdojeosafa.blogspot.com.br/2014/02/o-jovem-mandela-entrevista-galileu.html" style="color: #009eb8; display: inline; outline: none; text-decoration: none; transition: color 0.3s;" target="_blank"><b>O jovem Mandela</b></a></i><span style="line-height: 21.7778px;"> e </span><a href="http://amplexosdojeosafa.blogspot.com.br/2015/02/evoe-malcolm-x-ha-50-anos-malcolm-x-era.html" style="color: #009eb8; display: inline; line-height: 21.7778px; outline: none; text-decoration: none; transition: color 0.3s;" target="_blank"><i><b>O jovem Malcolm X</b></i></a><span style="line-height: 21.7778px;">, ambos pela </span><span style="line-height: 21.7778px;">Editora Nova Alexandria</span><span style="line-height: 21.7778px;">.</span></div>
<div>
<span style="line-height: 21.7778px;"><br /></span></div>
</div>
</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/08337348869621152552noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-2986241826164358045.post-2819724251568144362013-02-04T14:35:00.000-02:002015-09-25T15:49:03.512-03:00Era uma vez ZONA SUL - Capítulo 4 - Parte 2<i>Neste capítulo de <a href="http://loja.novaalexandria.com.br/detalhes.php?prod=372&kb=1432#.UQ_l2aXC1nM">Era uma vez no meu bairro-ZONA SUL</a>, trato da da imigração espanhola
para o Brasil ao fim do século XIX. Para produzi-lo, pesquisei Extremadura,
particularmente, e, em específico, Castañar de Ibor, de onde minha família
partiu, para não mais retornar, ao fim desse século XIX. Lá as ruas recebem
nomes de pintores espanhóis e, não por acaso, a Calle Pintor Goya, é das mais
conhecidas. Valeria a pena visitar pelo Google Mapas. Região pedregosa, que
resistiu a Napoleão e foi um dos focos da guerrilha republicana
anti-salazarista.</i><br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 0cm;">
<span style="color: red; font-size: large; text-indent: 0cm;">Renata Acácia descobre pela tia Maria del Pilar que o
tempo não tem ponta, mas histórias sim.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 0cm;">
<br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 0cm;">
<b><span style="font-size: large;">PARTE 2</span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 0cm;">
<br /></div>
<span style="font-size: 11pt;">Faleceu um ano antes de fugirmos para
São Paulo, porém, esse episódio da fuga conto também mais adiante, pois antes
preciso pôr na sua mão a ponta mais antiga conhecida de nossa história
familiar, que minha avó transmitiu à minha mãe e esta a mim e a Gioconda, uma
porção de vezes, com detalhes diferentes a cada vez, mas sempre impressionantes
– acréscimos que nem sempre se encaixavam.</span><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhP6aefneOXugxq5N1tw0cvQRbdFqx7zIqwrO88IRYOGIhR-rMRd79nIbyrvIR-BfXIZXuGVKvL5B_XGaFVXUSCGsO_nxwgzD4qug3O0eoRMiSYxMoEg3Fh6NMFdqcuF1Ty-gh9eMulGAo/s1600/Napoleon+en.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="233" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhP6aefneOXugxq5N1tw0cvQRbdFqx7zIqwrO88IRYOGIhR-rMRd79nIbyrvIR-BfXIZXuGVKvL5B_XGaFVXUSCGsO_nxwgzD4qug3O0eoRMiSYxMoEg3Fh6NMFdqcuF1Ty-gh9eMulGAo/s320/Napoleon+en.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center;">
<span style="font-size: 15px;"><i><a href="http://vallisoletvm.blogspot.com.br/2011/01/napoleon-en-valladolid-el-asesinato-de.html">Napoleão em Valhadolide</a></i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-size: 11pt;">Era o ano de 1808. Os franceses tinham
invadido a Espanha e Madri estava em guerra, cada um matando os invasores como
podia: com pedra, pau, bala ou punhal; cara a cara ou em tocaia. Então, veio a
ordem dos comandantes franceses: quem for pego com arma ou fazendo arruaça,
morre, ou seja, todo mundo. Foi uma carnificina, as pessoas escorregavam no
sangue que descia pelas ruas de Madri.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-size: 11.0pt;">Uma noite, a pior das piores, quando a
fuzilaria tornava os ares da cidade um inferno para o nariz, os ouvidos e os
olhos, um menino órfão de guerra corria entre os revoltosos a levar água para uns
beberem e vinagre para outros lavarem os ferimentos. Então, fez-se um silêncio,
que foi crescendo à medida que a fuzilaria se aquietava, um silêncio enorme e
inchado, envolvente, pegajoso como petróleo, que não era de paz, que era de
presságio, de consternação.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-size: 11.0pt;">O menino foi se arrastando entre
cadáveres, uns de braços abertos para o céu noturno, outros, emborcados na
poeira, e por sobre cacos de pedras e mourões explodidos, na direção de uma luz
incrivelmente trágica, oscilante entre o amarelo e o laranja. De um ponto atrás
da fogueira, fonte dessa luz sobrenatural, oculto pela luminescência que cegava
os soldados, arregalava os olhos dos prisioneiros e banhava oleosa o conjunto
da cena na noite mais noite que a noite, viu seu irmão mais velho de bruços, morto
sobre as pernas de outro revoltoso fuzilado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-size: 11.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgKMuSl9Q1qJmAAgUQh2jVNi9-7olliR1Tj11YsnWcHS5QBpywpKUhk8ze08VOvt7mtVfJIQPSTKyUqH1Ek9z8_sgsRuPyeOj_6hXS38nIiuSYpBDQks88E5aM8Lg947w-4eq6mN1phzrA/s1600/Goya.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="241" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgKMuSl9Q1qJmAAgUQh2jVNi9-7olliR1Tj11YsnWcHS5QBpywpKUhk8ze08VOvt7mtVfJIQPSTKyUqH1Ek9z8_sgsRuPyeOj_6hXS38nIiuSYpBDQks88E5aM8Lg947w-4eq6mN1phzrA/s320/Goya.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: 11.0pt;">Os fusilamentos de 1808 - Goya</span></div>
<span style="font-size: 11.0pt;"><br /></span>
<span style="font-size: 11.0pt;">Até aquele momento, esse menino nascido
em Madri, exatamente em 1800, assistira a muitas mortes, inclusive a dos pais,
também fuzilados. Porém, a morte do único irmão, do único ente familiar que lhe
restara sobre a face da terra, o fez conhecer o verdadeiro horror do abandono,
como numa condensação instantânea de todos os horrores a que presenciara.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-size: 11.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-size: 11.0pt;">Acima e logo atrás do irmão morto,
personagens desarmados, de frente para as baionetas, aguardavam intranquilos a
descarga das armas. Suas sombras torturadas bruxuleavam na encosta da suave
elevação escolhida pelos soldados para realizar a execução.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-size: 11.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-size: 11.0pt;">O sangue de seu
irmão escorria e empapava em tinto a poeira cor de areia. Ao centro do grupo, a
espera da morte, um revoltoso de tez escura, cabelos negros, sobrancelhas
espessas, camisa espectralmente alva e calças cor de ouro, mãos furadas a prego
como um Cristo, parecia espalhar pelo mundo, com seus braços imensamente
abertos, um silêncio aterrador. Ao fundo, um céu de chumbo, ao fundo, uma
igreja de pedra, dura impassível. Era três de maio de 1808, talvez quatro da
manhã.<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-size: 11.0pt;"><br /></span>
<br />
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: 11.0pt;">Clique abaixo e vá para o</span><br />
<span style="color: blue; font-size: small; outline: none; text-decoration: none;"><b><a data-id="3032409716769996327" data-item-type="post" href="http://eraumaveznomeubairro.blogspot.com/2013/02/era-uma-vez-zona-sul-capitulo-4-parte-3.html" itemprop="url" rel="bookmark" style="outline: none; text-decoration: none;">Era uma vez ZONA SUL - Capítulo 4 - Parte 3</a></b></span><br />
<span style="color: blue; font-size: small; outline: none; text-decoration: none;"><br /></span>
<span style="color: blue; font-size: small; outline: none; text-decoration: none;"></span><br />
<div style="background-color: #fafafa; color: #333333; font-family: 'Helvetica Neue Light', HelveticaNeue-Light, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.6px; margin: 0px; outline: none; padding: 0px; text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; line-height: 21.7778px; margin: 0px; outline: none; padding: 0px; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPy6EN6wUrVjMa_9yDI4NbwLGvxtJOx-UANDVAJwAGFdw5374coEhIEtFalmCvBZL8SckSdSdVFh6zoMG9Nmsp4k2gL3GT9kKQVxfvO2h66IwcokdEVfcMO7m0-MgSJbizRRQnSceqTZDL/s1600/Jeosa-Estadao.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; color: #009eb8; display: inline; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; outline: none; text-decoration: none; transition: color 0.3s;"><img border="0" height="138" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPy6EN6wUrVjMa_9yDI4NbwLGvxtJOx-UANDVAJwAGFdw5374coEhIEtFalmCvBZL8SckSdSdVFh6zoMG9Nmsp4k2gL3GT9kKQVxfvO2h66IwcokdEVfcMO7m0-MgSJbizRRQnSceqTZDL/s1600/Jeosa-Estadao.jpg" style="-webkit-border-image: url(data:image/png; border-image-repeat: stretch; border-image-slice: 9; border-image-source: url(data:image/png; border-image-width: 9px; border: 9px none; box-sizing: border-box; display: inline-block; height: auto; margin: 10px auto; max-width: 100%; padding: 8px; position: relative;" width="200" /></a></div>
<div style="line-height: 19.6px; margin: 0px; outline: none; padding: 0px;">
<br /></div>
<b style="line-height: 21.7778px;"><a href="http://amplexosdojeosafa.blogspot.com.br/" style="color: #009eb8; display: inline; outline: none; text-decoration: none; transition: color 0.3s;" target="_blank">Jeosafá </a></b><span style="line-height: 21.7778px;">é escritor e professor Doutor em Letras pela Universidade de São Paulo. Autor de mais de 50 títulos por diversas editoras, é também autor d' </span><i style="line-height: 21.7778px;"><a href="http://amplexosdojeosafa.blogspot.com.br/2014/02/o-jovem-mandela-entrevista-galileu.html" style="color: #009eb8; display: inline; outline: none; text-decoration: none; transition: color 0.3s;" target="_blank"><b>O jovem Mandela</b></a></i><span style="line-height: 21.7778px;"> e </span><a href="http://amplexosdojeosafa.blogspot.com.br/2015/02/evoe-malcolm-x-ha-50-anos-malcolm-x-era.html" style="color: #009eb8; display: inline; line-height: 21.7778px; outline: none; text-decoration: none; transition: color 0.3s;" target="_blank"><i><b>O jovem Malcolm X</b></i></a><span style="line-height: 21.7778px;">, ambos pela </span><span style="line-height: 21.7778px;">Editora Nova Alexandria</span><span style="line-height: 21.7778px;">.</span></div>
<div>
<span style="line-height: 21.7778px;"><br /></span></div>
</div>
</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/08337348869621152552noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2986241826164358045.post-73134812482625835372013-01-30T18:06:00.001-02:002015-09-25T15:51:18.967-03:00Era uma vez ZONA SUL - Capítulo 4 - Parte 1<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjzAUT43-LaodIvX0vERXAZDoYNVPYP_njU2zw3Rv12WkcDZMgpTFBn-3fUucnAI1kNCVgyDeeLWWhRNKUSmcM4arl7-wtVkT847Ib47ul-83Z5VBqmFNnMcWCG66HY2qrHVWb51vx1RNw/s1600/Goya.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="302" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjzAUT43-LaodIvX0vERXAZDoYNVPYP_njU2zw3Rv12WkcDZMgpTFBn-3fUucnAI1kNCVgyDeeLWWhRNKUSmcM4arl7-wtVkT847Ib47ul-83Z5VBqmFNnMcWCG66HY2qrHVWb51vx1RNw/s400/Goya.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;"><i>Para alegria do leitor, o autor de <a href="http://loja.novaalexandria.com.br/detalhes.php?prod=372&kb=668#.UQp8jr_C1nM">ERA
UMA VEZ NO MEU BAIRRO - ZONA SUL</a> autorizou a publicação do Capítulo
4, em 6 partes, para que o leitor acompanhe o roteiro dramático de
imigrantes espanhóis rumo ao Brasil no fim do século XIX.</i></span></div>
<br />
<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: left;">
<span style="color: red; font-size: large;"><i>Renata Acácia descobre pela tia
Maria del Pilar que o tempo não tem ponta, mas histórias sim.</i></span><br />
<span style="color: red; font-size: large;"><i><br /></i></span></div>
</div>
<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: left;">
<span style="font-size: large;">PARTE 1</span></div>
</div>
</div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit;">Vou puxar esse fio, minha Renata Acácia,
pela ponta que minha mãe, sua avó Encarnación, me deu, recebida de minha avó,
Esperanza. Antes disso, é o escuro do tempo sem pontas que, por isso, não dá
para pegar nem repassar. Quando o meu Euclides faleceu, usei um tanto da pensão
que ele me deixou para ir à Espanha.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi1GJJrB39zhg6STj3L5Jdrv0z7zQH_lzun1ZEVlpmZv4FieXH_Ue3q65bjaNAkiB-SNWkq1Cn3xgAjyPT2-pon1aOctn7scl16DbLk11dXMiPZf4ejtBlrb5n7yTqPtjhS_whggiDbTII/s1600/001.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi1GJJrB39zhg6STj3L5Jdrv0z7zQH_lzun1ZEVlpmZv4FieXH_Ue3q65bjaNAkiB-SNWkq1Cn3xgAjyPT2-pon1aOctn7scl16DbLk11dXMiPZf4ejtBlrb5n7yTqPtjhS_whggiDbTII/s200/001.jpg" width="125" /></a><span style="font-family: inherit;">Para quê? Para fazer o mesmo que a traz
aqui: buscar uma ponta para atar o fio partido de minha, de nossa história.
Encontrar pontas soltas e emendá-las, como sabe, pode não resolver os problemas
da vida, mas resolve os problemas das histórias, que, afinal, dão coerência à
vida. Mas não adiantou, essa ponta ficou solta e dou por certo que assim
ficará. O lugar de onde sua bisavó partiu se esvaziou com as imigrações
crônicas e com a guerra civil. Não há lá ninguém que saiba dos Del Pilar ou
Bote.<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: inherit;">Castañar de Ibor, na província autônoma
de Extremadura, é um povoado muito pequeno. Se não desapareceu ainda é por
milagre. Tem talvez uns mil e quinhentos habitantes, se tanto. Quem pode, migra
para cidades maiores, principalmente os jovens. Foi daí que minha avó partiu
rumo ao Brasil com minha mãe, sua filha única, em 1896. Na </span><i style="font-family: inherit;">calle</i><span style="font-family: inherit;"> Pintor Goya , como se chama atualmente a rua em que morou
(esse artista retratou Os Fuzilamentos de 3 de Maio de 1808), não localizei
ninguém da família, nem quem me oferecesse informação útil. Avó Esperanza tinha
trinta e cinco anos de idade e minha mãe apenas nove, quando viram o mar pela
primeira vez, da amurada de um navio superlotado e imundo, em que cargas,
caixotes, bagagens e gente se misturavam ao fedor de corpos sem banho, vômito,
urina e excrementos, assim dizia.</span></div>
</div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: inherit;">Avó Esperanza era alfabetizada, mas a
maioria de seus companheiros de viagem destinados para as fazendas de café e
algodão do interior de São Paulo, não. Todos vieram de regiões pobres da
Espanha iludidos pela conversa de agenciadores de mão-de-obra, segundo os quais
um país encantado, de terras sem fim e sem dono, aguardava para ser ocupado por
gente trabalhadora. Chegando aqui, o regime foi terrível: trabalho de sol a sol
para se comer mal, dormir pouco e acumular dívidas no armazém da fazenda. E ai
de quem tentasse fugir antes de completar os dez anos de contrato ou, depois de
completá-los, ir embora sem pagar as dívidas no armazém da fazenda.</span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg3SqcKvihwY5usLtcxpOtQCWQMp6QAolo3ypiQwWESjBCFbuWvff16uMCGD5Yq-g1nAZoO6Pu49mv_1HxnDQDRUCgBOnVH3l1NJsX1qCPE-23ZBL1Z6S9Su9eYgjagnwo01UNuUY7_d5I/s1600/Castanar+de+ibor.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="265" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg3SqcKvihwY5usLtcxpOtQCWQMp6QAolo3ypiQwWESjBCFbuWvff16uMCGD5Yq-g1nAZoO6Pu49mv_1HxnDQDRUCgBOnVH3l1NJsX1qCPE-23ZBL1Z6S9Su9eYgjagnwo01UNuUY7_d5I/s400/Castanar+de+ibor.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<i style="font-size: small;">Castañar de Ibor, Extremadura, ESPANHA</i></div>
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">Avó Esperanza se livrou dessa escravidão
graças ao idioma português, que aprendeu rápido. Virou uma espécie de
professora nas fazendas de café da região de Ribeirão Preto. E proibiu que se
falasse espanhol em casa. Minha mãe esqueceu completamente o idioma em que foi
alfabetizada. Já mocinha, o dono de uma fazenda de algodão de Sarandi, lugar
que nem existe mais, na região de Jardinópolis, viúvo e sem filhos, quis se
“casar” com minha mãe. Minha avó não pôs impedimento, mamãe aceitou. Eu, sua
mãe, que foi Neusa até os oito anos, mas depois virou Gioconda, quando do
registro no cartório civil para entrar na escola, seu tio Ocíbio, por nós
chamado apenas de Cíbio, o mais velho de nós, e sua tia Letícia nascemos desse
casamento sem papel, sem igreja, sem nada, nem amor.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit;">“Tia Letícia? ”, você vai perguntar.
Sim, você teve uma tia Letícia, que em latim significa “alegria”. A primeira
filha de sua avó com esse fazendeiro. No momento oportuno, falarei dela. Tenho
seis anos a mais que sua mãe. Avó Esperanza ficou em Ribeirão Preto, mas vinha
nos visitar com frequência, com suas histórias impressionantes e sua memória de
prodígios.</span><span style="font-size: 11pt;"><o:p></o:p></span><br />
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: inherit;">Clique abaixo e vá para o</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: blue; outline: none; text-decoration: none;"><a data-id="281972425156814436" data-item-type="post" href="http://eraumaveznomeubairro.blogspot.com/2013/02/renata-acacia-descobre-pela-tia-maria.html" itemprop="url" rel="bookmark" style="outline: none; text-decoration: none;"><b>Era uma vez ZONA SUL - Capítulo 4 - Parte 2</b></a></span></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="background-color: #fafafa; color: #333333; font-family: 'Helvetica Neue Light', HelveticaNeue-Light, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.6px; margin: 0px; outline: none; padding: 0px; text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; line-height: 21.7778px; margin: 0px; outline: none; padding: 0px; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPy6EN6wUrVjMa_9yDI4NbwLGvxtJOx-UANDVAJwAGFdw5374coEhIEtFalmCvBZL8SckSdSdVFh6zoMG9Nmsp4k2gL3GT9kKQVxfvO2h66IwcokdEVfcMO7m0-MgSJbizRRQnSceqTZDL/s1600/Jeosa-Estadao.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; color: #009eb8; display: inline; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; outline: none; text-decoration: none; transition: color 0.3s;"><img border="0" height="138" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPy6EN6wUrVjMa_9yDI4NbwLGvxtJOx-UANDVAJwAGFdw5374coEhIEtFalmCvBZL8SckSdSdVFh6zoMG9Nmsp4k2gL3GT9kKQVxfvO2h66IwcokdEVfcMO7m0-MgSJbizRRQnSceqTZDL/s1600/Jeosa-Estadao.jpg" style="-webkit-border-image: url(data:image/png; border-image-repeat: stretch; border-image-slice: 9; border-image-source: url(data:image/png; border-image-width: 9px; border: 9px none; box-sizing: border-box; display: inline-block; height: auto; margin: 10px auto; max-width: 100%; padding: 8px; position: relative;" width="200" /></a></div>
<div style="background-color: #fafafa; color: #333333; font-family: 'Helvetica Neue Light', HelveticaNeue-Light, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.6px; margin: 0px; outline: none; padding: 0px; text-align: justify;">
<b style="line-height: 21.7778px;"><a href="http://amplexosdojeosafa.blogspot.com.br/" style="color: #009eb8; display: inline; outline: none; text-decoration: none; transition: color 0.3s;" target="_blank">Jeosafá </a></b><span style="line-height: 21.7778px;">é escritor e professor Doutor em Letras pela Universidade de São Paulo. Autor de mais de 50 títulos por diversas editoras, é também autor d' </span><i style="line-height: 21.7778px;"><a href="http://amplexosdojeosafa.blogspot.com.br/2014/02/o-jovem-mandela-entrevista-galileu.html" style="color: #009eb8; display: inline; outline: none; text-decoration: none; transition: color 0.3s;" target="_blank"><b>O jovem Mandela</b></a></i><span style="line-height: 21.7778px;"> e </span><a href="http://amplexosdojeosafa.blogspot.com.br/2015/02/evoe-malcolm-x-ha-50-anos-malcolm-x-era.html" style="color: #009eb8; display: inline; line-height: 21.7778px; outline: none; text-decoration: none; transition: color 0.3s;" target="_blank"><i><b>O jovem Malcolm X</b></i></a><span style="line-height: 21.7778px;">, ambos pela </span><span style="line-height: 21.7778px;">Editora Nova Alexandria</span><span style="line-height: 21.7778px;">.</span></div>
</div>
<div style="background-color: #fafafa; color: #333333; font-family: 'Helvetica Neue Light', HelveticaNeue-Light, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.6px; margin: 0px; outline: none; padding: 0px; text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/08337348869621152552noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2986241826164358045.post-35341019018573359592012-07-23T11:47:00.000-03:002012-10-03T07:26:14.770-03:00ZONA SUL: UM MUNDO DE INCONGRUÊNCIAS<br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjILCNXWODXcXy00Fo63DW_KGqu4QN7VQFGI8qae9sJHpxDfgGxArf58yKuFc6rgZJZLuuTm0BJJPAPuWGrRMv2Lp3q0NgTP1XBIIFGXaHGrLZw8xeOIABEtwyiKwaPzxSrfwDqY_PNeFI/s1600/001.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjILCNXWODXcXy00Fo63DW_KGqu4QN7VQFGI8qae9sJHpxDfgGxArf58yKuFc6rgZJZLuuTm0BJJPAPuWGrRMv2Lp3q0NgTP1XBIIFGXaHGrLZw8xeOIABEtwyiKwaPzxSrfwDqY_PNeFI/s320/001.jpg" width="201" /></a><span style="font-family: Calibri;"><em>Nova entrevista com o autor de <a href="http://loja.novaalexandria.com.br/produtos.php?opc=3&subcateg=70"><b>ZONA SUL</b></a>, terceiro romance da série Era uma vez no meu bairro, lançado d</em></span><em style="font-family: Calibri;">ia 15 de agosto de 2012, no stand da editora Nova
Alexandria, na 22ª. Bienal Internacional
do Livro.</em><br />
<em style="font-family: Calibri;"></em><br />
<em style="font-family: Calibri;">Na ocasião, JeosaFá leu um capítulo do livro. Na foto, o autor troca seu romance Zona Sul com lançamento <a href="http://loja.novaalexandria.com.br/detalhes.php?prod=371&kb=234"><b>História de Contar o Brasil</b></a>, de Rolando Boldrim, também autor da editora Nova Alexandria.</em><br />
<em><span style="font-family: Calibri;"></span></em><br />
<em><span style="font-family: Calibri;">Neste Zona Sul, imigração espanhola e corrupção nas obras da linha lilás do Metrô de São Paulo se articula no pano de fundo de obras de artes plásticas que formaram o imaginário do ocidente e do Brasil nos últimos séculos.</span></em><br />
<em><span style="font-family: Calibri;"></span></em><br />
<em><span style="font-family: Calibri;">Personagens da vida real tais como o governador do estado e o reitor da USP contracenam com outros saídos de quadros de pintores brasileiros e estrangeiros. Documentos oficiais, reportagens de jornais, manifesto de artistas formam uma colcha de retalhos bem costurada, cujos sentidos caberá ao leitor avaliar.</span></em><br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6_Ne-9BhAb6zd-AC8S1u9z6ccVisi1x-o0hSR1bomj0baX8_5mvxRfTrbIAwjrrGS7E3hNPKa-Lj8tISWlwm8mfu2FcIiwQiPc-HIL8LgnxOAzY3wAEkCL5pTSak-OUrMDnLV8ZTR67U/s1600/Jeosa-Boldrin.png" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6_Ne-9BhAb6zd-AC8S1u9z6ccVisi1x-o0hSR1bomj0baX8_5mvxRfTrbIAwjrrGS7E3hNPKa-Lj8tISWlwm8mfu2FcIiwQiPc-HIL8LgnxOAzY3wAEkCL5pTSak-OUrMDnLV8ZTR67U/s1600/Jeosa-Boldrin.png" /></a><br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6_Ne-9BhAb6zd-AC8S1u9z6ccVisi1x-o0hSR1bomj0baX8_5mvxRfTrbIAwjrrGS7E3hNPKa-Lj8tISWlwm8mfu2FcIiwQiPc-HIL8LgnxOAzY3wAEkCL5pTSak-OUrMDnLV8ZTR67U/s1600/Jeosa-Boldrin.png" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"></a>
<span style="font-family: Calibri;"><strong>Renata Vila Sabrina</strong> (RVS): Enfim, Zona Sul chega ao público.
Que capítulo pretende leu no lançamento?</span><br />
<div>
<span style="font-family: Calibri;"><br /></span><span style="font-family: Calibri;"><strong>JeosaFÁ</strong>: O quarto capítulo.<o:p></o:p></span><br />
<br />
<span style="font-family: Calibri;"><strong>RVS</strong>: Alguma razão especial?<o:p></o:p></span><br />
<br />
<span style="font-family: Calibri;"><strong>JeosaFÁ</strong>: Não sei se é razão especial, mas, do ponto de vista
cronológico, esse capítulo contém a ponta mais longínqua da série e é uma
espécie de repositório dos temas e conflitos que se desdobram em todos os
romances da série.<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: Calibri;"><br /></span>
<span style="font-family: Calibri;"><strong>RVS</strong>: Então, pode-se dizer que, se a série <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Era uma vez no meu bairro</i> tivesse sido
escrita, do ponto de vista cronológico, linearmente, esse seria o capítulo um?</span><br />
<br />
<span style="font-family: Calibri;"><strong>JeosaFÁ</strong>: Sim, seria. Acontece que o enredo não é linear,
então, só se descobre os eventos do passado, mesmo o mais distante, à medida que
se avança na narrativa, em que o jogo de tempos forma uma espécie de roteiro de
leitura.<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: Calibri;"><strong>RVS</strong>: Não pode haver incongruências nessas idas e vindas na
linha do tempo?<o:p></o:p></span><br />
<br />
<span style="font-family: Calibri;"><strong>JeosaFÁ</strong>: Como “pode haver”? Desde o ZONA NORTE, primeiro
romance da série, as incongruências são a matéria do que escrevo! Gosto de
testar até onde o escritor pode ir nas mentiras e verdades que conta. Por exemplo,
no Zona Norte, faço um rio, o Cabuçu, correr na direção da fonte, não da foz,
mas leitor nenhum reclamou. Com relação a eventos possíveis de serem
averiguados historicamente, procuro construir um quadro convincente, mas se
alguém quiser fazer o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">check list</i>,
perceberá, em alguns, um certo, mesmo sutil, deslocamento, enquanto outros
estão simplesmente fora do lugar. Também até aqui ninguém reclamou disso.</span><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj6SNW1-OVLe44f6n4W6koWjqK37PcS31w3v2-WJOyg1SoL4XgaUGbuEKwDTHWQcEf_nOORD0j9ORNsDuA5mKrvDCJKqj3GcCyt4YVqbMjLeHILD4JnqYRT8txJnLXUOWea07jFGLBKM_M/s1600/Borba-Gato-1.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj6SNW1-OVLe44f6n4W6koWjqK37PcS31w3v2-WJOyg1SoL4XgaUGbuEKwDTHWQcEf_nOORD0j9ORNsDuA5mKrvDCJKqj3GcCyt4YVqbMjLeHILD4JnqYRT8txJnLXUOWea07jFGLBKM_M/s1600/Borba-Gato-1.jpg" /></a><br />
<span style="font-family: Calibri;"></span><br />
<span style="font-family: Calibri;"><strong>RVS</strong>: Com relação a esse particular, então, o que o leitor
pode esperar.<o:p></o:p></span><br />
<br />
<span style="font-family: Calibri;"><strong>JeosaFÁ</strong>: Mais do mesmo, porém, mergulhando no desafio à aritmética
e não poupando, mesmo, o absurdo.<o:p></o:p></span><br />
<br />
<span style="font-family: Calibri;"><strong>RVS</strong>: Com assim?<o:p></o:p></span><br />
<br />
<span style="font-family: Calibri;"><strong>JeosaFÁ</strong>: Em alguns momentos, o leitor é prevenido por
personagens, aberta, claramente, de que não se deve confiar demais em
narrativas cujas peças não se encaixam. Então, faço simplesmente uma
brincadeira com o leitor, espécie de jogo dos erros: monto um capítulo - esse que
lerei na Bienal - muito calcado na história, apoiado em depoimentos e pesquisa
bibliográfica (mas profundamente humano, emotivo, mesmo cruel de tão pungente - e aqui a opinião não é só minha, mas também a daqueles para quem o li)
em que a aritmética é simplesmente jogada às favas. Qual o resultado?<o:p></o:p></span><br />
<br />
<span style="font-family: Calibri;"><strong>RVS</strong>: Sim, qual o resultado?<o:p></o:p></span><br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Calibri;"><strong>JeosaFÁ</strong>: O resultado é que todos que leram ou me ourviram ler esse episódio se
emocionaram muitíssimo, inclusive o leitor crítico. É comum, quando o leio, as
pessoas chorarem. Eu mesmo, quando o escrevi, subi diversas vezes do porão de
casa para tomar água na cozinha para me refazer antes de retomar a escrita, a história do velho Ocíbio me emocionou e se escreveu através de mim em uma noite, das 19 às 23 horas, num só fluxo, que inclusive preservei na forma da escrita, em que as vozes se atropelam para ir de Madri a Gibraltar em noventa e seis anos de vida de um giramundo.</span></div>
<span style="font-family: Calibri;"><strong>RVS</strong>: Mas e quanto à aritmética?<o:p></o:p></span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjYWSQ2SgAbFiMq_YHRb3zmBjmwhnDGgklUOOSJE1qCQf1_LQWyr_jG1iuxpl2C6OI3fCqL6ubC-sX4H3LuqNt_SbQZgWFJLRMuXOnwmPHaudP8JB7s36MWHS3C1G-rGR9XAY3u3bP-fkA/s1600/250px-Escher's_Relativity.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjYWSQ2SgAbFiMq_YHRb3zmBjmwhnDGgklUOOSJE1qCQf1_LQWyr_jG1iuxpl2C6OI3fCqL6ubC-sX4H3LuqNt_SbQZgWFJLRMuXOnwmPHaudP8JB7s36MWHS3C1G-rGR9XAY3u3bP-fkA/s1600/250px-Escher's_Relativity.jpg" /></a></div>
<br />
<span style="font-family: Calibri;"><strong>JeosaFÁ</strong>: Pois é, joguei às favas, mas ninguém, ninguém
percebeu. E é tão claro que me espanto, pois é uma espécie de piada que passou
despercebida. Mas isso não ocorre só nesse capítulo: a vida em São Paulo não
tem pé nem cabeça. Se formos buscar incongruências a cada passo que damos por
nossas ruas, chegamos à conclusão de que esta cidade é impossível. No entanto,
todo dia abrimos nossas janelas e lá está ela, essa imensa cidade incongruente,
com seus habitantes que já fizeram como eu há muito: atiraram às favas a
coerência para viver melhor.<o:p></o:p></span><br />
<br />
<span style="font-family: Calibri;"><strong>RVS</strong>: Então, pode-se dizer que a incongruência é uma espécie
de personagem dessa série?<o:p></o:p></span><br />
<br />
<span style="font-family: Calibri;"><strong>JeosaFÁ</strong>: Não, personagem, não. Ela compõe fortemente o clima
que envolve tudo: personagens, deslocamentos temporais, cenários, enredo, fatos
particulares e eventos gerais, intencionalidades... Ela faz parte dos diálogos,
dos discursos. Cabe ao leitor decidir, ou talvez sentir, até que ponto esses
diálogos e discursos são merecedores de crédito, mesmo quando uma personagem,
avisando que as peças não encaixam, elas realmente não se encaixam [aqui o
autor dá uma sonora gargalhada].<o:p></o:p></span><br />
<br />
<span style="font-family: Calibri;"><strong>RVS</strong>: Quer dizer que ZONA SUL busca emocionar, fazer o leitor
verter lágrimas por sobre as incongruências da vida...<o:p></o:p></span><br />
<br />
<div style="clear: both; text-align: left;">
<span style="font-family: Calibri;"><strong>JeosaFÁ</strong>: Não sei se da vida, mas dos discursos, seguramente.
Mas não apenas chorar, porque não escrevi um romance para isso, ou não somente
para isso. Há espaço, não pequeno, para o humor, como na vida: nem sempre se
está para lágrimas, nem sempre para o riso.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<span style="font-family: Calibri;"><strong>RVS</strong>: Como amarra esse mar de incongruências?<o:p></o:p></span><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg9HLzUFn_cdngoBdztlOqOEpR8R9qy3_sNO-iPVBpXNi9iqnfbqg5L4vbzFVgf7R13Xg1q8fOIKJ48nyaKXtZCaOH0K4g8n1AEhRb-o3L0u-hxsmBtFqBQ_qXEnhUH-99ptXn-JZTXuFw/s1600/mostra_imagem.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg9HLzUFn_cdngoBdztlOqOEpR8R9qy3_sNO-iPVBpXNi9iqnfbqg5L4vbzFVgf7R13Xg1q8fOIKJ48nyaKXtZCaOH0K4g8n1AEhRb-o3L0u-hxsmBtFqBQ_qXEnhUH-99ptXn-JZTXuFw/s320/mostra_imagem.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: Calibri;"><strong>JeosaFÁ</strong>: Neste romance, especificamente, de duas maneiras. A
primeira, como tem de ser, literariamente, pondo o efeito estético, de
convencimento por meio das palavras, no centro do espetáculo: toda ciência e
arte mobilizadas, servem ao propósito de puxar o leitor para mundo dos
personagens: não importa o quão incoerente, incongruente, impossível seja esse
mundo, o que importa é que funcione enquanto poder de encantamento por meio da
palavra artística. A segunda maneira de amarrar isso tudo, melhor seria dizer
não “amarrar”, mas “libertar” isso tudo, é a opção que fiz de empregar eventos
históricos e contemporâneos, por um lado, e as artes plásticas como pano de
fundo, de outro. De posse desses recursos: o encantamento por meio da palavra
escrita, os eventos de inegável comprovação histórica e a placenta oferecida
pelas artes plásticas construí, ou melhor, literalmente pintei e bordei – acho que
sem querer fiz um trocadilho [novamente uma gargalhada descompensada].<o:p></o:p></span><br />
<br />
<span style="font-family: Calibri;"><strong>RVS</strong>: Com relação às artes plásticas...<o:p></o:p></span><br />
<br />
<span style="font-family: Calibri;"><strong>JeosaFÁ</strong>: Comparece na quase totalidade dos capítulos. Mas para
aqueles em que a citação é mais explícita, há no livro, logo no início, uma
tábua de obras de artes plásticas, para maior comodidade do leitor.</span><br />
<br />
<span style="font-family: Calibri;"><strong>RVS</strong>: E quanto aos eventos históricos empregados para
corroborar os absurdos e incongruências de efeito estético?<o:p></o:p></span><br />
<br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiltgfrbRqj84jPjInV1BZWxWD_n8a8LLe8Ad3aHDFN1WwlyaIvhoRBNwD-ksGA3rUDAX1SVpZPDFSbmVICC7LwerNEB5GjV2ulkMN07dGeCMlkEgZZJm19uiqGnWrcswLsv6tzOykLiiM/s1600/linha_lilas.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiltgfrbRqj84jPjInV1BZWxWD_n8a8LLe8Ad3aHDFN1WwlyaIvhoRBNwD-ksGA3rUDAX1SVpZPDFSbmVICC7LwerNEB5GjV2ulkMN07dGeCMlkEgZZJm19uiqGnWrcswLsv6tzOykLiiM/s1600/linha_lilas.jpg" /></a><span style="font-family: Calibri;"><strong>JeosaFÁ</strong>: Há dois centros, um afastado no tempo, no início do
século XIX, na Espanha ocupada pelos franceses, e diz respeito à imigração
espanhola para o Brasil. O outro centro, contemporâneo, é constituído pelas obras da linha
lilás do metrô de São Paulo, sob a estátua de Borba Gato.</span><br />
<br />
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Calibri;"><strong>RVS</strong>: Essa que tem sido objeto da imprensa, por causas dos
sucessivos escândalos?<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: Calibri;"><br /></span></div>
<div style="text-align: left;">
</div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Calibri;"><strong>JeosaFÁ</strong>: Isso.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<span style="font-family: Calibri;"><strong>RVS</strong>: E esses escândalos, são abordados?</span><br />
<span style="font-family: Calibri;"><br /></span>
<span style="font-family: Calibri;"><strong>JeosaFÁ</strong>: Quem ler o romance descobrirá que há mais coisas
debaixo daquela estátua do que a imprensa tem conseguido esconder.<o:p></o:p></span></div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/08337348869621152552noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2986241826164358045.post-605396043362360082012-06-13T14:57:00.002-03:002012-07-05T17:36:30.327-03:00UMA FRONTEIRA DE MUITOS CONTRABANDOS<div style="border: currentColor;">
<span style="font-size: large;">Embora</span> o lançamento do romance Zona Sul, da série <em>Era uma vez no meu bairro</em>, estivesse programado para o mês de maio, o cronograma foi alterado. Particularidades relacionadas à produção gráfica são as culpadas. É por isso que eu tenho que vir a este espaço, com a cara lavada, para justificar e me desculpar, mas também informar que o livro será lançado na Bienal Internacional do Livro, em São Paulo, de 9 a 19 de agosto, no <em>stand</em> da <a href="http://www.novaalexandria.com.br/materias.php?cd_materias=551&codant=50&hl=era+uma+vez&cd_secao=52&busca=1#551">Editora Nova Alexandria</a>.</div>
<div style="text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgNitIee_MN6SqkHrqcZwnezwpGVPCA-cGEmjBQcI9HssxtS1owpG2V8J8tpKDUMv0ODBgZOomnwDGuMLiM0qjGcIhSdDaXVKoJinp8CEau9JrGv_yCFqRvovrOmBoW-SqLtuWvLIEar2w/s1600/Vladimir+Kush-Cavalo+de+Troia.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="244" pca="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgNitIee_MN6SqkHrqcZwnezwpGVPCA-cGEmjBQcI9HssxtS1owpG2V8J8tpKDUMv0ODBgZOomnwDGuMLiM0qjGcIhSdDaXVKoJinp8CEau9JrGv_yCFqRvovrOmBoW-SqLtuWvLIEar2w/s320/Vladimir+Kush-Cavalo+de+Troia.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="border: currentColor; clear: both; text-align: center;">
<span style="font-size: x-small;">Vladimir Kush. <em>Cavalo de Troia</em></span><br />
</div>
<div style="border: currentColor; clear: both; text-align: left;">
<span style="font-size: large;">Sucede</span> que ZONA SUL faz referências diretas a inúmeras obras de artes plásticas (ver postagens anteirores), umas clássicas, outras menos conhecidas, cuja a indicação, para melhor conforto do leitor, demandou tempo e neurônios. Resolvida essa questão, o livro está pronto, agora aguardando ansiosamente o encontro fatídico com o público.Na Bienal, o autor conversará com os leitores sobre aspectos relacionados à pesquisa histórica, geográfica e iconográfica que forneceu os elementos para composição da ficção.<br />
<br />
<span style="font-size: large;">Essa</span> sutil alteração no crongrama de lançamento resultou em um maior esmero na produção editorial da obra, que, além do trabalho de linguagem literária cuidadoso, amaparado em rigorosa pesquisa, particularmente sobre a imigração espanhola para o Brasil, força ao limite as fronteiras sempre movediças entre realidade e ficção.<br />
<br /><span style="font-size: large;">Os contrabandos</span> de fatos reais para o campo da ficção e de invenções artísticas para o terreno da realidade realizados pelo autor compõem um tecido que, se a certa distância se afigura homogêneo, de perto é uma colcha de retalhos cuidadosamente costurada, a desafiar a acuidade de leitura e a provocar o repertório visual e de imaginação do leitor.</div>
<br />
<div style="text-align: center;">
<img border="0" height="320" pca="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgCIuO0IWu3vjKVNhUQaiwX-FgfEnmXgOPwG6QQUrb6nXuy5w__vI3kBfJmhjGTSEvUvJUY_DxzgFmorLi_C0ZSse_cbTyKyKOt9yjBwvrDWodnOX4QqDAYK1VnZxkZu57xotoHIdNPo9M/s320/Murillo-Menino+catando+piolho.jpg" width="265" /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="font-size: x-small;">Murillo. <em>Jovem mendigo</em> (<em>Menino catando piolhos)</em></span></div>
<br />
<span style="font-size: large;">Este</span> <span style="font-size: large;">ZONA SUL</span> virá acompanhado de uma <em>Tábua de Obras de Artes Plásticas</em>, o que é uma diferença em relação aos volumes Zona Norte e Zona Leste. A isso o autor responde que cada romance da série tem sua própria natureza e sua própria forma - isto sem perder os sutis fios quase invisíveis que unem todos os romances de <em>Era uma vez no meu bairro</em>.<br />
<br /><span style="font-size: large;">Fico</span> por aqui, com minha cara lavada, e até breve, caros raidouvintes, quando entrarão no ar novidades sobre este lançamento na Bienal.<br />
<div style="text-align: center;">
<br /><span style="font-size: large;"><span style="color: red;">Renata VS</span> </span></div>
<div style="text-align: center;">
<em><span style="color: #cc0000; font-size: large;">Ombudswoman da periferia</span></em></div>
<br />
<div style="text-align: center;">
<span style="color: magenta; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Leia também ensaios de literatura e educação em</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: blue; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;"><a href="http://amplexosdojeosafa.blogspot.com/">Amplexos do Jeosafá</a></span></div>
<div class="separator" style="border: currentColor; clear: both; text-align: center;">
</div>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/08337348869621152552noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2986241826164358045.post-27527488376021983682012-04-17T10:33:00.000-03:002012-11-27T14:46:54.941-02:00ESCÂNDALO DO METRÔ DE SÃO PAULO DÁ BOA MATÉRIA PARA FICÇÃO?<br />
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 21.3pt;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="MsoNormal">
<i> </i><i>Em nova entrevista,
autor de </i>ZONA SUL<i>, da série </i>Era uma vez no meu bairro<i>, discute a fronteira
cinzenta entre as notícias do jornal sobre recente escândalo do Metro de São Paulo e seu novo romance.</i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEitppQZsv4QYoYKUUHaWxR7VyvC3vr3Rf08c8-GQQD1v1lWl16XtUZIvByqCJ36b7cudbmUr9a_pr3A9wNzVMbJlU8ml1sI0R_OV0JZyiQbkB3zcwWK-CvvjxsBZUOpImT9TBlIezAkX7s/s1600/Semin+%C3%ADrio+Jeosaf+%C3%AD+Fernandes+061.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEitppQZsv4QYoYKUUHaWxR7VyvC3vr3Rf08c8-GQQD1v1lWl16XtUZIvByqCJ36b7cudbmUr9a_pr3A9wNzVMbJlU8ml1sI0R_OV0JZyiQbkB3zcwWK-CvvjxsBZUOpImT9TBlIezAkX7s/s320/Semin+%C3%ADrio+Jeosaf+%C3%AD+Fernandes+061.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 21.3pt;">
<i></i></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 21.3pt;">
<i><br /></i></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 21.3pt; text-indent: -21.3pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Renata Vila Sabrina (RVS)</b>: Por que decidiu
revolver esse pântano que são as obras do metrô de São Paulo para escrever um
romance de ficção. São Paulo não oferece coisa melhor?</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 21.3pt; text-indent: -21.3pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">JeosaFÁ</b>: Na verdade, São Paulo oferece
muitas coisas melhores e muitas ainda piores. Mas a questão não é essa. A
questão é que eu tinha um planejamento antigo para essa série de romances. Há
anos eu tinha decidido por aquela região para situar o romance ZONA SUL, o
monumento do Borba Gato, inclusive, já estava no elenco. Coincidiu de um mar de
lama brotar das obras do metrô que estão sendo realizadas sob seu pedestal.
Então, como é que eu ia deixar isso de fora?</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 21.3pt; text-indent: -21.3pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">RVS</b>: Por que não? Não é uma ficção? Então você poderia simplesmente ignorar.</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 21.3pt; text-indent: -21.3pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">JeosaFÁ</b>: Mas aí reside um problema.
Gosto de situar minhas histórias bem na fronteira entre a ficção e a
realidade, de maneira que uma esbarre na outra. E gosto também de registrar
além de aspectos de linguagem de época, que é um certo trabalho filológico, elementos geográficos, políticos, de
costumes, que confiram à obra uma identidade temporal inequívoca.</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 21.3pt; text-indent: -21.3pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">RVS</b>: Mas aí não se invade o terreno da
notícia de jornal?</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 21.3pt; text-indent: -21.3pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">JeosaFÁ</b>: Sem dúvida, há esse risco, e
eu o assumo completamente. Porém, literatura sem risco não tem graça. Destacar
da realidade um fato, um evento da realidade pode resultar em prosaísmo e
banalidade, porém, pode também grarantir o registro poético de um tempo bom ou ruim, que
pode ser revivido literariamente, que pode ser objeto de um tipo de reflexão e de uma fruição
que o jornalismo, estrito senso, não propicia.</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 21.3pt; text-indent: -21.3pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">RVS</b>: Quanto desse fato você
pesquisou para abordá-lo no romance ZONA SUL.</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 21.3pt; text-indent: -21.3pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">JeosaFÁ</b>: Essa fraude do Metrô eu
acompanho desde o início, lá atrás, quando a Alston foi denunciada em fórum
internacional por corromper políticos pelo mundo para derrotar suas
concorrentes. Porém converter isso em assunto literário foi um processo em que
tomaram parte pesquisa e acidente.</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 21.3pt; text-indent: -21.3pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">RVS</b>: Acidente?</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 21.3pt; text-indent: -21.3pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">JeosaFÁ</b>: Sim, acidente. Li e reuni
muito material sobre esse assunto, porém, no momento de escrever, alguns
personagens foram em uma direção diferente da que eu havia planejado. Para
falar a verdade, o final desse romance foi uma surpresa para mim, pois as
soluções foram surgindo em cascata e, quando me dei conta, um último episódio
surgiu inteiro amarrando tudo sem que eu tivesse, ao menos conscientemente,
planejado. Aliás, engraçado, agora que estamos falando sobre o assunto, também
o primeiro episódio foi assim...</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 21.3pt; text-indent: -21.3pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">RVS</b>: Assim como, acidental?</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 21.3pt; text-indent: -21.3pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">JeosaFÁ</b>: É, mais ou menos. Porque eu já
tinha idealizado todo o romance. Aliás, a série toda está idealizada faz tempo.
Porém, a matéria de cada romance eu vou produzindo concretamente a partir de
pesquisa e de muita meditação. Saio pela cidade a pé, de metrô, de ônibus ou de
caro, às vezes vou correr no parque Anhanguera, e, meio relaxado, meio concentrado, sinto os
episódios irem se escrevendo na minha sensibilidade e na minha cabeça. Porém o
primeiro capítulo eu simplesmente sonhei.</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 21.3pt; text-indent: -21.3pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">RVS</b>: Sonhou?</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 21.3pt; text-indent: -21.3pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">JeosaFÁ</b>: Isso, sonhei. Inteiro. Quem
ler esse livro saiba que o primeiro capítulo foi todo sonhado. Acordei de
manhã, tomei o café e transcrevi tal como sonhei. Mas isso já ocorreu outras
vezes. Quanto fiz meu doutoramento, na época da redação da tese, ficava tão
mergulhado na produção do texto que, em sonho, resolvia um problema ou
encontrava conexões em relação às quais as leituras e a pesquisa não tinham
apresentado resultados satisfatórios. No caso desse primeiro capítulo foi
fenomenal, porque ele simplesmente resolveu de uma só vez todas as encruzilhadas
que eu tinha armado para o romance. Depois desse sonho-episódio, em vinte dias escrevi todo
o ZONA SUL. Mas, agora conversando com você, acho engraçado que
o último capítulo tenha sido acidental tanto quanto o primeiro. Não tinha
parado para pensar nisso ainda. É realmente engraçado. Mas o acidente faz parte
da literatura, acho que de toda arte.</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 21.3pt; text-indent: -21.3pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">RVS</b>: Há alguma revelação bombástica
sobre essa questão das fraudes no metrô em no texto do ZONA SUL?</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 21.3pt; text-indent: -21.3pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">JeosaFÁ</b>: Na verdade, há várias. Porém,
a literatura de escândalo não é a minha praia. Embora uma parcela do público adore
isso, eu execro. Há revelações sobre a natureza de nossa bela sociedade, de
nossos belos políticos, de suas palavras viscosas. Mas olha, tem muita coisa lá também que é bonito, na
verdade, muito bonito, comovente, mesmo, e que não é fruto da literatura, mas
da beleza de gente que construiu esta cidade, gente de carne e osso, com
valores verdadeiros, humanos, morais, éticos...</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 21.3pt; text-indent: -21.3pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">RVS</b>: Tem a ver com imigração, de que
falou da última vez?</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 21.3pt; text-indent: -21.3pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">JeosaFÁ</b>: Isso, a imigração, esse
fenômeno dramático e maravilhoso que põe por terra todas as manifestações
racistas, preconceituosas e delirantes que com frequência ganham as páginas de
nossa grande imprensa – ela mesma adepta, às vezes enrustidamente, dessas
manifestações.</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 21.3pt; text-indent: -21.3pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">RVS</b>: Quer dizer que nesse romance a
casa de um certo tipo de gente cai?</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 21.3pt; text-indent: -21.3pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">JeosaFÁ</b>: Cai, esplendorosamente.</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 21.3pt; text-indent: -21.3pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">RVS</b>: Mas isso é dado da realidade, que
você pesquisou, ou...</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 21.3pt; text-indent: -21.3pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">JeosaFÁ</b>: É uma profecia, mas que já
está se realizando no plano da realidade. Quem viver, verá!</div>
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